
O regresso deste animal a Portugal está a gerar reações opostas entre ambientalistas e agricultores. Depois de mais de 500 anos desaparecido, o castor europeu voltou a ser avistado em Portugal nos últimos dois anos, segundo o jornal Ok Diario. Um acontecimento que está a ser visto como um marco na recuperação ecológica da Península Ibérica, mas que levanta preocupações no setor agrícola.
A presença do Castor fiber, conhecido como castor europeu, foi confirmada em solo português graças ao trabalho de monitorização realizado por entidades ligadas à conservação da natureza. O animal, considerado extinto no país desde o século XV, terá regressado pela fronteira com Espanha, após uma expansão gradual que começou com a sua reintrodução não autorizada na bacia do rio Ebro, em 2003.
O regresso que gera controvérsia
Apesar dos benefícios ecológicos, o regresso do castor europeu levanta preocupações, sobretudo entre agricultores e proprietários de terrenos junto a rios. De acordo com a mesma fonte, a construção de diques ou a queda de árvores podem afetar culturas ou estruturas hidráulicas, gerando potenciais conflitos de coexistência.
Noutros países europeus, como Suécia, Alemanha ou França, estas tensões já deram origem a medidas concretas. Existem, por exemplo, técnicos especializados, conhecidos como “gestores de castores”, que monitorizam a espécie e implementam soluções de compromisso, como barreiras ou compensações financeiras para os agricultores afetados.
O ‘engenheiro’ dos rios
A atividade do castor europeu transforma o ambiente ribeirinho, criando represas e canais que ajudam a reter água no solo, a melhorar a qualidade hídrica e a fomentar a biodiversidade. Estes efeitos são especialmente valorizados em regiões afetadas pela seca e desertificação, conforme aponta a fonte acima citada.
Pedro Prata, responsável da organização Rewilding Portugal, que se dedica à restauração ecológica de paisagens e espécies nativas, sublinha que “o castor é um aliado natural para restaurar a saúde dos nossos rios e zonas húmidas”, citado pela mesma fonte. Além disso, pode contribuir para reduzir inundações, travar a erosão dos solos e aumentar a capacidade de armazenamento de água, sem necessidade de infraestruturas.
Uma história de desaparecimento e retorno
O castor europeu desapareceu de Portugal no final do século XV, vítima da caça intensiva e da degradação do seu habitat natural. A sua carne era consumida, mesmo em períodos de abstinência religiosa como a Quaresma, e a pele e secreções do animal eram bastante valorizadas pelas indústrias da perfumaria e da medicina.
De acordo com o jornal Ok Diario, a espécie voltou à Península Ibérica graças à libertação de 18 exemplares na região do Ebro, em Espanha, em 2003. Apesar das tentativas iniciais de erradicação, os castores conseguiram estabelecer-se em regiões como Aragão, Navarra, La Rioja e, mais recentemente, em zonas do vale do Guadalquivir e até Guadalajara.
A expansão deste animal tem sido discreta, mas contínua. Com as recentes deteções em território português, abre-se agora um novo capítulo que poderá obrigar à revisão das políticas de gestão ecológica e de convivência entre espécies e comunidades humanas.
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