Clima nos EUA: o início do “Weather Market”

Os relatórios semanais do USDA indicam que o plantio do milho nos EUA alcançou 93% da área prevista, em linha com a média dos últimos cinco anos. Já a soja, com 84% da área plantada, está ligeiramente adiantada em relação à média histórica (80%). Entretanto, o destaque está na condição das lavouras: 69% do milho e 67% da soja estão classificados em “boas” ou “excelentes” condições.

De acordo com  Fernando Oliveira, Gestor de Inteligência de Mercado e Negócios, da Flowinvest, empresa especializada em soluções de crédito para diferentes áreas do agronegócio, “apesar desses números parecerem positivos, eles representam uma piora em relação ao mesmo período do ano passado — quando o milho, por exemplo, apresentava 75% em condições boas ou excelentes. Esse cenário marca o início do chamado Weather Market, momento do calendário agrícola americano em que o clima passa a ter peso decisivo na formação de preços no mercado internacional, dada a sensibilidade da produtividade às chuvas e temperaturas entre junho e agosto”, explica o executivo.

A produtividade final das lavouras americanas ainda é incerta e depende fortemente da regularidade das chuvas nos próximos 75 dias. Cenários com seca prolongada podem comprometer a produção dos EUA — maior exportador mundial de milho e segundo maior de soja — e, com isso, elevar os preços internacionais dessas commodities. Por outro lado, chuvas regulares e bem distribuídas podem consolidar uma safra cheia, pressionando os preços para baixo.

Essa oscilação tem reflexos imediatos no Brasil. “Como país produtor e exportador, o Brasil pode ser beneficiado em um cenário de quebra de safra americana, ganhando competitividade no mercado global. No entanto, o país também é grande consumidor interno de milho e soja para ração animal, produção de etanol e indústria alimentícia. Assim, uma disparada nos preços internacionais pode pressionar os custos de produção domésticos, impactando desde a cadeia de proteína animal até os preços ao consumidor final”, afirma Fernando Oliveira, da Flowinvest. 

De acordo com a Flowinvest, se os preços internacionais subirem por conta de clima adverso nos EUA, o Brasil tende a aumentar sua competitividade e receita com exportações. Por outro lado, o encarecimento do milho e da soja pode pressionar os preços de carnes, leite e ovos, afetando o índice de inflação alimentar. Já as Indústrias dependentes de farelo e óleo de soja, etanol de milho e outras matérias-primas podem enfrentar aumentos de custos. Enquanto isso, pecuaristas, produtores de aves e suínos terão elevação nos custos com ração, que tem milho e soja como principais componentes.

Embora a condição atual das lavouras americanas esteja razoavelmente positiva, o mercado precifica incertezas. Fernando Oliveira, da Flowinvest afirma que “o Brasil, como player relevante no mercado global de grãos, deve manter atenção redobrada às previsões climáticas dos EUA. A volatilidade dos preços pode representar tanto riscos como oportunidades, e decisões estratégicas — seja na comercialização antecipada, na gestão de estoques ou na formulação de contratos futuros — devem levar esse fator climático em consideração”, afirma o executivo. 

O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.


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