Mark Biro estava rendido ao “sossego” e à “beleza” da floresta que estava a ajudar a limpar há já vários dias. “Estou muito curioso para perceber como é que ela vai ficar [depois de requalificada]”, comentava, em declarações ao PÚBLICO, enquanto cumpria um breve intervalo na jornada de desbravar caminhos. Mark Biro, de 29 anos e originário da Hungria, não estava só. Com ele estavam mais 16 jovens voluntários, oriundos das mais variadas latitudes (Colômbia, França, Grécia, China, Itália e Turquia, entre outros países), mas unidos pelo mesmo propósito: ajudar a recuperar a Quinta Ecológica da Moita (QEM), mancha verde situada a poucos minutos do centro de Aveiro e que está já a ser colocada ao serviço da educação ambiental, conservação da natureza e fruição pública.
Em causa está uma área florestal com cerca de 15 hectares, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro e que, desde 2024, passou a contar com a co-gestão da Associação BioLiving. “Esta quinta já tinha sido alvo de um trabalho ambiental muito interessante — chegaram a visitá-la 2.000 pessoas por ano —, mas depois veio a covid e a mata acabou por ficar fechada vários anos”, introduz Mariana Cardoso, da associação ambiental que, há cerca de um ano, foi chamada a dinamizar e recuperar a QEM. Com a mata encerrada durante vários anos, “a natureza foi reclamando o seu espaço”, com todas as vantagens e desvantagens que daí advêm. “Tivemos a rebentação de espécies muito interessantes, algo que só foi possível por a mata estar fechada”, explica, notando que “o pisoteio constante também diminui a regeneração”. Mas também tem um lado menos positivo: os trilhos deixaram de estar visíveis, razão pela qual é agora preciso restaurá-los.
Tem sido esse o trabalho da Associação BioLiving nos últimos meses, com a ajuda de vários voluntários. Os últimos a arregaçar as mangas e a dar uma ajuda no restauro dos trilhos e controlo de plantas invasoras foram, então, os 17 jovens que participaram no campo internacional de voluntariado que terminou no último sábado, 26 de Julho. “Mas também temos o programa Voluntariado Jovem para a Natureza e Florestas, do IPDJ [Instituto Português do Desporto e Juventude], que permite ter cá, todas as quintas-feiras, um grupo de voluntários”, enquadra Mariana Cardoso, consciente de que há ainda muito trabalho pela frente. Começando, desde logo, pela recuperação da casa, que tem a data de 1827 inscrita numa lápide, instalada à entrada da quinta. “É um espaço que pode dar para fazermos várias actividades relacionadas com a educação ambiental, e não só, mas precisa de obras”, aponta.
Uma quinta que é um mosaico
Para lá do portão instalado junto à casa e ao bambuzal que a ladeia, há toda uma mancha verde para explorar. Desde charcos a áreas agrícolas, passando por um carvalhal centenário, são vários os atractivos desta quinta localizada na freguesia de Oliveirinha. “É uma mata com um valor riquíssimo a nível ecológico porque ela é quase um mosaico. Temos partes mais florestais, temos partes mais de clareira, de prados, e temos zonas mais húmidas, onde temos plantas aquáticas muito interessantes”, sustenta Mariana, ao mesmo tempo que nos desafia a olhar para o muro que ladeia a fonte da quinta. “Temos ali uns animais muito bem camuflados, mas muito interessantes. É o tritão-marmoreado e está ali naquelas reentrâncias do muro”, informa, destacando que, há poucos meses, através de umas “câmaras de armadilha”, também conseguiram detectar por ali a presença de espécies que “não são comuns em muitos sítios”, como é o caso do saca-rabos.
Não há dúvidas quanto à riqueza, tanto ao nível da fauna como da flora, da QEM, nem quanto à determinação da BioLiving e da Santa Misericórdia de Aveiro em voltar a tornar o espaço visitável e propício a actividades privadas, como festas de aniversário ecológicas e similares. Resta esperar que a comunidade também responda positivamente, participando no projecto. “A ideia é envolver cada vez mais as pessoas, seja nas manhãs do primeiro sábado de cada mês em que temos um voluntariado aberto à comunidade, seja em acções de team building, como a que já fizemos com a Yves Rocher, de restauro ecológico”, desafia Mariana Cardoso.