5 plataformas florestais desenvolvidas em Portugal

Têm sido desenvolvidas em Portugal várias plataformas florestais que apoiam o conhecimento, a gestão e a valorização do sector, em facetas distintas – dos dados estatísticos, às cotações dos produtos da floresta, passando pela contabilização do carbono florestal. Conheça cinco exemplos já a funcionar em 2025.

 

ForestSTATS (Biond), Plataforma de Contabilização de Carbono Florestal (Quellia e IBM), Plataforma Agroclimática (IPMA), Plataforma de Preços (UNAC) e Floresta Limpa (NOVA FCT) são cinco exemplos de plataformas florestais desenvolvidas em Portugal, que podem ajudar gestores e proprietários a conhecer, gerir e valorizar a floresta.

Conheça cada uma delas e as principais funcionalidades que colocam à disposição dos utilizadores:

 

ForestSTATS

É uma plataforma dedicada às estatísticas do sector florestal em Portugal e foi desenvolvida pela Biond – Associação das Bioindústrias em parceria com outras entidades nacionais, no âmbito da Agenda de Inovação TransForm​.

Foi criada com o objetivo de agregar e centralizar dados estatísticos sobre a floresta para proporcionar uma visão abrangente e atualizada dos indicadores florestais que se encontram dispersos pelas múltiplas organizações que os publicam, entre as quais a DGT – Direção-Geral do Território, o INE – Instituto Nacional de Estatística, o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e o IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Os dados abrangem grandes temáticas, como por exemplo Produção Florestal, Sanidade Florestal, Economia e Território, cada uma com vários indicadores que permitem saber mais sobre recursos florestais, produção, biodiversidade, incêndios, pragas, indústria e economia da fileira florestal. Os dados estão desagregados por unidades geográficas – nacional, regional, distrital e, em alguns casos, concelhia (não existindo normalmente dados estatísticos mais detalhados).

O utilizador pode navegar por tema ou pesquisar indicadores específicos, como área de floresta, o volume de madeira cortada, o número de incêndios, as exportações do sector, entre outros, e pode isolar os intervalos temporais da sua pesquisa. Alguns dados podem parecer relativamente antigos, mas refletem os estudos e estatísticas disponíveis (por exemplo, quando se pretende obter a caracterização da floresta portuguesa, vários dados são fornecidos pelo Inventário Florestal, que é feito de 10 em 10 anos).

Os promotores assumem o compromisso de atualização contínua, à medida que novas estatísticas oficiais são disponibilizadas.

Para conhecer e consultar, aceda a https://foreststats.pt/

 

Plataforma de Contabilização de Carbono Florestal

A empresa portuguesa Quellia em parceria com a IBM (IBM Environmental Intelligence) desenvolveu uma plataforma digital de contabilização de carbono florestal. Em 2025 passa a disponibilizar um sistema de dMRV (digital Monitoring, Reporting and Verification) que apoia os intervenientes no mercado voluntário de créditos de carbono nas várias etapas de um projeto de carbono florestal – desde a criação e registo inicial do projeto, passando pela medição contínua do carbono sequestrado, até à certificação, emissão de créditos de carbono e à eventual transação desses créditos no mercado​.

A plataforma beneficia da integração de várias tecnologias digitais avançadas – bases de dados, sistemas de informação geográfica, deteção remota, inteligência artificial e aprendizagem automática – para ajudar a estimar a Biomassa Acima do Solo (AGB) e o teor de carbono numa determinada área geográfica, reduzindo custos de avaliações, monitorizações e auditorias, enquanto aumenta a rapidez, fiabilidade e transparência da informação.

“Isto permite uma quantificação científica do carbono armazenado no solo e na vegetação com alta resolução espacial e temporal”, refere a Quellia em comunicado, indicando que a tecnologia permite “criar mapas de alta resolução da AGB (com valores a cada 30 metros quadrados), a partir de medições dispersas, além de calcular valores históricos e futuros de AGB, unidades de carbono e captura de dióxido de carbono (CO₂)”.

A plataforma está alinhada com a metodologia de compensação de carbono da organização global de certificações de carbono Verra no âmbito de projetos de florestação, reflorestação e revegetação (ARR na sigla inglesa), assim como com os requisitos do Verified Carbon Standard (VCS), e beneficia também de uma parceria com uma empresa global de referência em termos de certificação, a AENOR.

Ao contrário das outras plataformas florestais aqui divulgadas, que são de livre acesso, esta é comercializada pela Quellia, através de licenças de utilização.

Recorde-se que o Mercado Voluntário de Carbono em Portugal foi aprovado em 2024 e tem vindo a ser preparado, aguardando-se indicação sobre a sua entrada em funcionamento.

 

Plataforma Agroclimática

A nova Plataforma Agroclimática é uma ferramenta lançada já em 2025 pelo IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera para apoiar os profissionais do sector primário nas decisões de gestão das suas áreas e culturas face aos desafios climáticos​, fornecendo indicadores que permitem antecipar fenómenos adversos e planear as atividades de forma mais informada​.

Concebida como um “boletim agroclimático” digital, disponibiliza informação meteorológica e climática detalhada e está orientada para as necessidades de diferentes culturas, integrando dados de observação e de previsão meteorológica. Os dados são diários, provenientes da rede de estações meteorológicas do IPMA (incluindo estações de solo e sensores remotos, como radares ou satélites) e de modelos de previsão, gerando indicadores agroclimáticos atualizados para diferentes regiões do país​ (até ao nível do concelho).

A informação está dirigida a culturas agrícolas e florestais (incluindo montado de sobro e azinho, floresta, várias árvores de fruto e olival, por exemplo), com previsão a 10 dias e “avisos agroclimáticos” que permitem também aos produtores uma janela temporal relevante para melhor planearem as suas atividades e anteciparem eventos meteorológicos severos​. Por exemplo, podem consultar o risco de ocorrência de geadas tardias que afetem plantas jovens, ou prever períodos de calor e secura que aumentem o stress hídrico das árvores, permitindo-lhes tomar medidas preventivas ou ajustar o calendário de atividades.

Pode consultar a nova plataforma em https://agroclima.ipma.pt/pt/

 

Plataforma de preços de mercado de produtos florestais

Outra das plataformas florestais recentes foi pensada para disponibilizar aos produtores e gestores de zonas florestais e sistemas agroflorestais informações sobre os preços (e quantidades) da cortiça, pinha e madeira comercializadas. Na madeira estão representadas quatro espécies de referência: eucalipto, pinheiro-bravo, pinheiro-manso e sobreiro, com valores e quantidades para diferentes utilizações.

A iniciativa é da UNAC – União da Floresta Mediterrânica e a informação que disponibiliza baseia-se em inquéritos periódicos realizados junto de produtores florestais das associações integradas na UNAC​ (representando parte do território). Estes dados eram até agora disponibilizados noutros formatos, nomeadamente em boletins informativos que não permitiam fazer pesquisas por indicadores ou regiões.

Não tendo representatividade nacional nem uma amostra nacional estatisticamente representativa, os dados estão disponíveis para o Alentejo Litoral, Alentejo Central, Alto Alentejo, Área Metropolitana de Lisboa, Baixo Alentejo, Beira Baixa, Beiras e Serra da Estrela e Lezíria do Tejo, desde 2022 (embora não existam desde esta data para todos os indicadores e regiões).

Apesar de integrar as plataformas florestais de acesso gratuito, a informação mais recente e detalhada está agregada na área “Mercado na Hora”, que se encontra reservada exclusivamente aos associados da UNAC.

Para conhecer, consulte plataformaprecos.unacdigital.pt

Refira-se que existe um sistema oficial de informação sobre preços, o SIMeF – Sistema Simplificado de Cotações de Mercado dos Produtos Florestais, com valores médios de venda e quantidades de madeira de várias espécies em áreas publicas e privadas.

 

Plataforma Floresta Limpa

A plataforma Floresta Limpa nasceu para monitorizar o estado das chamadas faixas de gestão de combustível e contribuir, deste modo, para apoiar a prevenção de incêndios​. Foi desenvolvida ao longo de quatro anos por investigadores do Laboratory for Computer Science and Informatics da NOVA FCT – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito de um projeto de investigação em parceria com o IPMA, o município de Mação e a empresa The Navigator Company.

A plataforma baseia-se numa solução tecnológica que agrega informação sobre vegetação, faixas de gestão de combustíveis e outras áreas de interesse, contando com dados de satélite (Sentinel-1 e Sentinel-2, combinados com dados dos satélites ALOS-2, MODIS e Landsat-8) e cartografia fornecida por várias entidades (Centro de Informação Geoespacial do Exército e ICNF, entre outras). A partir dos dados de satélite foram extraídos padrões temporais dos índices de vegetação, depois submetidos a algoritmos de aprendizagem (inteligência artificial) que ajudam a avaliar o estado de limpeza das faixas e o aumento de materiais combustíveis noutras áreas de interesse.

O projeto desenvolveu uma aplicação móvel Android para descarregar (na Play Store) que pode ser utilizada pelas entidades envolvidas na gestão das faixas de combustível e também pelos cidadãos que desejem contribuir e recolher informações locais que ajudam a identificar áreas a necessitar de intervenção. Esta aplicação facilita medições e permite georreferenciar e registar dados, incluindo imagens, coordenadas e texto, para posterior análise e integração com dados de deteção remota. A recolha de dados locais não exige que se esteja online, pois existe uma funcionalidade de sincronização automática com servidores remotos.

O projeto criou ainda uma página web onde são apresentados os dados abertos gerados pelo sistema, além de informação genérica sobre o projeto: website www.florestalimpa.pt.

Com estas valências, pretende dar aos produtores e gestores florestais, assim como às câmaras municipais e entidades responsáveis e fiscalizadoras pela gestão destas faixas que devem manter-se limpas de vegetação excessiva, uma ferramenta de monitorização contínua e em larga escala, sem necessidade de presença constante no terreno, que permita direcionar os recursos para onde a atuação é prioritária.

Embora esteja preparada para englobar informação sobre o território nacional, a plataforma Floresta Limpa tem ainda pouca participação e dados. Divulgada no primeiro trimestre de 2025, conta com dados sobre as faixas de combustível em Almada, Mação (que integrou o projeto, como concelho piloto) e Santarém. A sua ampliação depende da adesão de mais câmaras municipais e da integração com os seus sistemas de informação.

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