Conheça a obra colossal no Tibete que promete eletricidade para milhões e já gera polémica internacional

image

No coração do Tibete, a China ergue uma das suas obras mais ambiciosas: a megabarragem de Motuo. Classificada como a “obra do século” pelo primeiro-ministro Li Qiang, foi oficialmente lançada a 19 de julho. Quando estiver concluída, deverá produzir três vezes mais eletricidade do que a famosa barragem das Três Gargantas, até hoje o maior projeto hidroelétrico do mundo.

Potência elétrica sem precedentes

A barragem de Motuo deverá gerar cerca de 300 terawatts-hora (TWh) de eletricidade renovável por ano, mais do que a produção elétrica anual de muitos países europeus. Segundo a consultora Capital Economics, este projeto poderá representar mais de 3% de toda a eletricidade renovável mundial, uma quota superior à de países como Alemanha, Japão ou Espanha. Só a China concentra mais de 30% deste mercado.

Investimento gigante e milhares de empregos

Com um custo estimado em 167 mil milhões de dólares, Motuo é colocada ao nível das infraestruturas mais caras de sempre, comparável à Estação Espacial Internacional. A construção prevê criar mais de 200 mil postos de trabalho e reforçar o setor industrial chinês, ao mesmo tempo que acelera a transição energética do país.

Quantidades colossais de materiais

Os números impressionam. Estima-se que a barragem consuma tanto cimento como a Alemanha num ano e aço suficiente para erguer 116 Empire State Buildings. Este volume seria suficiente para construir mais de 50 barragens Hoover, um dos símbolos da engenharia hidroelétrica norte-americana.

Localização estratégica no Yarlung Tsangpo

O rio Yarlung Tsangpo desce mais de 2.000 metros ao longo de apenas 50 quilómetros na região de Motuo, formando uma curva no monte Namcha Barwa. Esta queda de água confere um potencial hidroelétrico raro. O plano inclui túneis de até 20 quilómetros para desviar a água para cinco centrais hidroelétricas, com a maior parte da eletricidade destinada às cidades do leste da China.

Benefícios para a matriz energética

O governo chinês apresenta Motuo como peça-chave para reduzir a dependência do carvão e estabilizar a rede elétrica nacional. Ao contrário do vento ou do sol, a energia hidroelétrica pode ser ajustada à procura, permitindo libertar água quando há maior necessidade e equilibrar a rede.

Preocupação nos países vizinhos

A barragem levanta receios na Índia e no Bangladesh. O Yarlung Tsangpo transforma-se no Brahmaputra ao atravessar a fronteira, sendo vital para milhões de pessoas. Autoridades indianas alertam que alterações no caudal podem afetar gravemente comunidades locais; o ministro-chefe de Arunachal Pradesh chegou a considerar o projeto uma “ameaça existencial” para as tribos da região.

Organizações ambientais sublinham o risco de impactos na biodiversidade e de erosão acelerada em zonas montanhosas. Num contexto de tensões regionais, analistas admitem que o controlo do rio possa ser usado como instrumento estratégico por Pequim.

Alguns especialistas veem no projeto uma forma de absorver parte do excedente siderúrgico da China. Estima-se que Motuo consuma cerca de 1,6% das exportações anuais de aço em 2024, um alívio modesto mas útil para um setor que produz acima da procura.

Impacto real face às renováveis intermitentes

David Oxley, economista-chefe para clima e matérias-primas da Capital Economics, adverte que, embora impactante, Motuo não rivaliza com a expansão da energia solar e eólica que a China tem registado. Ainda assim, distingue-se pela flexibilidade em ajustar a produção elétrica em função da procura, tornando-se um recurso importante para equilibrar a rede.

No fundo, Motuo é apresentada como peça fundamental da estratégia chinesa de transição energética, mas também como um teste geopolítico sobre a gestão dos recursos hídricos na Ásia.

Leia também: O “selo do carro” vai deixar de ser pago no mês da matrícula: saiba o novo prazo definido

Publicidade

Continue a ler este artigo no Postal do Algarve.


Publicado

em

,

por

Etiquetas: