Startups: A nova fonte de inovação para o sector agrícola – Cristina Mota Capitão

O sector agrícola enfrenta diversos desafios que têm implicações à escala global, como sejam a escassez de água e outros recursos, as alterações climáticas e o crescimento da população mundial, entre outros. A utilização da tecnologia aparece como uma ferramenta útil para enfrentar estes desafios, sendo a digitalização e a utilização de aparelhos móveis fatores-chave para a sua penetração na agricultura. No entanto, a agricultura é um dos sectores menos digitalizado a nível mundial.

Nos últimos anos, particularmente desde 2014, tem-se assistido a um crescimento considerável no aparecimento de startups que desenvolvem soluções tecnológicas para o sector agrícola em todo o mundo. O investimento em startups agtech tem tido um crescimento exponencial e em 2017 este investimento já ultrapassou os 100 milhões de dólares.

O sector agrícola tem captado especial atenção por parte destas startups que o têm alterado em diversos aspetos, trazendo a tecnologia para resolver muitos dos seus desafios. Software de gestão agrícola, agricultura de precisão e análise preditiva, robótica e drones, sensores e irrigação inteligente, são algumas das áreas em que as startups estão a trazer disrupção ao sector.

A tecnologia está a mudar a vida dos consumidores e das empresas a uma velocidade sem precedentes e o sector agrícola não é exceção. Aqueles que não acompanharem esta transformação irão tornar-se obsoletos mais rapidamente do que se possa imaginar.

As empresas do sector agrícola terão necessariamente de começar a olhar para as startups como uma fonte de inovação e de tecnologia. Num mundo cada vez mais global e em rede, a capacidade para uma dada empresa se manter disruptiva é reduzida, já que ninguém detém todo o conhecimento e as competências para inovar sozinho. É preciso inovar em conjunto e atualmente assiste-se a um movimento único, onde grandes empresas colaboram com startups.

Quem é a Amazon ou a Uber da agricultura? Quais são as tendências de negócio que estão a surgir globalmente? Identificar estes modelos disruptivos será fundamental para perceber como se dará a evolução do sector agrícola nas próximas décadas.

Posso afirmar que a colaboração com as startups é uma nova fonte de inovação para as empresas. Tradicionalmente, a inovação é desenvolvida recorrendo a núcleos internos de I&D ou a colaboração com as entidades do sistema científico e tecnológico, como sejam as universidades ou os centros de investigação e desenvolvimento.

E por que serão as startups esta nova fonte de inovação para as empresas estabelecidas? Porque as startups têm na sua essência aquilo que as empresas estabelecidas não têm e que no mundo global em que vivemos é o factor-chave para o sucesso: agilidade.

Dois dos princípios gerais desta agilidade são:

1. Em detrimento de passar meses a planear e a investigar, as startups aceitam que tudo o que possuem no dia em que começam é uma série de hipóteses não testadas (ou seja, apenas têm bons palpites…).

2. As startups utilizam a abordagem Get Out of the Building, ou seja, “vão para a rua” testar as suas hipóteses, reunindo evidências para verificar se estas são verdadeiras ou falsas. Neste processo é dada uma grande ênfase à agilidade com que as startups conseguem construir um Produto Minimamente Viável (MVP – Minimum Viable Product), que é depois apresentado aos potenciais utilizadores. Após o seu feedback, as startups revêem as suas hipóteses e mudam-nas ou validam-nas consoante os resultados obtidos.

Esta agilidade no desenvolvimento de soluções é uma das grandes vantagens de trabalhar com startups, já que muito do trabalho duro já está feito, estando a solução (geralmente) construída. A empresa irá atuar como escala e máquina de distribuição, alavancando a tecnologia da startup e acelerando o seu time to market.

Mas como em tudo na vida, não há bela sem senão. Trabalhar com startups pode ser, à partida, uma tarefa difícil, já que são dois mundos muito distintos e com linguagens diferentes.

A entrada de uma entidade parceira que facilite esta relação entre startups e empresas é fundamental para parcerias de sucesso. Esta entidade deve conhecer as startups e entender as necessidades das empresas. Em Portugal, uma das entidades que tem potenciado este processo de inovação colaborativa é a INOVISA, através da iniciativa cropUP.

O objetivo é apoiar empreendedores e startups a desenvolverem soluções que tragam inovação ao sector, por um lado, e, por outro, apoiar as empresas do sector agroalimentar e florestal a colaborarem com estas startups. Está a ser criado um ecossistema de inovação agtech em todo o mundo e Portugal não pode ficar de fora. É fundamental que mais empreendedores olhem para o sector agrícola como mercado potencial para as suas soluções tecnológicas e que mais empresas do sector absorvam esta inovação. Sendo Portugal altamente qualificado em termos de quadros técnicos relacionados com tecnologia e sendo um país com agricultura de excelência, teremos todos os ingredientes para podermos vir a criar diversos negócios agtech competitivos à escala global.

Cristina Mota Capitão

Coordenadora – BOOST

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