2012, aposta decidida no mercado externo – Pedro Pimentel

Como é sabido, a contracção do poder de compra e do consumo, a pressão das marcas brancas e das cadeias de distribuição e a crescente importação de leite e produtos lácteos, tem vindo a minar sucessivamente a rentabilidade das empresas do sector lácteo.

Muitas delas, em função da sua dimensão, estão praticamente impedidas de colocar os seus produtos nas prateleiras das maiores cadeias comerciais, sendo que as seis maiores valem 85% do mercado nacional.

Por outro lado, Portugal é, desde meados da década de noventa, autosuficiente, produzindo aproximadamente mais cinco por cento de leite em natureza, do que o total do seu consumo.

Por isso e também por força das já referidas importações, o nosso país coloca todos os anos fora de fronteiras, sob as mais diversas formas, entre 12 e 16 por cento do leite que produz.

Porém, uma parcela que excede os 80 por cento do total exportado é direccionada para o mercado espanhol, sendo que uma percentagem razoável dessas saídas (estimada em mais de 50%) se refere à colocação no país vizinho de volumes de leite a granel, sem qualquer valor acrescentado, aproveitando o déficit permanente de aprovisionamento da fileira do leite espanhola.

Os volumes restantes têm vindo a ser colocados nos mercados externos através de operações continuadas ou de situações pontuais de exportação para diversos países na Europa, em África e no continente americano, aproveitando – em muitos casos – as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

Ainda assim, e no total, em 2010 saíram do país de 380 milhões de litros de equivalente-leite e quase 270 milhões de euros, dos quais 45 milhões de euros e 25 milhões de litros tiveram como destino países fora da União Europeia.

Julgo, no entanto, que é possível e, mais do que isso, decisivo, melhorar estas performances: aumentar os volumes exportados, aumentar os volumes exportados transformados, aumentar os volumes exportados com mais elevado valor acrescentado, valor que ficará em Portugal e na fileira do leite portuguesa.

Não se pode esquecer que em face das características dos produtos, em especial ao nível da perecibilidade, as exportações assumem contornos bastante diferenciados, quando o respectivo destino forem mercados de proximidade, ou quando a comercialização seja direccionada para mercados mais distantes.

Deve também recordar-se que a reduzida dimensão da larga maioria das empresas lácteas nacionais, o limitado histórico de presença nos mercados internacionais e o desconhecimento desses mercados relativamente aos produtos lácteos portugueses, a definição dos canais de exportação e o desenho do processo de distribuição dos produtos, bem como a limitação ao nível de recursos humanos direccionados e especializados nestas áreas e as barreiras alfandegárias e não alfandegárias existentes em vários países, constituem sérios obstáculos ao desenvolvimento das exportações de lacticínios portugueses.

Por tudo isto, estes obstáculos dificilmente poderão ser ultrapassados sem uma aposta em acções de cooperação, em especial nas áreas da avaliação dos mercados e da negociação comercial, mas também nas áreas da logística e da distribuição.

Para o desenvolvimento dessa cooperação – pelo menos numa fase inicial – é fundamental o apoio das estruturas públicas, que possam ‘pilotar’ o processo de aprendizagem das empresas e ajudá-las a seleccionar os melhores interlocutores.

Torna-se também fulcral um foco reforçado na organização comercial de retaguarda, por exemplo através da constituição de agrupamentos de empresas complementares entre si, que agrupem os produtos num esforço conjunto de distribuição e que permitam alargar o portfolio da oferta, melhorando a capacidade negocial com os canais de comercialização.

Outra hipótese refere-se à criação de consórcios sectoriais, regionais ou de produto, que permitam reforçar a oferta, garantindo condições para um fornecimento continuado e que possuam, igualmente, uma vocação de promoção do produto e defesa da marca.

Este é, sem dúvida, um desafio que tem que ser encarado, atacado e vencido.
E 2012 terá que ser o ano para o fazer.
Sem hesitações!…

Relações entre fornecedores e distribuidores: Conquistar a atenção, evitar a precipitação – Pedro Pimentel


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