
Civilizações antigas, como os maias, os egípcios e os gregos, estudavam os corpos celestes não apenas para medir o tempo e prever eventos naturais, mas também para atribuir-lhes significados simbólicos. Essa dualidade foi a origem da astronomia e da astrologia, disciplinas intimamente ligadas.
Os primeiros observadores do céu registaram os ciclos lunares e os eclipses, além de interpretar as constelações. Dessa fusão surgiu a crença de que as estrelas poderiam influenciar não apenas a agricultura, mas também a vida humana.
Uma distinção clara entre as duas começou a emergir durante o Renascimento, com o surgimento da ciência moderna. Figuras como Galileu, Kepler e Newton, com base na observação e na matemática, transformaram a astronomia numa ciência empírica, enquanto a astrologia permaneceu uma prática cultural sem validação científica.
Apesar dessa divergência, a confusão persiste até hoje, em parte devido ao facto de ambas as palavras compartilharem a raiz “astro“, o que sugere erroneamente uma relação que já não existe. Portanto, é crucial diferenciar ciência e crença.

Entender esta distinção não tem a intenção de desacreditar a tradição ou o simbolismo cultural oferecido pela astrologia, mas sim fazer-nos discernir quais afirmações são verificáveis e quais pertencem ao reino da interpretação pessoal ou do mito.
O que cada uma estuda
Astronomia é uma ciência natural que se dedica à compreensão do Universo. Estuda planetas, estrelas, galáxias, buracos negros e fenómenos cósmicos com ferramentas como telescópios, sondas espaciais e modelos matemáticos.
As suas descobertas permitem-nos prever eclipses, calcular órbitas, até mesmo detetar planetas noutros sistemas solares, e observar as sombras de buracos negros nos confins do Universo.
A astrologia, por outro lado, interpreta a posição dos astros no nascimento de uma pessoa ou em datas específicas. A partir disso, constrói mapas astrológicos e horóscopos que buscam dar significado à personalidade de uma pessoa ou antecipar eventos: não mede ou demonstra, mas simboliza.
Basicamente, a astronomia descreve como o Universo funciona com base em evidências observáveis, enquanto a astrologia a utiliza como uma linguagem simbólica para discutir a vida humana. Uma é regida pela física e pela matemática; a outra, por arquétipos culturais e tradições interpretativas.
O método faz a diferença
A chave está no método, já que a astronomia é regida pelo método científico:
- Observe;
- Formule hipóteses;
- Faça experiências;
- Obtenha resultados mensuráveis e
- Submeta tudo à revisão por pares.
Assim, as previsões serão confiáveis, como é o caso da previsão da passagem de um cometa ou de uma chuva de meteoros.
A astrologia não atende a esses critérios, porque as suas afirmações não são reproduzíveis nem verificáveis sob condições controladas. De facto, inúmeros estudos estatísticos demonstraram que os mapas astrais não são mais eficazes do que o acaso na previsão da personalidade ou do destino.

Esta diferença metodológica é o que separa uma ciência de uma pseudociência. A astronomia avança acumulando conhecimento verificável, enquanto a astrologia permanece presa a estruturas simbólicas que não mudam mesmo quando contraditas por evidências.
Por que é importante distingui-las
Algumas pessoas veem a astrologia como um entretenimento inofensivo, e em muitos casos é o que acontece. O problema surge quando esta é confundida com ciência e recebe um poder que não possui, por exemplo, o de tomar decisões médicas, económicas ou políticas com base em horóscopos.
Distinguir astronomia e astrologia é, em última análise, uma questão de pensamento crítico. A primeira ajuda-nos a entender melhor o Universo e a desenvolver tecnologias úteis; a segunda, embora não seja científica, pode oferecer narrativas culturais que algumas pessoas valorizam.
E embora ambas existam, não devem ser confundidas, pois pode ser perigoso basear as nossas decisões em algo abstrato e variável de pessoa para pessoa, alimentando um viés de confirmação que muitas vezes pode ser erróneo.
Compreender esta diferença permite-nos apreciar o céu com uma dupla perspetiva: a científica, que explica como as estrelas e os planetas funcionam, e a cultural, que relembra como os antigos imaginavam as suas histórias. Assim, podemos apreciar o firmamento como um laboratório natural ou como um palco para símbolos humanos.