“A visão da sociedade sobre o mundo agrícola está a mudar e exige-se cada vez mais dos agricultores”

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Lusodescendente, Jorge Boucas é hoje presidente do Grupo Roullier, que se tem dedicado à nutrição vegetal e animal desde 1959. Com mais de 10 mil trabalhadores e um volume de negócios em torno dos €3 mil milhões, tem em Portugal duas unidades industriais e uma centena de trabalhadores. Numa altura em que a sustentabilidade é vista como “um desafio imenso” para a agricultura, o empresário considera que a tecnologia e a inovação são hoje os maiores aliados de quem todos os dias trabalha a terra para alimentar o mundo.

Poucos dias depois da terceira edição do Prémio Inovação Agricultura Timac Agro Expresso (recorde aqui os vencedores), falámos com Jorge Boucas sobre os desafios do sector e o papel da investigação e desenvolvimento na sua superação.

O Grupo Roullier assume a inovação como o centro da sua identidade. Na sua perspetiva, que áreas de investigação e desenvolvimento vão determinar o próximo salto tecnológico na nutrição vegetal e animal?

A inovação faz parte do ADN do Grupo Roullier, como comprova o nosso primeiro produto, um corretivo tecnológico à base de calcário marinho lançado em 1959. Desde então, temos mantido uma atividade crescente de investigação e desenvolvimento, continuando a criar e a testar novos produtos para dar ao sector agrícola soluções para as várias necessidades.

Atualmente, o nosso Centro Mundial de Inovação (CMI) reúne mais de 120 investigadores de todo o mundo, com o objetivo de transformar a ciência em soluções concretas para os agricultores e preparar a agricultura do futuro. Acreditamos que uma resposta ao nível do aumento de produção e redução do stress das plantas pode ser a chave para garantir futuro na área da nutrição. Por isso, concentramos os nossos esforços em quatro grandes eixos: uma melhor valorização dos minerais essenciais, a resiliência das plantas face ao stress climático, a vitalidade dos solos e a nutrição animal.

“Não temos dúvidas de que a agricultura está no centro do desafio climático, uma vez que sofre os seus efeitos, mas também desempenha um papel fundamental na resposta e na perspetiva de mudança”

No que respeita à área de investigação e desenvolvimento que pode determinar o próximo salto tecnológico, colocamos a ênfase na análise de imagens de satélite, nos modelos históricos de crescimento e nas ferramentas inteligentes que são cada vez mais variadas no apoio à decisão.

Não temos dúvidas de que a agricultura está no centro do desafio climático, uma vez que sofre os seus efeitos, mas também desempenha um papel fundamental na resposta e na perspetiva de mudança. Dessa forma, o nosso compromisso visa conciliar desempenho e sustentabilidade em toda a cadeia, pelo que atuamos em três níveis: nas nossas fábricas, reduzindo a pegada energética; nos nossos fornecimentos, privilegiando recursos responsáveis; e, sobretudo, no campo, onde a fertilização representa o principal desafio. E acreditamos que é aí que a inovação faz a diferença: 100% das nossas soluções devem permitir produzir mais, com um impacto positivo no ambiente.

O grupo assumiu metas de descarbonização ambiciosas, incluindo um plano de investimento de cerca de €100 milhões até 2030. Os maiores desafios estão na indústria, na cadeia de abastecimento ou na utilização dos produtos nos campos?

A fertilização é, ao mesmo tempo, parte do problema e da solução no combate às alterações climáticas. Como é que podemos equilibrar maior produção com a redução de emissões?

Estes dois objetivos não são opostos. Ajudar os agricultores a produzir mais, reduzindo ao mesmo tempo a pegada ambiental, é precisamente o cerne da nossa missão. Para alcançar metas cada vez mais ambiciosas, desenvolvemos soluções que conciliam o desempenho económico, ambiental e social e os nossos investigadores inspiram-se no funcionamento da natureza para melhorar o das culturas.

A título de exemplo, algumas das nossas inovações limitam, por exemplo, a volatilização do azoto, o que reduz as emissões de gases com efeito de estufa e, simultaneamente, melhora a eficiência da planta. É assim que a fertilização se torna uma parte essencial da solução climática.

O sector agrícola vive hoje entre a pressão dos custos, necessidade de maior produtividade e fortes exigências ambientais. Que mudanças estruturais considera inevitáveis nos próximos anos na Europa?

A visão da sociedade sobre o mundo agrícola está a mudar e exige-se cada vez mais dos agricultores. Desde logo, continuarem a fornecer-nos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e a preços acessíveis, mas também é necessário contribuírem para a preservação dos solos, da água e da biodiversidade. É um desafio imenso.

“Hoje, os agricultores são capazes de avaliar problemas complexos, interpretar dados e analisar múltiplas variáveis em simultâneo”

Mas, ao mesmo tempo, a agricultura europeia entra numa nova era. Há mais tecnologia, muito mais aconselhamento de proximidade e mais precisão. Por isso, o nosso papel é antecipar e acompanhar esta transformação com soluções que tornem as explorações simultaneamente mais sustentáveis e mais prósperas.

Olhando para o futuro da agricultura, onde identifica a maior oportunidade de transformação sustentável?

Há mais de 65 anos que uma convicção guia o grupo: o agricultor deve poder aplicar a dose certa, no lugar certo, no momento certo. Esta ideia está hoje mais atual do que nunca. E essa convicção permite conciliar o desempenho económico com a sustentabilidade – a montante, utilizando apenas os recursos necessários, e a jusante, reduzindo as perdas e as emissões. É nesta precisão, possibilitada pela inovação, que reside a maior oportunidade de transformação sustentável da agricultura.

Os prémios Timac Agro Expresso para distinguir a melhor inovação e o melhor projeto agrícola acabaram de premiar mais dois vencedores. O que é que estes prémios revelam sobre o dinamismo da agricultura nacional?

Os Prémios Timac Agro Expresso refletem o dinamismo e a capacidade de inovação da agricultura portuguesa. Estes galardões mostram que o sector está cada vez mais preparado para acompanhar as novas tendências e integrar soluções tecnológicas que otimizam a produção e a sustentabilidade.

O prémio atribuído ao agricultor demonstra que Portugal segue o caminho da inovação. Hoje, os agricultores são capazes de avaliar problemas complexos, interpretar dados e analisar múltiplas variáveis em simultâneo, o que lhes permite gerir as parcelas com uma precisão cada vez maior. Pretende-se que os agricultores premiados se tornem uma referência para o sector agrícola.

Já o prémio de inovação sublinha o papel da Timac Agro como agente ativo na transferência de conhecimento. Queremos destacar os projetos desenvolvidos no último ano que tenham um impacto real na agricultura de 2025, valorizando quem produz conhecimento e impulsiona a evolução do sector. Este prémio é, portanto, um exemplo prático do nosso compromisso com a inovação e com o progresso da agricultura nacional.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

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