
Os cinco países mediterrânicos cujo clima e a geografia mais se assemelham – Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia – foram os que viram mais território afetado por incêndios desde 2000. Espanha foi o país com mais área ardida nos anos 80 e 90, mas nas duas seguintes a área ardida em Portugal ultrapassou os registos do país vizinho.
Na década de 80 (1980-1989), a média de área ardida Espanha foi a mais elevada dos 5 países supracitados, perto dos 245 mil hectares, enquanto em Portugal a média ficou nos 73,48 mil hectares. Na década de 90 (1990-1999), Espanha continuou a ter a média mais elevada, 161,3 mil hectares, enquanto Portugal chegou aos 102 mil hectares. Na década seguinte (2000-2009), Portugal teve a média mais elevada destes cinco países, quase 161 mil hectares (Espanha teve uma média de 127 mil hectares), o mesmo acontecendo entre 2010 e 2019, com uma média de 138 mil hectares (94 mil hectares em Espanha).
Entre 2000 e 2023, Portugal foi o país europeu (EU-27) com mais extensão de território afetado, segundo o relatório Forest fires in Europe, Middle East and North Africa 2023. Para este lamentável recorde contribuíram em particular os anos de 2003, 2005 e 2017 com vastas extensões de área ardida em Portugal, intercalados por anos de registos muito baixos, como sucedeu em 2007, 2008, 2014 e 2021, em que a área ardida nacional ficou muito abaixo de outros países mediterrânicos.
Estes anos em que se regista maior área ardida em Portugal têm algo em comum: os incêndios mais devastadores ocorrem em larga maioria em dias de condições meteorológicas extremas: “a área ardida neste tipo de condições corresponde à quase totalidade da área ardida, em particular nos anos em que mais arde”, assinala um estudo do Observatório Técnico Independente (dezembro de 2020), que alerta “São, na realidade, os dias de condições meteorológicas extremas que nos devem preocupar (…)”. Estes dias caracterizam-se por baixos valores de humidade do ar e de elevadas temperatura e velocidade do vento.
Segundo a análise efetuada, 91% do total da área ardida em Portugal em 2003 corresponde a incêndios em dias de condições meteorológicas extremas. A história repete-se em 2005, ano em que 92% da área ardida aconteceu nestas mesmas condições. O mesmo padrão regista-se em 2017: dos 540 mil hectares ardidos, perto de 508 mil (94%) correspondem a 72 dias de condições extremas. Recorde-se que as “condições extremas” são a classe mais elevada do índice de severidade meteorológica DSR – Daily Severity Rating, medida considerada a mais representativa da dificuldade em combater um incêndio.
Não é, por isso, de estranhar que cerca de 54% da área ardida em Portugal em 2017 tenha ocorrido durante uma onda de calor e de ventos fortes causados pelo furacão Ophelia, já em outubro, numa altura em que o país se encontrava já em situação de seca. Neste que foi o mais dramático incêndio de que há registo em Portugal, o território nacional devastado pelo fogo representou 41% de toda a área ardida na Europa.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.