O setor do tabaco em África continua a ser um pilar económico com uma complexa dualidade. Por um lado, é uma fonte de receitas crucial para vários governos e a tábua de salvação para milhões de agregados rurais. Por outro, enfrenta uma crescente incerteza devido às pressões regulamentares globais e aos imperativos de saúde pública.
Os dados recentes destacam a importância crítica desta cultura, em particular nos países da África Austral e Oriental.

Moçambique e a dependência dos meios de subsistência
O impacto do tabaco é mais profundo no contexto rural, onde transcende a mera exportação. Em países como Moçambique, Tanzânia e Zâmbia, a cultura do tabaco é a espinha dorsal dos meios de subsistência rurais.
Para muitos pequenos agricultores, esta é a única cultura comercial fiável que lhes garante uma ligação segura aos mercados internacionais. A estabilidade do rendimento do tabaco é, assim, essencial para a sobrevivência e o desenvolvimento destas comunidades.
O poder das exportações, Zimbabué e Malawi
O poder de exportação africano é dominado por nações que se tornaram fornecedores globais de referência:
- Zimbabué: É o maior exportador de África, celebrado internacionalmente pela alta qualidade das suas folhas curadas por combustão.
- Malawi: A sua situação é ainda mais crítica em termos de dependência, uma vez que mais de 60% das suas receitas de exportação provêm do tabaco. Isto torna a economia do Malawi numa das mais vulneráveis e dependentes do tabaco a nível mundial.
A dupla face, da plantação ao consumo doméstico
A história do tabaco em África complica-se com a evolução do continente para um centro de processamento e consumo:
- África do Sul e Nigéria: Estes países deixaram de ser apenas produtores para se tornarem centros de fabrico de cigarros e consumo significativo.
- Etiópia e Egito: Nestas nações, a produção destina-se, maioritariamente, a suprir a demanda local, focando-se no mercado doméstico.
Esta dualidade – entre a dependência das exportações de folha e o aumento do consumo interno – revela um setor complexo e em rápida mutação.
O futuro em jogo: estratégia e diversificação
A ameaça global de regulamentações antitabagismo mais rígidas paira sobre as economias dependentes. A questão central é se a receita gerada por esta “folha de ouro” pode ser rapidamente transformada num trampolim para modelos agrícolas mais resilientes e diversificados.
Os desafios são enormes:
- Diversificação Rápida: Conseguirão países como o Malawi diversificar a sua economia a tempo de mitigar o risco regulamentar?
- Subida na Cadeia de Valor: Os produtores africanos conseguirão evoluir de exportadores de folhas para processadores e fabricantes, capturando um maior valor económico?
O futuro de Moçambique, e do resto do continente, passa por transformar a dependência do tabaco numa estratégia de desenvolvimento a longo prazo: da sobrevivência através do tabaco para a prosperidade para lá dele.
Edição e adaptação com IA de João Palmeiro com Dishant Shah.

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