Digitização na agricultura – problemas e desafios – Senka Gajinov

Recursos naturais limitados e um número decrescente de pessoas a trabalhar no sector agrícola, combinados com a crescente procura de alimentos causadas pela crescente população global, forçam a agricultura a produzir mais com menos.  Para ser capaz de atingir uma meta ambiciosa, toda a cadeia de valor, desde a produção agrícola primária até à logística, retalho e, finalmente, a reciclagem, deve ser melhorada e tornada mais eficiente. O desafio crucial da agricultura passa por gerar maiores produções por hectare e melhorar a produtividade (qualidade), reduzindo o custo e usando os recursos naturais. Um dos principais facilitadores para enfrentar este grande desafio é a digitização.

O sector agroalimentar moderno já depende de avanços tecnológicos e científicos, desde o uso de variedades de alta qualidade e alto rendimento, até máquinas agrícolas modernas, novos fertilizantes e produtos químicos poderosos. No entanto, ao mesmo tempo não está equipado com tecnologia de informação. Felizmente, a nova geração de agricultores está interessada em usar novas tecnologias nas suas explorações, o que combina muito bem com a evolução tecnológica e o desenvolvimento de novas soluções digitais.

O primeiro passo para a digitização na agricultura foi a criação de soluções digitais que abordam aspetos específicos da produção agrícola de forma isolada. Várias dessas soluções estão disponíveis no mercado. Estas soluções geralmente oferecem a visualização de dados brutos que resultam de um conjunto de sensores, sem fornecer informações significativas de análise de dados e de suporte à decisão. Mais importante, estas soluções são geralmente projetadas como silos e, como tal, não permitem a gestão integrada das operações na exploração agrícola. Embora esta abordagem seja aceitável nas fases iniciais da evolução agrotecnológica, de futuro esta terá que mudar. A mudança terá que favorecer uma abordagem que permita uma visão mais integrada das operações na exploração agrícola, aproveitando interfaces abertas para dar suporte à criação de um hub capaz de conectar diferentes máquinas agrícolas e serviços para capturar um conjunto de dados sobre o status da exploração agrícola e usá-los para gerar decisões bem informadas, melhorando assim a eficiência geral das explorações. Soluções capazes de fornecer uma visão tão abrangente serão capazes de levar à produção agrícola um passo à frente. Tais soluções devem permitir a fácil fusão de dados, vindos de diversas fontes, a partir de dispositivos, máquinas e sensores fornecidos por diferentes fornecedores, bem como interagir com os serviços terceiros.

A criação de tais sistemas dependerá da riqueza do ecossistema que suporta a implementação e manutenção da solução geral: fornecedores de hardware (sensores), fabricantes de máquinas, especialistas em agricultura, provedores de sistemas de nuvem (cloud services), integradores de sistema e “software developers”. Estes, são parte interessada importante para que as soluções AgTech tenham sucesso e sejam sustentáveis.

A plataforma agroNET representa um exemplo de uma solução integrada, que suporta múltiplas operações agrícolas e habilita o ativo completo de uma exploração agrícola (tractores, máquinas, sistemas de irrigação, geradores a diesel, estações meteorológicas, armadilhas de insetos, sensores, etc.), a gestão e monitorização de atividades da exploração como um todo. Tendo estabelecido uma visão integrada das operações das explorações com uma série de dados prontamente disponíveis, superando assim a fragmentação de dados gerados por equipamentos de diferentes fornecedores, a plataforma fornece uma gama de serviços de análise de dados especializados, projetados para fornecer orientação just-in-time e apoio aos agricultores, permitindo assim a automação das atividades e a consequente diminuição da mão-de-obra.

A digitização, não só da produção agrícola primária, mas também da cadeia de valor completa (“from farm to fork”) é igualmente importante, especialmente tendo em conta o número de produtos falsificados existentes no mercado e os receios alimentares que resultam da retirada de alimentos das lojas. A transparência na cadeia de abastecimento alimentar, sendo capaz de fornecer informações confiáveis e imutáveis sobre a origem dos alimentos e de como estas foram tratadas dentro da cadeia de valor está a tornar-se um dos maiores requisitos dos consumidores, que estão preocupados com a segurança e qualidade alimentar. Várias iniciativas, para abordar estes aspetos, estão a começar a ser colocadas em prática, desde projetos de investigação e inovação (I&I), de que é exemplo o TagItSmart (www.tagitsmart.eu) até atividades relacionadas com o estabelecimento de um passaporte de produtos, contendo informações sobre itens individuais e até pilotos pré-comerciais baseados em blockchain (exemplo: www.origintrail.io). Para esse fim, a agroNET está a aumentar os seus serviços de modo a fornecer a funcionalidade do passaporte do produto.

Os “early adopters” de soluções digitais são geralmente grandes empresas agrícolas, que fazem a gestão de um grande número de hectares e que têm as suas próprias máquinas, armazéns, silos, etc. A principal barreira para uma adoção mais rápida de soluções digitais é a falta de cálculos de retorno de investimento baseados em evidências. Uma vez que este exige várias campanhas, o retorno sobre o investimento geralmente é, no início, baseado em estimativas. Em vez disso, inicialmente, os benefícios podem ser explicados através das otimizações feitas em cada etapa de produção, resultando numa redução de custos e aumento de lucro, que será seguido pelo cálculo do rendimento e do aumento da qualidade com base nos dados reais coletados durante várias temporadas. Essa abordagem pode ajudar numa adoção mais rápida de novas tecnologias e na digitização da agricultura.

 

Senka Gajinov

Product manager – Digital farming solutions – agroNET 


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