Regar ou não o milho? Na Quinta da Cholda os computadores é que decidem

A actividade agrícola é responsável por 75% da água consumida no país, mas ainda há muito a fazer pelo uso eficiente deste bem comum. Mas também há bons exemplos em Portugal. No Dia Mundial da Água mostramos-lhe o que se faz a esse nível (e não só) na Quinta da Cholda.

O dia é de sol intenso e de algum vento. Na Quinta da Cholda, em Azinhaga do Ribatejo, ouve-se o vento e as andorinhas a chilrear, enquanto voam em redor, e entre as laranjeiras vêem-se cavalos e burros a comer, imperturbáveis. À volta, os campos de milho, que constitui a produção da propriedade com 600 hectares de área dedicada à agricultura, estão tranquilos. A época para semear está a chegar, mas ainda não é hoje. Numa sala da quinta, um conjunto de computadores vai ajudar João Coimbra, responsável pela propriedade, a decidir qual será o melhor dia para iniciar a campanha. E são eles também que o fazem dizer, assim que pára o seu Tesla e se aproxima: “Hoje não se podia regar, por uma questão de eficiência.”

A culpa é do vento. O vento projecta a água da rega para onde não é suposto. E isso é desperdício. Como seria desperdício regar uma planta que, pelo seu desenvolvimento, não está a precisar. E, perante as condições atmosféricas previstas para um determinado dia, será mais eficiente regar à tarde ou à noite? Por ali, as respostas a todas estas questões fazem parte da gestão do dia-a-dia, num espaço em que as decisões são tomadas com base na recolha e análise de dados, muitos dados, que alguns computadores vão debitando, ininterruptamente.

Esta segunda-feira celebra-se o Dia Mundial da Água e João Coimbra é um dos agricultores que o estudo “O uso da água em Portugal: olhar, compreender e actuar com os protagonistas chave” – promovido pelo Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, da Fundação Calouste Gulbenkian, e realizado em parceria com o CLAB (Consumer Intelligence Lab) -, identificou como “mentor”. Conforme o PÚBLICO já revelou em Junho de 2020, o estudo concluiu que a actividade agrícola é responsável por 75% da água consumida em Portugal, mas que os agricultores ainda estão longe de a usarem de forma mais eficiente. A título de exemplo, 71% dos que foram inquiridos neste estudo, e recorrem ao regadio, não têm sequer um contador para medirem a água que usam. E 38% deles agem de forma condicionada, o que quer dizer que gerem as suas plantações colheita a colheita, são mais velhos, sem formação e pouco dados a inovações. Outros 29% são identificados como “seguidores” – são avessos ao risco e precisam de ver para crer, antes de introduzirem mudanças na forma como sempre agiram.

Nada disto tem que ver com João Coimbra. O estudo coloca-o entre os 3% que são considerados “mentores”, ou seja, os que já vão mais à frente em termos da gestão eficiente da água. Mas, basta passar algum tempo com ele na Quinta da Cholda para perceber que o que se passa ali é muito mais do que isso. […]

Continue a ler este artigo no Público.


Publicado

em

, ,

por

Etiquetas: