Portugal viveu um 2017 “estranho e contraditório”. É o Presidente da República quem o diz e obriga-nos a recapitular as “reconfortantes alegrias” que vivemos, mas, acima de tudo, as “profundas tristezas” em que mergulhámos durante o ano que findou.
Os cidadãos, coletivamente, viveram boas emoções – “o triunfo europeu da nossa música, os excecionais galardões no turismo, o sucesso reiterado no digital, os êxitos nas artes, na ciência, no desporto, colocando Portugal como um destino cimeiro” – e, verdade seja dita, as empresas e os operadores económicos também sentiram bons sinais.
Atentemos: as finanças públicas estabilizaram (a execução orçamental até Novembro revela uma melhoria do saldo das Administrações Públicas de 2326 milhões de euros), a economia e o emprego cresceram (o desemprego reduziu para 8,5% em outubro e é o mais baixo desde Abril de 2008), os juros baixaram e a dívida pública idem (esta reduziu 2,5 mil milhões em Novembro), a Europa ditou o fim do défice excessivo (o de Portugal em 2017 ficará muito próximo de 1% do PIB) e confiou em Mário Centeno para liderar o Eurogrupo, a Standard & Poor’s subiu o ‘rating’ de Portugal para BBB- e a Fitch levantou a notação de alto risco que atribuía a Portugal desde 2011 passando-a de BB+ para BBB e, por fim, o indicador de confiança da indústria transformadora aumentou entre Setembro e Dezembro, retomando o perfil ascendente iniciado em Junho de 2016, segundo dados desta semana do INE.
Como diz Marcelo Rebelo de Sousa, se 2017 tivesse findado a 16 de Junho, ou, então, se os mortíferos incêndios de 17 desse mês, a juntar aos de 15 e 16 de outubro, não tivessem revelado falhas imperdoáveis do Estado português e a anedota do furto em Tancos não nos tivesse feito corar de vergonha, o balanço de 2017 era francamente positivo. Assim, não foi. Houve estranhezas e contraditoriedades pelo caminho e pelo menos estas duas nódoas negras pairarão na nossa memória nos tempos mais próximos.
Em 2018, precisamos de nos reinventar e de reganhar o futuro. Para que, nos momentos absolutamente críticos que a imprevisibilidade do futuro nos reserve, a missão essencial do Estado não falhe nem se isente de responsabilidade.