ANIPLA e ANPROMIS debatem produção fitossanitária e produtividade no sector agrícola

A ANIPLA e a ANPROMIS promoveram, no passado dia 8 de Fevereiro, um painel sobre produtividade e a importância da protecção fitossanitária para o sector, no âmbito do XI Congresso Nacional do Milho.

O debate foi moderado por José Diogo Albuquerque, administrador do Agroportal, e contou com um relevante painel de oradores.

Entre os participantes estava Hedda Eggeling, representante da consultora holandesa Steward Redqueen, que apresentou as premissas e principais conclusões do estudo desenvolvido para a European Crop Protection Association (ECPA), sobre o impacto que o processo de decisão e regulamentação tem no processo e produção agrícola na Europa.

O estudo, que tem como ponto de partida 75 substâncias activas em comercialização no espaço europeu que poderão vir a ser retiradas do mercado, avalia a sustentabilidade destas medidas em mais de 24 tipos de culturas agrícolas, em 9 países europeus, extrapolando os resultados para todos os restantes Estados-Membros.

Perante uma sala cheia, as conclusões apresentadas eram inequívocas e demonstraram o efeito positivo na produtividade que a utilização destas substâncias representa no espaço agrícola e o menor impacto na pegada de carbono.

Se considerarmos que sem estas substâncias poderemos ter que importar alguns produtos agrícolas para colmatar as necessidades do mercado, temos ainda que incluir outros custos financeiros e ambientais, como por exemplo o aumento em 15% da área cultivada no espaço europeu”, partilhou Hedda Eggeling.

A retirada desta tecnologia da produção traz, inevitavelmente, um prejuízo insuportável para uma cultura como o milho, que tem um break even muito apertado” [António Lopes Dias, Director Executivo da Anipla]

António Lopes Dias, Director Executivo da ANIPLA reforçou a necessidade de boas condições de produção para o sector agrícola por forma a cumprir a sua missão de alimentação de uma população mundial em crescimento, onde é necessário, não apenas maior quantidade de alimentos, mas novos alimentos, com a mesma segurança e sustentabilidade.

Baseado nos mesmos dados e pressupostos da apresentação de Hedda Eggeling, que revelam a importância dos produtos fitofarmacêuticos para uma agricultura sustentável e competitiva, António Lopes Dias apelou à missão fundamental da ciência, da inovação e da tecnologia na agricultura, em oposição à especulação da avaliação apenas baseada no perigo destas substâncias.

De forma clara e ilustrando com dados actuais do sector, o director executivo da ANIPLA referiu que, actualmente, o reduzido número de substâncias activas disponíveis aos agricultores europeus, face à disponibilidade em outros mercados, retira tecnologia e competitividade ao sector.

Reportando ao estudo que a ANIPLA realizou ao impacto da retirada das substâncias mais utilizadas pelo sector agrícola português, revelou a demonstração, inequívoca, do risco de uma queda de cerca de 60% na produção do milho/grão, o que representaria uma quebra de milhões de euros para o País.

Se compararmos o perigo da exposição da população às substâncias dos fitofarmacêuticos, com a exposição das pessoas ao sol, é fácil entendermos que o perigo não está na substância, mas na má utilização destas substâncias”, partilhou António Lopes Dias. “A retirada desta tecnologia da produção traz, inevitavelmente, um prejuízo insuportável para uma cultura como o milho, que tem um break even muito apertado”, concluiu.

Para exportar, temos que garantir que cumprimos os requisitos fitossanitários dos países destino, com exigências de tal maneira elevadas que precisamos de encontrar soluções de protecção das culturas no nosso território” [Paula Carvalho, subdirectora da DGAV]

A relevância da discussão deste assunto na realidade social e económica actual foi evidenciada pela Subdirectora da Direcção Geral Agricultura e Veterinária (DGAV), Paula Carvalho, que sublinhou o grande desafio de uma discussão séria em torno da protecção das culturas. Relembrou que a actual política comunitária para os produtos fitofarmacêuticos pretende garantir um elevado nível de segurança para o consumidor, proteger a saúde humana e animal, assegurando a competitividade da agricultura europeia.

De acordo com a responsável da DGAV, a actual legislação e os novos critérios toxicológicos e ambientais europeus prevêem que cerca de 10 a 15% das substâncias activas actualmente disponíveis na Europa possam ainda vir a ser eliminadas,  o que aumenta exponencialmente o risco das culturas e prejudica a sustentabilidade do sector, no momento em que os produtores lutam contra uma tipologia de doenças e pragas nas culturas, cada vez mais grave e de maior intensidade.

Reforçando a necessidade de as culturas portuguesas serem competitivas, Paula Carvalho referiu que “O Senhor Ministro [da agricultura] falou na estratégia de diversificação do mercado e exportação dos nossos produtos (…) mas, para exportar, temos que garantir que cumprimos os requisitos fitossanitários dos países destino, com exigências de tal maneira elevadas que precisamos de encontrar soluções de protecção das culturas no nosso território”.

Na perspetiva do consumidor, referiu também a importância da sensibilização da sociedade civil para os produtos fitofarmacêuticos, porque estes mantêm “uma visão deturpada da sua utilidade”.

Se queremos uma agricultura competitiva temos que ter as mesmas ferramentas que os nossos competidores” [Paulo Lourenço, Direcção da Anipla]

Para Paulo Lourenço, da direcção da ANIPLA, a notória adversidade da Europa ao risco, “reflecte-se nas decisões e regulamentação existente. Actualmente, passámos da avaliação do risco para a avaliação do perigo”, o que leva à exclusão de um número elevado de substâncias que poderiam ser seguras se devidamente aplicadas.

Para o responsável da ANIPLA, a retirada de muitas destas substâncias tem um impacto social, económico e ambiental negativo.“Temos que fazer chegar aos decisores os nossos problemas. Se queremos uma agricultura competitiva temos que ter as mesmas ferramentas que os nossos competidores”.

Algumas substâncias aprovadas em outros países demoram, cerca de oito anos a chegar à nossa produção” [Joaquim Pedro Torres, Presidente da Globalmilho]

Na perspetiva do produtor, Joaquim Pedro Torres, Presidente da Globalmilho, demonstrou elevada preocupação pela perda de competitividade numa produção com elevados custos e sem acesso a agroquímicos para a segurança das culturas, “Algumas substâncias aprovadas em outros países demoram, cerca de oito anos a chegar à nossa produção”.

A discussão evidenciou a necessidade detectada pelo sector agrícola de informação à sociedade civil, mas também da necessidade de consciencialização dos reguladores das necessidades reais dos produtores europeus para fazer face à crescente vaga e força das pragas e a um exigente e competitivo mercado mundial.


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