
Na curva da A22 entre Albufeira e Loulé, há uma estrutura cor de terra que parece esquecida. Muitos automobilistas que ali passam acreditam tratar-se de ruínas romanas. Mas o que ali se ergue, na encosta sobre a Ribeira de Quarteira, é um castelo muçulmano de arquitetura singular, construído em taipa militar no século XII, num período avançado da ocupação islâmica no sul de Portugal.
De acordo com o Visit Portugal, o Castelo de Paderne é um exemplo raro e bem preservado da fortificação em taipa que caracterizou a arquitetura militar almóada.
Este sistema construtivo, que usa terra crua compactada, explica a tonalidade ocre das suas muralhas e o contraste com o matagal mediterrânico que o envolve.
Entre Loulé e Silves, uma fortaleza esquecida
A localização do castelo, entre duas antigas urbes islâmicas, Silves e Loulé, não é aleatória. Segundo a mesma fonte, o castelo de Paderne foi edificado para reforçar uma linha de defesa secundária, necessária face ao avanço do Reino de Portugal. A fortaleza dominava uma via estratégica de ligação entre o litoral e o interior algarvio.
O recinto albergava uma pequena alcaria, com ruas estreitas e um sistema de escoamento de águas residuais que demonstrava preocupações urbanísticas. A porta principal era defendida por uma torre albarrã, elemento típico das fortificações islâmicas.
Conquista cristã e reconfiguração do espaço
Em 1248, D. Paio Peres Correia conquistou o castelo para a Ordem de Santiago. Escreve o Visit Portugal que, após a tomada cristã, a estrutura foi parcialmente adaptada. Surgiram cisternas e alterações nos quarteirões habitacionais, sinalizando o início de uma nova fase de ocupação.
O abandono gradual começou após a integração definitiva do Algarve na coroa portuguesa. Acrescenta a publicação que, no século XVI, a povoação foi transferida para norte, e o castelo entrou em declínio.
Ferido pelo terramoto, apagado pelo tempo
O terramoto de 1755 acentuou a decadência. Refere a mesma fonte que a destruição parcial das muralhas e da torre albarrã deixou o castelo em ruínas. Apesar de intervenções posteriores, a degradação manteve-se visível.
Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1971, o Castelo de Paderne tem sido alvo de estudos conduzidos pelo IPPAR, Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico, com o objetivo de valorização da envolvente natural e cultural.
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O vale e a ponte que contam outra história
Explica o Visit Algarve que a caminhada até ao castelo percorre um vale estreito, onde a Ribeira de Quarteira serpenteia entre vegetação densa e elementos hidráulicos antigos. A ponte medieval junto ao castelo, de origem romana, possui três arcos e dois talha-mares prismáticos.
Nas proximidades encontra-se o Moinho da Alfarrobeira, com vestígios da casa do moleiro e do forno, elementos que ilustram práticas agrícolas ancestrais.
Entre fauna, flora e património genético
Refere a mesma fonte que a vegetação da vertente umbria inclui espécies, como o zimbro, a aroeira e a palmeira-anã. Nas margens da ribeira cresce o Narcissus willkommii, uma espécie rara, endémica e exclusiva desta zona.
Na vertente soalheira dominam tomilhais e rosmaninhais, onde surge também a Centaurea occasus, um cardo único do barrocal algarvio.
Lontras, garças e outros habitantes invisíveis
A fauna do local é igualmente rica. Foram registadas presenças de lontras, doninhas, ouriços-cacheiros e várias espécies de aves aquáticas e passeriformes. Junto ao açude, uma antiga azenha, legado da época islâmica, testemunha a antiga gestão dos recursos hídricos.
Muito mais do que um ponto na bandeira
O castelo de Paderne é um dos sete representados na bandeira nacional. Segundo o Visit Portugal, este símbolo remete para os castelos conquistados durante a Reconquista, reforçando o peso histórico deste lugar discreto.
Hoje, quem passa na A22 vê apenas fragmentos. Mas, por detrás do casario em ruína e da taipa desbotada, permanece a memória de um Algarve multicultural, agrícola e defensivo.
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