Nível de armazenamento das albufeiras é o mais elevado desde a década de 90

No dia 21 de Junho, quando o solstício de Verão se anunciava para dar início ao período estival, as 81 albufeiras públicas nacionais apresentavam um invulgar nível de armazenamento que se aproximava dos 90%. Desde o início da década de 1990 que os boletins publicados pelo Serviço Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH) não apresentavam volumes tão elevados. Das 81 albufeiras que este organismo monitoriza, 62 apresentavam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, 19 tinham um volume de armazenamento entre os 50 e os 80%, e apenas a barragem do Monte da Rocha, na bacia do Sado, tinha a sua reserva de água inferior a 40%.

Tendo em conta os valores registados para os meses de Junho entre 1994 e 2025, os valores actuais são muito superiores aos verificados em 1996 e 2013, anos em que as albufeiras nacionais apresentaram armazenamentos superiores a 80% em 39 barragens.

A abundância de recursos hídricos é o resultado de sucessivos temporais que fustigaram a Península Ibérica, sobretudo em Março e Abril. No dia 12 de Maio foi registado o volume mais elevado desde o início da década de 1990, 12.496 hectómetros cúbicos (hm³), equivalente a 94% do volume máximo que pode ser armazenado nas 81 albufeiras públicas nacionais (13.299 hm³).

Alqueva é uma das barragens que continua a registar elevados valores de armazenamento. Entre 11 de Março e 16 de Abril, os caudais que entraram na sua enorme albufeira variaram entre os 140 e os 1000 metros cúbicos () por segundo. A 13 de Abril, a sua capacidade de encaixe atingia praticamente o pleno enchimento, 4062 hm³ (96%), atingindo a cota de 151,96 metros. Faltaram 38 hm³ para, mais uma vez, Alqueva atingir o enchimento pleno.

Este objectivo não foi alcançado para garantir “alguma margem de manobra” no caso de ocorrer alguma imprevista enxurrada, que colocasse em risco a estrutura da barragem, explicou José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), ao PÚBLICO. Foi necessário proceder a descargas para montante que levaram o caudal do Guadiana a atingir no troço internacional do rio (entre o Pomarão e a foz, em Vila Real de Santo António), e na sua fase mais crítica, cerca de 1000 m³ por segundo.

Desafogo a sul do Tejo

O consumo de água para rega debitada a partir de Alqueva irá observar uma descida drástica, devido à forte pluviosidade que ocorreu ao longo do primeiro semestre de 2025 e às reservas hídricas presentes em albufeiras particulares e públicas que abastecem os regadios na periferia do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) – as albufeiras de Campilhas e Alto Sado, Roxo, Vigia e Odivelas.

O desafogo (relativo) no acesso à água é extensível à reserva hídrica armazenada na barragem de Santa Clara, uma das mais problemáticas albufeiras do país que dá suporte ao Perímetro de Rega do Mira. Pela primeira vez ao fim de oito anos, a reserva de água acumulada elevou a cota acima do nível do caudal morto. A albufeira tem actualmente 244,7 hm³ de água, 33 hm³ acima do caudal morto, que darão para assegurar o abastecimento do sistema de rega, o consumo humano e o industrial por apenas um ano.

A prudência sobre o consumo de água a partir de Santa Clara ficou patente nas orientações expressas pela comissão administrativa da Associação de Beneficiários do Mira (ABM) para a campanha de rega de 2025. A cota actual da albufeira de Santa Clara “não permite, com o volume disponível acima do volume morto, o fornecimento de água sem restrições a todos os utilizadores, sendo por isso ainda necessário recorrer à captação por bombagem em 2025”. E acrescenta: é imperioso “assegurar previsibilidade no fornecimento de água, não apenas para o ano de 2025, mas também para 2026 e 2027”.

No entanto, e apesar deste condicionalismo, “cada regante pode inscrever até mais cinco hectares de culturas em área beneficiada, relativamente ao ano anterior”. Este aumento da área regada significa um acréscimo de um hectómetro cúbico no consumo de água que “ficará sujeito a verificação prévia no terreno” quanto à efectiva existência da cultura instalada, decidiu a comissão administrativa da ABM.

A região algarvia marcada por sucessivos anos de escassez hídrica tem, neste mês de Junho, quatro das suas seis albufeiras com volumes de armazenamento acima dos 80%. As seis albufeiras algarvias armazenavam no dia 24 de Junho cerca de 376 hm³, ou seja, 78,1% da sua capacidade total, reserva que assegura o consumo humano durante três anos.

Continue a ler este artigo no Público.


Publicado

em

,

por

Etiquetas: