De 9 a 20 de julho, Viseu volta a ser palco de um festival que faz da música um lugar de encontro, de descoberta e de transformação. A 13ª edição do Que Jazz É Este? apresenta-se repleta de concertos imperdíveis, encontros improváveis e experiências que atravessam fronteiras musicais, geográficas e sociais.
O jardim da Casa do Miradouro recebe a 18 de julho um dos momentos mais singulares desta edição: o encontro entre Emanuel e Toy Matos, músicos de raízes ciganas reconhecidos pela autenticidade e intensidade das suas interpretações, com o saxofonista, compositor e improvisador João Mortágua, uma das vozes mais inquietas do jazz nacional. O trio estará em residência em Viseu num processo criativo que cruza linguagens, memórias e influências distintas. O resultado será um concerto inédito, que promete abrir novos caminhos de diálogo entre tradição e contemporaneidade, entre oralidade e experimentação.
No dia 19 de julho, o festival acolhe no emblemático Teatro Viriato o concerto da pianista suíça Marie Kruttli, um dos nomes mais interessantes da nova geração do jazz europeu. As suas composições elevam-se como verdadeiras arquiteturas sonoras, combinando uma escrita rigorosa com uma abordagem lírica e profundamente cinematográfica. O seu trio propõe uma viagem musical que alterna entre a introspeção delicada e a energia rítmica, desafiando o público a entrar num universo de formas abertas e emoções densas.
Fiel à sua missão de alargar o acesso à cultura levando concertos às pessoas que estão impedidas de vir até eles e atravessando-se no caminho das pessoas, o festival volta a apostar nas iniciativas Jazz ao Domicílio e Jazz na Rua. Este ano, a jovem trompetista Jasmim Pinto assina a banda sonora original para o filme mudo “The Playhouse” de Buster Keaton, levando este filme-concerto a espaços como o Estabelecimento Prisional de Viseu, o Internato Victor Fontes e o Hospital Psiquiátrico de Viseu. Uma ação simbólica, mas acima de tudo concreta, que afirma o direito universal à cultura. Já nas ruas, a festa sonora fica a cargo dos sopros e percussões da Escola Profissional da Serra da Estrela, que invadem praças, varandas e esquinas, aproximando o jazz do dia-a-dia das pessoas.
O pico da programação acontece de 17 a 20 de julho onde o jazz é encontro, manifesto e celebração com uma sequência de concertos que espelham a diversidade e o alcance artístico desta edição.
Mano a Mano apresentam o projeto “Trilogia das Sombras” (17 julho, Museu Nacional Grão Vasco), uma homenagem luminosa à obra da artista plástica Lourdes Castro, num espetáculo onde música, palavra e movimento se cruzam entre sombras e luz. Camilla George, referência maior da nova cena londrina apresenta-se num concerto único em Portugal (18 julho, Parque Aquilino Ribeiro), um concerto politicamente consciente e musicalmente hipnótico, entre o jazz, o hip hop e o afrofuturismo, refletindo as memórias e heranças da diáspora africana. Analogik, projeto liderado por Zé Almeida (20 julho, Casa do Miradouro) revela-se um quarteto que flutua entre trio de jazz, ensemble de improvisação e quase-quarteto de cordas, num espetáculo que promete surpreender. New Max (20 julho, Parque Aquilino Ribeiro) lidera a festa de encerramento com groove, soul e uma celebração da música negra e da cultura portuguesa.
Integram também esta edição o concerto do João Rocha Quarteto, jovem talento recentemente premiado no concurso internacional da Universidade de Aveiro, o tributo da Gira Big Band à cantora Vera Lúcia, uma figura consegrada da música brasileira com raízes em Viseu, e o vibrante espetáculo do Coletivo Gira Sol Azul com Tito Paris, que traz a lusofonia ao palco, primeiro em Tondela (festival Tom de Festa) e depois em Viseu.
E porque o Que Jazz É Este? é também um espaço de partilha e formação, o festival integra a 16ª. edição do Workshop de Jazz de Viseu, jam sessions e uma oficina de rádio. Reforçando a aposta no talento jovem e na construção de comunidades musicais realiza-se o 1º encontro de escolas “So What?”.
A programação completa pode ser consultada em https://quejazzeeste.com/
Todas as atividades têm entrada livre, mas o festival reforça o convite ao donativo consciente. Porque a cultura deve ser acessível, mas também sustentável. E porque apoiar quem faz é garantir que o jazz — e a liberdade que ele representa — continue a acontecer.
O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.