Apesar do confinamento e da paragem causada pela pandemia, a crise climática não deve ser esquecida.
Este ano está a caminho de se tornar o mais quente desde que há registos, segundo agências e cientistas citados pelo jornal britânico The Guardian. De acordo com as estimativas, 2020 tem entre 50% a 75% de probabilidades de quebrar o recorde de 2016, o ano mais quente desde que se registam as temperaturas.
A agência norte-americana para os oceanos e atmosfera (NOAA) estima que há 75% de hipóteses de 2020 se tornar o ano mais quente desde que os registos se iniciaram. A NOAA refere que a evolução das temperaturas deste ano está próxima da de 2016, quando as temperaturas dispararam no início do ano devido à intensidade do El Niño – um fenómeno de transporte de uma massa de água quente desde a Austrália até às costas da América do Sul, por altura do Natal.
Apesar de não ter existido El Niño, Janeiro deste ano foi o mais quente de que há registos. Em Fevereiro, uma base de investigação na Antárctida registou uma temperatura de mais de 20 graus Celsius pela primeira vez. Já este mês em Qaanaaq, no Noroeste da Gronelândia, registou-se um recorde de seis graus Celsius. No primeiro trimestre do ano, as temperaturas no Leste da Europa e na Ásia foram cerca de três graus Celsius mais elevadas do que a sua média.
Já Gavin Schmidt, o director do Instituto Goddard para os Estudos Espaciais da NASA, calcula que há 60% de possibilidades de este ano estabelecer um novo recorde. E o Met Office (o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido) estima que haja 50% de hipóteses de isso suceder.
Apesar do confinamento e da paragem causada pela pandemia, a crise climática não deve ser esquecida. “A crise climática continua inalterada”, apelou ao The Guardian Karsten Haustein, cientista na área do clima da Universidade de Oxford. “As emissões diminuirão este ano, mas as concentrações [dos gases com efeito de estufa na atmosfera] continuam a subir. É muito improvável que sejamos capazes de notar qualquer desaceleração no aumento dos níveis atmosféricos de gases com efeito de estufa. Mas agora temos uma oportunidade única para reconsiderar as nossas escolhas e usar a crise do coronavírus como um catalisador para formas mais sustentáveis de transporte e produção de energia (através de incentivos, impostos, preços do carbono, etc.).”
O artigo foi publicado originalmente em Público.