Chove a cântaros em Portugal por estes dias e neva com intensidade em algumas zonas do país, mas Janeiro de 2018 foi o décimo mês consecutivo com precipitação inferior à normalidade climatológica (média 1971- 2000) e 56% do território continental estava em seca severa, em especial a sul do Tejo e no interior Norte e Centro.
À margem de uma visita a Berlim, em Fevereiro, à feira Fruit Logistica, para se inteirar da dinâmica exportadora das empresas de frutas e legumes, o secretário de Estado da Agricultura disse o óbvio: “o Governo ainda não tem o condão de mandar chover”. Tem razão Luís Vieira. A chuva é um fenómeno meteorológico sem aparente intervenção humana e sobre o qual a ação governativa nada pode.
Mas já não é tanto assim quanto à prevenção e mitigação das alterações climáticas e da escassez de pluviosidade e quanto às consequentes dificuldades de acesso à água para a agricultura.
A UE começou a discutir esta semana o quadro financeiro plurianual pós-‘Brexit’ (2021-2027) e, em cima da mesa, há-de estar o futuro orçamento da PAC para o mesmo período. É, pois, dever de Portugal intervir ativamente na discussão deste dossier, mas, sobretudo, zelar pelos seus interesses, em articulação com os países do Sul, tão ou mais atingidos pelas mudanças climáticas que estão à vista.
Itália enfrenta uma das piores secas das últimas décadas e, há escassas semanas, vimos gôndolas encalhadas em Veneza e alguns canais sem água. Em Espanha, há 22 anos que os reservatórios de água não eram tão baixos. A escassez atípica de chuva levou a Confederação Hidrográfica do Tejo a afirmar que o volume de água armazenado na bacia do Tejo em Espanha é “notavelmente inferior” à média dos últimos 5/10 anos.
Haja, pois, firmeza política e visão de longo prazo para, cá dentro e na UE, acautelar o futuro da agricultura e da economia do país.
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