O alto Sado enfrenta o mais grave problema de seca em Portugal, num momento em que o último índice da seca meteorológica do IPMA indica que Portugal continental manteve-se no final de agosto em situação de seca moderada, e pontualmente severa no Baixo Alentejo e no Algarve.
Há 25 anos que a seca na Bacia do Sado não era tão grave. Os agricultores não têm água para a rega há dois anos, e as culturas de arroz, tomate e milho estão paradas. O perímetro de rega servido pela barragem do Monte da Rocha não abastece a agricultura porque a albufeira encontra-se com níveis abaixo de 10% da capacidade total.
“As alterações climáticas estão a atacar severamente esta zona. Não chove há praticamente quatro anos. A média de precipitação é de 350 milímetros, quando a média de 30 anos é 600 milímetros.” As palavras são de Ilídio Martins, diretor adjunto da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado, que se diz preocupado com a severidade com que o aquecimento global se manifestou na região. “Nesta zona, a água é um bem realmente escasso, e isso tem-se refletido no armazenamento das albufeiras, nas linhas de água e nos solos”, alerta.
A associação de Campilhas, explica Ilídio Martins, “junta cinco albufeiras, mas a principal é a barragem do Monte da Rocha, que, neste momento, está com 9% da sua capacidade; o mesmo aconteceu no ano passado, portanto há praticamente dois anos a albufeira não tem reserva para rega”.
A rega foi suspensa em três mil hectares de que dependem mais de 200 famílias de agricultores, prejudicadas pela falta de rendimentos desde há dois anos. Os residentes não veem avançar as prometidas obras de transvase das águas do Alqueva para a bacia do Sado.
O diretor adjunto da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado exorta o Executivo a tomar medidas “para que se façam as ligações do Alqueva”. Neste momento, decorre uma obra de ligação à barragem que deverá estar pronta “no próximo ano, e o projeto de ligação à barragem de Monte da Rocha está atrasado, mas há a esperança de que venha a estar pronta em 2024”.
Mas essa data, lamenta Ilídio Martins, “infelizmente, para muitas pessoas é muito tarde”. A ligação “já devia estar feita e evitar-se-ia a tragédia que está a acontecer nesta zona”, comenta.
O artigo foi publicado originalmente em TSF.