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Brasil em busca de novos mercados de fertilizantes para contornar dependência russa

Responsáveis do Ministério da agricultura brasileiro disseram à Lusa que o país está a aumentar o seu portfolio de vendedores de fertilizantes para colmatar as sanções impostas à Rússia e à Bielorrússia devido à invasão da Ucrânia.

O objetivo passa por reforçar os mercados tradicionais como o Canadá, Marrocos e Irão, mas também por atacar novas oportunidades como é o caso da Jordânia, Uzbequistão, Cazaquistão e Nigéria, ao mesmo tempo que o país aposta na tecnologia para conseguir produzir mais insumos ‘made in Brasil’.

“Ter os meus ovos em três cestas dá-me um risco maior do que ter os meus ovos em 10 cestas”, afirmou à Lusa o diretor de Programa/Mapa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Luís Eduardo Rangel, acrescentando que a crise internacional fez com que o país tivesse que procurar outras fontes alternativas.

O gigante sul-americano é um dos principais ‘celeiros do mundo’, contudo é altamente dependente da importação de fertilizantes para a sua produção agrícola.

Depende em mais de 80% de importação de fertilizantes, sendo que cerca de 20% destes provem da Rússia e mais de 10% da Bielorrússia.

Ainda assim, até ao momento, não há falta de fertilizantes, “dá para fazer umas duas ou três safras reduzindo o volume de aplicação”, garantiu à Lusa o diretor de Comercialização e Abastecimento/Mapa, Silvio Farense, até porque, disse, “os navios estão chegando, até navios russos”.

Já no plano interno, e a médio longo prazo, o objetivo do Brasil terá de passar pelo aumento da produção destes insumos de forma a diminuir a dependência externa.

Por essa razão, explicou Luís Eduardo Rangel, foi criado o Plano Nacional de Fertilizantes, para colmatar a dependência com o exterior que já era sentida há 20 anos.

“Agricultura brasileira cresceu muito dos últimos 20 anos e a nossa indústria de base não cresceu na mesma proporção”, frisou.

O objetivo é nos próximos 30 anos o Brasil ter um cenário de “50% de produção nacional e 50% de importação”, aprimorando a tecnologia para aproveitar as fontes, com raios de ação menores.

Os minerais brasileiros são menos resilientes do que os importados, detalhou, por isso o Brasil “não tem nenhum interesse em ser autossuficiente”, devendo sim aproveitar sim os minerais dos outros países que são mais elevados.

“Não vou produzir no Brasil (…) se ela for mais cara para o agricultor do que trazer do Catar”, frisou, acrescentando que o foco deve ser sim tornar o país mais capaz e menos dependente em cenários de crise.

Já no capítulo das exportações do agronegócio, para já, o Brasil parece não estar a ser afetado: devido à subida generalizada dos preços, as exportações brasileiras do agronegócio registaram em março um recorde de 13,42 mil milhões de euro, um aumento de 29,4% em relação ao período homólogo de 2021 e as autoridades já anunciaram que pretendem arrecadar 240 mil milhões de euros) na produção agropecuária em 2022.

Ainda assim, explicou Silvio Farense, estes valores têm mais que ver com a subida geral dos preços do que com o aumento das exportações.

“Para nós a guerra não cria novas oportunidades, para vendas. Cria muito mais dificuldades devido à logística”, sublinhou, acrescentando que não vislumbra “espaço para aumentar mercado”.

“Estamos muito mais preocupados em achar fertilizantes”, frisou.

Nesta matéria, o Brasil parece ter ganhado na segunda-feira um apoio de peso: a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) apoiou o Brasil na defesa de exclusão das sanções internacionais de fertilizantes russos e bielorrussos, necessários para o país produzir e exportar alimentos.

“É preciso facilitar acesso aos fertilizantes a partir das regiões em conflito”, afirmou, Ngozi Okonjo-Iweala, durante uma conferência de imprensa, em Brasília, acompanhada pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França.

A razão, justificou, é o facto de os preços dos alimentos estarem a subir em praticamente todo o mundo e “se o Brasil não produzir, no próximo ano [os preços] sobem ainda mais”.

Por essa razão, e para atenuar a possível escassez e a encarecimento dos alimentos, a diretora-geral da OMC apelou aos responsáveis brasileiros que “intensifiquem e produzam mais” produtos, nomeadamente milho e soja.

Durante a conferência de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil garantiu que o país vai honrar os contratos assinados e que pode mesmo ampliar a exportação, mas para isso é preciso que os fertilizantes “cheguem ao Brasil”.


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