Na acesa guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, um tipo de produto surge na linha da frente: os bens agrícolas. A China é o maior importador do mundo de produtos como soja e milho, ambos exportações por excelência dos EUA. Há vários anos que Pequim tem vindo a reduzir a dependência dos produtos americanos e agora o embaixador nos EUA deixa um novo alerta: as tarifas de Donald Trump podem piorar as coisas.
“Nem é preciso dizer que o protecionismo está a alastrar, ensombrando a cooperação agrícola entre a China e os EUA”, disse Xie Feng, de acordo com a transcrição de um discurso publicada pela embaixada e citada pela Reuters.
Depois de uma guerra comercial que elevou as taxas aduaneiras entre os dois países aos 125%, foi acordada uma trégua, com os produtos agrícolas neste momentos sujeitos a um imposto de 10% – esta é, no entanto, uma tarifa temporária.
“Os agricultores americanos, tal como os chineses, são trabalhadores e humildes. A agricultura não deve ser sequestrada pela política e os agricultores não devem pagar o preço da guerra comercial“, disse ainda o embaixador.
O protecionismo está a alastrar, ensombrando a cooperação agrícola entre a China e os EUA.
Xie Feng, embaixador da China nos EUA
Pelo menos desde 2016 que a China tem vindo a reduzir as importações de produtos agrícolas americanos. A quota de importações de soja dos EUA caiu de 40% nesse ano para 18% em 2024, aumentando a quota de soja importada do Brasil, de 46% para 76%, de acordo com dados alfandegários chineses. No ano passado, o Brasil ultrapassou mesmo os EUA como principal fornecedor de milho.
Mas não foi só ao Brasil que Pequim passou a comprar mais: desde então têm aumentado as importações agrícolas da Argentina, Ucrânia e Austrália, com a própria produção doméstica chinesa a ser reforçada
Num evento relacionado com a indústria da soja, na passada sexta-feira, o embaixador deu números mais atualizados: disse que na primeira metade deste ano, as exportações americanas para a China caíram 53% em relação ao mesmo período de 2024, com a soja com uma queda de 51%.