Lições de um apagão: como aumentar a resiliência energética nas empresas?

O recente apagão, que afetou a Península Ibérica e levou à necessidade de um “black start” do Sistema Elétrico Nacional, expôs vulnerabilidades. Várias empresas, mesmo tendo investido em sistemas fotovoltaicos para autoconsumo, viram-se incapazes de os utilizar para manter as suas operações. A boa notícia é que existem soluções técnicas e operacionais para aumentar a resiliência energética das organizações, mesmo perante falhas na rede.

Durante uma falha da rede elétrica, a principal razão para as unidades de produção destinadas ao autoconsumo (UPAC) de base solar se desligarem prende-se com a forma como os inversores fotovoltaicos operam. A maioria dos sistemas de autoconsumo utiliza inversores “grid-following”, ou seja, seguidores da rede.

Estes inversores operam em sincronismo com a rede elétrica, ajustando a sua saída para coincidir com os parâmetros de frequência e tensão da rede. Na ausência dessa referência externa, estes não são capazes de funcionar autonomamente e desligam-se. Trata-se ainda de um procedimento de segurança para evitar a injeção de energia na rede pública, de modo a permitir intervenções seguras na mesma.

Atualmente, o quadro legal pressupõe que o autoconsumo é, por defeito, uma atividade ligada à rede e não isolada. Só com investimentos adicionais e configurações específicas é possível garantir operação “off-grid” ou modo de backup.

Um dos caminhos para construir uma empresa energeticamente mais resiliente passa pelo uso de sistemas híbridos de autoconsumo com baterias e inversores com a função de “backup” e grid-forming (formação de rede), sendo assim capazes de gerar a sua própria referência de frequência e tensão, de modo a alimentar a rede interna das empresas.

Desta forma, as empresas conseguirão operar durante uma falha de energia na rede pública. É essencial que essa transição seja feita através de quadros de transferência automática (ATS), manualmente ou até pelo próprio inversor, de modo a garantir que a energia gerada não seja injetada na rede.

 

Como saber qual a melhor opção para a minha empresa?

Não existe uma solução única para aumentar a resiliência energética. O caminho certo depende do contexto específico de cada empresa. Para tomar a melhor decisão, o primeiro passo é estudar perfil de consumo energético: quais os consumos de energia, quais os equipamentos ou processos críticos e quanto tempo a operação consegue resistir a uma falha de energia.

É importante avaliar também os riscos reais que a empresa enfrenta. Está localizada numa zona com histórico de falhas na rede? Depende de produção contínua? A resposta a estas perguntas ajuda a definir o nível de resiliência necessário.

O INEGI está ao lado das empresas, ajudando-as na avaliação das opções de um sistema de autoconsumo adequado. Avaliar necessidades, definir requisitos técnicos para soluções de autoconsumo, consultar e avaliar propostas de fornecimento são passos determinantes para a resiliência energética e do negócio.

 

Artigo de Eduardo Silva e Miguel Marques, consultores em energias renováveis

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