
Entre as ilhas do Atlântico, há uma que permanece praticamente desconhecida para a maioria dos portugueses. Um lugar isolado, onde o tempo passa devagar, os rebanhos pastam livremente e as tradições continuam quase intactas. Muitos podem nunca ter ouvido falar desta ilha portuguesa, mas nela escondem-se histórias de coragem, dureza e encanto natural, juntamente com algumas curiosidades pouco vistas no resto do território continental.
Uma ilha pouco conhecida
Situada no arquipélago dos Açores, a ilha do Corvo é considerada a mais isolada da Europa, facto que lhe confere um carácter verdadeiramente único. Embora não seja reconhecida como a mais bela do continente, o seu isolamento e autenticidade tornam-na num destino raro e cheio de encanto, refere o NCultura. Curiosamente, existem ali mais vacas do que pessoas, dado que reflete bem a sua economia rural.
Com apenas 17 quilómetros quadrados, esta é a menor ilha açoriana, medindo cerca de 6 km de comprimento por 4 km de largura. Localiza-se no extremo norte do arquipélago, sendo também a ilha mais setentrional de Portugal, formada por um único vulcão extinto há dois milhões de anos. A sua proximidade com a ilha das Flores, a 24 km de distância, faz com que a ligação entre ambas dure cerca de uma hora de lancha rápida.
Chegada tardia da modernidade
Durante muito tempo, a ilha viveu quase isolada. A eletricidade só chegou em 1963 e as primeiras linhas telefónicas foram instaladas em 1973, sendo que antes disso as comunicações faziam-se por rádio ou, em épocas mais antigas, através de sinais de fumo. Em 1993, foi inaugurado um pequeno aeroporto com pista de 850 metros, facilitando ligações aéreas e emergências médicas.
História de descobertas e piratas
Descoberta por volta de 1450, o seu povoamento iniciou-se apenas no século XVI, devido à falta de portos seguros. Ao longo de séculos, serviu de abrigo a piratas que, em troca de alimentos e reparações navais, ofereciam proteção aos habitantes, refere a mesma fonte. Esta relação definiu parte do seu passado, marcado também pela pesca e pequena agricultura.
A Vila Nova do Corvo, único núcleo urbano, é considerada a comunidade mais pequena da Europa, com cerca de 400 habitantes atualmente. Em 1832, recebeu foral de D. Pedro IV, como reconhecimento pelo apoio dado durante os conflitos entre Liberais e Absolutistas, reforçando a sua importância simbólica no país. No século XIX, a chegada de baleeiros americanos levou muitos jovens a embarcar em navios de caça à baleia, trocando a agricultura pelo mar alto.
Emigração e mudança económica
Esta emigração manteve-se até à década de 1970, alterando a economia local, antes baseada na troca direta de bens, passando a depender das remessas enviadas pelos emigrantes.
No final do século XIX, a população rondava os mil habitantes, número que nunca mais voltou a ser alcançado, apesar de pequenas recuperações nos últimos censos.
Mais vacas do que habitantes
Atualmente, a principal atividade económica continua a ser a pecuária, sobretudo a produção artesanal de queijo. Existem mais de 800 bovinos, número que ultrapassa largamente o total de residentes, criando uma paisagem dominada por pastagens e campos verdes. Os rebanhos pastam livremente, contribuindo para o ambiente calmo que tanto encanta quem chega de visita.
Semáforos? Nem vê-los
Não há semáforos nesta ilha portuguesa. Apenas uma estrada principal liga os pontos essenciais da mesma, incluindo o pequeno aeroporto. As deslocações fazem-se a pé, de bicicleta ou em carrinhas de caixa aberta. O ambiente é sereno e o trânsito é quase inexistente.
Hospitalidade que marca quem visita
Os habitantes são conhecidos pela hospitalidade e é comum encontrar portas abertas, numa comunidade onde todos se conhecem. Turistas são vistos como visitas bem-vindas e não é raro serem convidados a entrar para provar queijo ou partilhar histórias, refere a mesma fonte. O isolamento ajudou a preservar um dialeto próprio, marcado por expressões do português antigo.
O imponente Caldeirão
O Caldeirão é o ex-líbris da ilha, uma cratera vulcânica com 3,5 km de diâmetro, onde pequenas lagoas e ilhéus verdes criam um cenário impressionante. O ponto mais alto, Morro dos Homens, atinge 718 metros de altitude, oferecendo vistas que, em dias limpos, alcançam a vizinha ilha das Flores.
As encostas descem abruptamente até ao mar, exceto a sul, onde ficam os campos agrícolas e a Vila Nova do Corvo.
Costa difícil e lendas antigas
A costa de origem vulcânica é marcada por falésias negras e pequenos ilhéus, que sempre representaram um desafio à navegação. Vários naufrágios ocorreram nestas águas ao longo dos séculos, sendo que alguns, segundo antigas lendas, citadas pelo NCultura, teriam sido provocados intencionalmente pelos habitantes para saquearem mercadorias. Hoje, estas histórias misturam realidade e mito, mas fazem parte da identidade de um lugar onde o tempo corre ao ritmo da maré.
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