Como incentivar a limpeza de terrenos? “Pagar 100 euros por hectare de mato abaixo de 50 centímetros”

Incêndios em Portugal

Entrevista SIC Notícias

Henrique Pereira dos Santos, arquiteto paisagista, lamenta, em entrevista à SIC Notícias, que não seja feita uma gestão florestal adequada. Para isso, defende a profissionalização dos bombeiros e incentivos à população para que mantenha os terrenos limpos.

Loading…

O arquiteto paisagista, Henrique Pereira dos Santos, entende que grande parte do território afetado pelas chamas “não é gerido porque não há economia que pague essa gestão”, o que, depois, se reflete nesta altura do ano. “O combate aos fogos é uma componente da gestão do fogo e a gestão do fogo é uma componente da gestão florestal”, acrescenta. 

Por isso, considera que “este problema” não é um problema do Ministério da Administração Interna: “Ou é do primeiro-ministro ou é do ministro da Agricultura.” 

Henrique Pereira Coutinho aplaude as palavras da ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, que desvalorizou, “e bem”, segundo o arquiteto, “a discussão que estava a existir sobre os meios aéreos”: 

“Esta coisa de ‘agora à noite não há meios aéreos e, portanto, isto ficou pior’. Não foi por causa de não haver meios aéreos, foi porque à noite as condições meteorológicas são diferentes, nomeadamente a intensidade do vento. 

Aponta ainda que nesta época do ano há dias “com uma meteorologia específica que faz com que não haja recuperação da umidade atmosférica à noite”, um problema que contribui para a evolução da área ardida. 

“Ia toda a gente apagar o incêndio e apagava-se antes de os bombeiros chegarem”

O arquiteto paisagista recorda ainda uma situação da sua infância, que, garante, já não se verifica nos dias de hoje: 

Eu lembro-me de ter 14, 15 anos, tocava o sino a rebate na aldeia do meu pai e ia toda a gente apagar o incêndio e apagava-se antes de os bombeiros chegarem a bater com os ramos de pinheiro. Porquê que isso era possível? Porque o mato era todo roçado para a cama do gado para estrumar as terras. Ora, isso desapareceu, não só a agricultura das terras, não só há muito menos terras a ser feitas, como o estrume foi substituído por adubos, e como não compensa andar a roçar mato, não compensa.” 

Para resolver essa questão, Henrique Pereira dos Santos tem uma sugestão:  

“A minha proposta é relativamente simples. É pagar 100 euros por hectare a todas as pessoas que mantenham os seus matos abaixo de 50 centímetros.” 

Na ótica do paisagista, se as pessoas não forem remuneradas, “não gerem” as matas nem florestas”. 

Questiona também o porquê de o Executivo ter excluído os privados do programa “Floresta Ativa”, que incentiva a gestão ativa dos terrenos. 

“São os agentes económicos que fazem gestão. Os resineiros, os pastores, os produtores florestais, são esses que fazem gestão. Como é que eu consigo que eles façam mais área de gestão? Criando incentivos económicos. Dando-lhes mais competitividade”, afirma. 

Falta de bombeiros profissionais

Defende que é necessário que existam mais bombeiros profissionais, já que entende que os operacionais fazem parte da gestão florestal. 

Lembra ainda que, atualmente, os bombeiros “não fazem combate florestal”, mas sim proteção de habitações e pessoas: 

“Nós precisamos de uns bombeiros que dizem ‘isso não é comigo, porque a minha missão é combater fogo florestal’. Proteção civil é com outros. Se não houver isto, esta necessidade que temos de ter gente a combater o fogo florestal no meio de onde é preciso, vai ficar atrás da prioridade de salvar vidas e casas e toda a gente percebe isso.” 

Veja a reportagem na SIC Notícias.


Publicado

em

,

por

Etiquetas: