Adaptar, Restaurar e Expandir os Montados de Sobro e de Azinho no Alentejo é um imperativo de defesa nacional
A Iniciativa Cívica “Pro-Montado Alentejo” foi lançada em Maio de 2018 e, pela primeira vez, juntou elementos com experiência Florestal confirmada, na Produção, no Ensino, na Politica, nos Serviços, no Ambiente e na Gestão Autárquica.
Em 2019, a sua componente Ensino/Ciência foi reforçada, no que respeita à ligação entre Clima e Floresta, com o ingresso dos Prof. Filipe Duarte Santos, Rui Perdigão, Júlia Seixas e Francisco Castro Rego.
Com o agravar da situação climática no Alentejo, remeteu, recentemente, o seu diagnóstico e soluções, ao conjunto dos Partidos Políticos com assento na Assembleia da República, tendo em vista o acto eleitoral que se aproxima.
A chuva ocorrida em Março, Abril e Novembro de 2018, veio a evitar o pior, após 3 anos de seca, em particular no Alentejo litoral e baixo/interior.
Porém, se se registaram melhorias, sobretudo, nos povoamentos florestais com maiores índices de matéria orgânica no solo, em sentido oposto, povoamentos já muito degradados tiveram melhoras quase nulas.
E, em 2019, voltaram-se a registar, em várias zonas do Alentejo, valores de precipitação pouco acima dos 300 milímetros, tornando os anos secos, ou de pouca chuva, não num fenómeno ocasional, mas sim persistente.
Em Maio de 2018, a IPMAlentejo esforçou-se por comunicar ao Governo a necessidade de “segmentar a politica florestal” visto não existir apenas “Uma Floresta” em Portugal, como resultado da diversidade edafo-climática nacional.
Nessa sequência, haveria que dar atenção e recursos, à Floresta Multifuncional, em especial no Sul, gerindo, nessa conformidade, o PDR-Plano de Desenvolvimento Rural, de forma a “adaptar climaticamente” os Montados de Sobro e de Azinho existentes.
O nosso aprofundar do conhecimento e evolução da realidade climático-florestal, designadamente, nos Concelhos de Grândola, Santiago do Cacém, Alcácer do Sal e Portel, associada à persistência de anos secos, que agora são a “regra”, vem reforçar e a alargar a necessidade de atenção politica para o assunto.
Não se podendo ignorar o caracter estruturante das alterações climáticas, nem o que se faz no estrangeiro para as combater, a IPMAlentejo dirigiu carta, em 12/07/2019, a todos os Partidos Políticos com assento na Assembleia da Republica, para que adoptem o tipo de estratégia e soluções que preconizamos, integrando-as nos seus Programas Eleitorais.
Relembrando que o Alentejo é, simultaneamente, cerca de 1/3 do território continental e a zona mais exposta às alterações climáticas, tendo (dados oficiais) 99 % de susceptibilidade à desertificação e o índice de aridez a triplicar nos últimos 30 anos.
Nesta altura, regista, nalguns pontos, médias quinquenais apenas de 400 mm de chuva anual por metro quadrado.
Em resultado e por várias formas, constata-se o aumento de aridez que, se nada for feito, conduzirá esta Região à desertificação física e humana.
Há, então, que proteger esta Região da evolução negativa do clima.
Como ?
Não só adaptando e reforçando os Montados existentes, com acções de fertilidade e adensamento, entre outras, como, também, promovendo o restauro de zonas já degradadas e expandindo a área de Montado de Sobro e de Azinho, de forma a criar uma mancha florestal (autóctone) de dimensão critica.
É-que florestas continuas, densas e com expressão territorial relevante, promovem, no mínimo, um “microclima” positivo.
Se não mesmo, a promoção de alguma precipitação.
Relembra-se que, noutros pontos do planeta, se assistiu a uma quebra da precipitação, após acções de deflorestações significativas.
Ao contrário, manchas florestais contiguas, com arvoredo alto, adaptado ao calor, com copa larga e mais densas, são capazes de promover a chamada “evapotranspiração” em grande escala. O que se designa por “água–verde”.
Como também, a floresta é capaz de interceptar e remeter ao solo/subsolo, grandes quantidades de água provenientes da condensação foliar de neblinas, nevoeiros ou simplesmente de ar frio e húmido.
De alguma forma, compensando a redução da precipitação convencional.
E aumentando os stocks de água dos aquíferos, numa altura em que os mesmos, ou a sua qualidade, começam a estar em causa e a prejudicar, quer a Floresta, quer a População em geral.
Os sobreiros e as azinheiras são resilientes ao calor, mas carecem de boas condições de instalação e de protecção e, designadamente, de solos saudáveis.
Existe simbiose especial, nas quercíneas, entre árvores e solo, na produção de matéria orgânica (fixadora de água) e na protecção do solo contra extremos climáticos.
O ensombramento é vital no âmbito da resistência às alterações climáticas, ao reduzir a temperatura (e a evaporação consequente) do solo na estação quente.
O uso de técnicas especiais de infiltração é muito importante nos solos de xisto, sobretudo em ambiente de Serra.
Não pode haver concorrência hídrica permanente com o arvoredo; os matos têm de ser substituídos por árvores (em compasso suficiente) por pastagens melhoradoras, estas secas na estação quente; o risco de incêndio já é uma realidade no Sul do País.
FINALIZANDO :
-> O Alentejo, com o alargamento indesejável das “clareiras” dentro dos Montados e com algumas zonas já muito degradadas, está em processo de “deflorestação”;
-> A “deflorestação” é um processo perigoso em termos climáticos, porque promove a aridez e, em consequência, a desertificação;
-> A Iniciativa Pró-Montado Alentejo vem defender, junto das forças Políticas, o “uso” da Floresta Autóctone no Alentejo para obter a necessária amenização climática;
– Isto só será atingível através dum Programa, com prazo de 20 anos, inserido no contexto da adaptação de Portugal às alterações climáticas;
-> Programa esse, Multifundos (Floresta/ Ambiente/ Coesão), com envolvimento mínimo do Orçamento de Estado, o que não aconteceu até agora;
-> E de forma estanque e independente dos QCA (Quadros Comunitários de Apoio) ;
-> Visando-se, a Adaptação Climática dos Montados de Sobro e de Azinho no Alentejo, o Restauro de povoamentos florestais já muito degradados e a Expansão da mancha actual de quercíneas do Alentejo, de 835.000 para 1.500.000 de hectares, ocupando zonas de matos e pastagens já desarborizadas;
-> Esta “expansão” visa garantir a melhoria do microclima da região, em termos de humidade e temperatura do ar e do solo, e contribuir para um maior nível de precipitação, sobretudo, se se mantiver um continuo florestal desde a sua orla marítima e, em especial, nas serras;
-> A IPMAlentejo não vem teorizar nada de novo; há várias décadas, projectos florestais foram implantados em África para promover a amenização climática, através da FAO e foram participados por membros veteranos da nossa “Iniciativa”;
-> Os exemplos pioneiros em Israel e hoje em curso e massivos, no deserto de Gobi e noutros locais da China e na Etiópia, vem corroborar a justeza do “uso das florestas” no combate à desertificação;
-> O melhoramento e expansão dos actuais 835.000 hectares de Montados do Alentejo, através do aumento associado da matéria orgânica do solo e da fertilidade em geral, do incremento das pastagens melhoradoras e com o crescimento de árvores novas nas clareiras, não só contribuirá para uma maior captação, infiltração e fixação da água nos solos, como será muito importante para o compromisso nacional com a Neutralidade Carbónica a atingir em 2050;
-> Após, em 2018, a IPMAlentejo ter exposto a gravidade desta situação, a todos os Partidos Políticos com assento na Assembleia da República, e na Comissão Parlamentar de Agricultura, em Maio de 2019, surgiu uma primeira proposta de Resolução com teor fortemente ambiental e de luta contra a desertificação;
-> Seguir-se-iam, posteriormente, outras 2 propostas, tendo vindo a ser aprovada, por fusão, uma Resolução, por larguíssima maioria, sem enquadramento e foco no risco de desertificação no Alentejo, mas recomendando um Programa plurianual para os Montados;
-> Esperamos que a carta dirigida recentemente aos Partidos Políticos, motive o foco e as atenções, na necessidade do País centrar no Alentejo a luta contra as alterações climáticas, construindo, no Sul, uma barreira florestal, amiga do ambiente, que protegerá TODO o País.
A Comissão Coordenadora da “Iniciativa Pró-Montado Alentejo”,
13 de Agosto de 2019
Estrutura executiva da Comissão Coordenadora do IPMAlentejo:
Francisco Avillez, Eugénio Sequeira, Filipe Duarte Santos e Pedro Marques de Sousa.
Para este comunicado contribuíram, ainda, os Prof. Rui Perdigão, Júlia Seixas e Francisco Castro Rego, assim como produtores florestais e responsáveis associativos como Edite Botelho (Santiago do Cacém), António Rocha (Grândola), Carlos D’ Orey (Portel) e Francisco Garrett (Avis).