Algas marinhas do Norte do país, uma poderosa arma “escondida” para sequestro de carbono

Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar) e do Centro de Ciências Marinhas e Ambientais (Mare) identificaram as florestas de algas marinhas da costa Norte como uma “ferramenta natural para mitigar os efeitos das mudanças climáticas”, uma vez que são “aliadas estratégicas na captura e armazenamento de carbono“. O trabalho inédito assinala que este habitat tem características únicas que têm sido subvalorizadas e que importa proteger.

A investigação, liderada pelo investigador Francisco Arenas, do Ciimar, e João Franco, do Mare, com contributo de uma equipa de investigadores de ambos os centros que foi financiada pelo programa BlueGrowth das EAA Grants, e teve como objectivo quantificar pela primeira vez o stock de carbono armazenado por estes habitats no norte de Portugal. “Foi a primeira avaliação do valor do carbono azul associado às florestas de kelps em Portugal”, refere o líder do estudo e investigador do Ciimar.

O trabalho, publicado em Agosto na revista Scientific Reports, focou-se no estudo das florestas marinhas da costa norte de Portugal (algas kelp), em especial nas espécies Laminaria hyperborea e Saccorhiza polyschides, as duas espécies predominantes nesta zona do país. O objectivo era “quantificar as taxas potenciais de armazenamento e sequestro de carbono azul das florestas de algas marinhas submareais no norte de Portugal”, com foco nas espécies referidas.

Mitigar as as alterações climáticas

“O carbono azul engloba o carbono orgânico sequestrado e armazenado pelos ecossistemas costeiros e marinhos, incluindo as florestas de algas marinhas”, esclarecem os autores no artigo. As florestas de kelp, por sua vez, são habitats formados por grandes algas castanhas “que desempenham um papel crucial na manutenção da biodiversidade e na produtividade marinha local”, descreve a nota de imprensa sobre o estudo.

Francisco Arenas, investigador do Ciimar, citado na nota de imprensa, sublinha que estas florestas marinhas são “frequentemente desconhecidas e subvalorizadas, apesar de possuírem um valor ecológico e económico de extrema importância na costa norte de Portugal”. Estes habitats “são fundamentais quer pela sua capacidade de mitigar alterações climáticas, mas também enquanto promotores da biodiversidade local, fornecendo abrigo, alimento e áreas de reprodução para inúmeras espécies marinhas”, acrescentam os investigadores.

Os cientistas alertam, no entanto, que estas áreas “são altamente vulneráveis às alterações climáticas”, tendo já sido detectado “um processo de tropicalização nas águas portuguesas que coloca em risco a biodiversidade associada, e os serviços ecológicos que estas florestas fornecem”.

Área equivalente a cinco mil campos de futebol

Entre os inúmeros “serviços” que fornecem está “a capacidade para capturar e armazenar carbono, o chamado carbono azul, contribuindo para a mitigação das alterações climáticas”, referiu o investigador. Através de medições in situ da extensão da floresta, biomassa, crescimento e teor de carbono, os cientistas concluíram que “estas florestas armazenam cerca de 16,48 gigagramas (Gg) de carbono numa área de 5189 hectares, equivalente a mais de cinco mil campos de futebol”.

“Apesar de cobrirem uma área relativamente pequena face à dimensão do planeta, estas florestas de kelp demonstram uma eficiência de captura de carbono por metro quadrado comparável ou superior a habitats mais extensos”, assinalam. Este valor “corresponde a 14% do carbono azul até agora inventariado para Portugal, cujas estimativas anteriores se restringiam a sapais e pradarias marinhas“.

“Estima-se que estes habitats consigam sequestrar e exportar cerca de um terço do carbono capturado anualmente por todos os habitats vegetais marinhos do país”, destacam ainda os cientistas. “Esta taxa excepcional de sequestro de carbono evidencia o papel essencial, e até agora largamente subvalorizado, das florestas de kelp na mitigação das alterações climáticas.”

De acordo com os cálculos feitos, “quando normalizadas por área, as florestas de algas marinhas sequestram carbono a taxas iguais ou superiores às das salinas e ervas marinhas, sublinhando a sua importância para a gestão regional do carbono”.

Investigadores quiseram quantificar as taxas de armazenamento e sequestro de carbono azul das florestas de algas marinhas no norte de Portugal

Vigiar, conservar e restaurar

“O estudo recomenda políticas específicas para a monitorização, conservação e eventual restauro dessas áreas, reforçando sua importância não apenas como sumidouros de carbono, mas também como habitats vitais para a saúde dos oceanos”, refere o comunicado de imprensa do Ciimar, da Universidade do Porto.

Face à crise climática, os cientistas defendem que a inclusão destas florestas de algas “nas políticas de conservação marinha e de carbono azul seja uma prioridade, tanto a nível nacional quanto global”.

“As hipóteses de exportação influenciam significativamente as estimativas do fluxo total de carbono, e grande parte da costa portuguesa continua a ser pouco estudada. A expansão das avaliações in situ, combinada com a modelação regional, melhoraria as estimativas do carbono azul e lançaria as bases para uma futura avaliação à escala nacional”, defendem os autores no artigo.

“Com a Lei de Restauro da Natureza da União Europeia em fase inicial de implementação, torna-se premente desenvolver e implementar técnicas de restauro ecológico eficazes, particularmente em habitats que apresentam elevada vulnerabilidade, mas também alto potencial de provisão de serviços do ecossistema como é o caso das florestas marinhas”, remata Francisco Arenas.

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