Os produtores de leite estão há 6 meses a suportar aumentos brutais nos custos de alimentação das vacas leiteiras. A nossa margem já era quase nula, porque recebemos o mesmo preço há mais de 20 anos e suportámos aumentos no custo da energia, da mão de obra e de todos os fatores de produção.
Perante o estado de desespero e revolta dos produtores, organizámos uma manifestação no Porto a 26 de fevereiro e em sucessivos comunicados alertámos as cooperativas, as indústrias, o poder político e o setor da distribuição para o facto de estarmos há vários meses a vender o leite abaixo do custo de produção, com o pior preço da Europa, e cada vez mais longe. Os dados mais recentes do Observatório Europeu do Leite indicam que em Maio a diferença do preço médio português para a média europeia foram 5,7 cêntimos e em junho terão sido 6 cêntimos.
Estamos com um preço médio de 30 cêntimos / kg para um custo que estimamos de 35 cêntimos. Um estudo recente do ministério da agricultura espanhol confirma esse valor. Por isso, propomos um aumento imediato de 5 cêntimos para cobrir os custos de produção.
Em carta aberta de 20 de maio, perguntámos: “Estão as empresas de distribuição disponíveis para atualizar com urgência o preço do leite e produtos lácteos aos seus fornecedores?” Não tivemos qualquer resposta. Também não vimos resposta à acusação recente feita em comunicado por ANIL e FENALAC: “A Grande Distribuição continua sistematicamente a desvalorizar o produto ao praticar as mesmas condições negociais, com a agravante de, recentemente, aumentar a pressão promocional sobre os produtos lácteos”. Pensamos que é tempo de a distribuição afirmar e demonstrar de forma efetiva que defende a produção nacional.
Vemos como positiva a reunião da PARCA – Plataforma de acompanhamento das relações na cadeia agroalimentar – que vai hoje decorrer, mas é essencial que todos os participantes levem propostas positivas e que dessa reunião surjam decisões para salvar a produção de leite. Não pode ser mais um episódio de “passa-culpas” a “sacudir a água do capote”, enquanto os produtores se endividam, adiam pagamentos e podem ser obrigados a reduzir a alimentação dos animais.
No comunicado em que anunciou a reunião da PARCA, o Ministério da Agricultura reconheceu “as dificuldades que se vêm registando no setor do leite, num contexto de significativo aumento dos custos da alimentação animal”, mas as medidas de apoio imediato anunciadas (linha de crédito e antecipação de uma ajuda já existente) não terão qualquer efeito no rendimento dos agricultores , nem devem distrair-nos do objetivo: Um preço justo para o leite produzido, superior aos custos de produção. Se não houver uma resposta imediata e positiva, a luta dos produtores terá certamente de se intensificar e endurecer.