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Os tempos mudam, as necessidades também, o nosso conhecimento amplia-se, a adaptação é urgente e fundamental. Fazer referência ao óbvio parece redundante mas, se fosse realmente óbvio, não estaríamos na situação de urgência ambiental e climatérica em que nos encontramos. A natureza lucrativa das organizações empresariais leva ao inevitável conflito de interesses: as indústrias de combustíveis fósseis, por exemplo, têm interesse em minimizar, ou negar, as alterações climáticas para proteger a sua agenda económica, continuando a produzir sem respeito pelo ecossistema natural. Contudo, exemplos da urgência em mudar o paradigma de exploração dos recursos naturais do Planeta não faltam, com inundações mortais ou incêndios florestais, tempestades de neve e congelamento sem precedentes, tempestades de areia ou ondas de calor inesperadas. 

O combate às alterações climáticas depende de uma abordagem inter-relacionada, cruzando relações políticas, económicas, científicas e sociais, com iniciativas governamentais de relevo. Tal não acontece mas há, contudo, iniciativas privadas que contribuem para a mudança. Acontece no sector dos vinhos, com um exemplo de um terroir adaptado, uma vinha com uma lógica diferente do habitual. Como em outros sectores de actividade, também o sector dos vinhos tem produtores que decidiram passar à acção, alterando métodos de cultivo e produção. No sector agrícola, Portugal tem vindo a conhecer iniciativas de criação de modelos de agricultura regenerativa, com resultados sociais, económicos e ambientais que contrariam as tendências negativas e que são, também, fontes de regeneração do ecossistema natural. O objectivo é devolver à natureza o que a natureza oferece, criando sistemas mais inteligentes e eficientes nesta relação. Há também produtores de vinhos que estão a desenvolver abordagens mais adequadas à vinha e à produção de vinho, com estratégias diferenciadas que valorizam castas autóctones mais resistentes, e técnicas de cultivo que preservam a biodiversidade. Da protecção ambiental, que garante a continuidade da produção, à autenticidade dos vinhos, o movimento tem ganho forma e corpo um pouco por todo o país. 

Em Alter do Chão, no distrito de Portalegre, há um projecto recente que veio plantar 4ha de vinha devidamente adaptada às condições do terreno, do clima, da altitude e que, por isso, produz vinhos que representam o autêntico carácter alentejano sem, com isso, prejudicar o ecossistema em que se encontra. É esse o caminho, numa lógica de regeneração e integração no sistema natural, com opções mais conscientes e responsáveis, adoptando modelos agrícolas e, também, vitivinícolas que respeitem os limites do planeta e os regenerem. O caso da Pista Wines, um projecto familiar, é dessa regeneração um bom exemplo: plantaram a primeira vinha em 2021 e conseguiram fazer a primeira vindima em 2022, provando que um ecossistema equilibrado é mais produtivo.  

É uma história que, além do vinho, tem um lado apaixonadamente pessoal, de regresso às raízes e de reconhecimento da importância dos laços que nos unem e à terra que nos viu nascer, de mudança completa de vida e profissão, usando essa experiência para estruturar e desenvolver um projecto assente numa paixão: a da terra, da vinha, e do vinho. Simultaneamente, é também um exemplo de como o solo é um capital tão ou mais importante do que qualquer outro tipo de riqueza, com a vantagem de que regenera ao mesmo tempo que se adapta às nossas diversas necessidades, podendo produzir vinhos de grande sabor e qualidade, ou alimento para muitas pessoas. Desta forma, também a produção do vinho, bem como a sustentabilidade da vinha e do vinho, são fundamentais neste processo de mudança de mentalidade, comportamento e atitude, e um contributo para uma nova forma de fazer as coisas que também representa um regresso ao passado, à recuperação de formas tradicionais de plantação e cultivo que também outros produtores de vinho, um pouco por todo o país, estão a adoptar. Exemplos como este, da Pista Wines, comprovam que a sustentável regeneração está mesmo na nossa mão.

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