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A importância da informação no desenvolvimento agropecuário sustentável – Miguel Damas de Matos

O sistema alimentar mundial está a passar por transformações profundas como resultado de pressões antropogénicas. A crescente população humana (estimada em mais de 9 mil milhões até 2050), juntamente com mudanças nos padrões de consumo (aumento da procura de proteína animal) causada pela urbanização, aumento do rendimento per capita disponível, assim como preocupações nutricionais e ambientais estão a moldar o que comemos, nas suas vertentes do quê e quanto comemos, mais do que nunca.

A produção pecuária global tem vindo a aumentar substancialmente desde a década de 1960. Assim, a produção de carne bovina mais que duplicou, desde aquela data, e simultaneamente, a produção de carne de frango cresceu cerca de 10 vezes, aumentos estes verificados, tanto ao nível do número de animais como na produtividade.

A produção animal é já um dos setores mais exigentes em termos do uso de recursos e intensidade de emissões. Um terço da terra arável global é utilizada na produção agrícola, onde cerca de 13 mil milhões de toneladas de dejetos animais são produzidos anualmente (com a pressão associada para a sua utilização ou neutralização), 70% da água potável é usada na agricultura, sendo 1/3 especificamente direcionada para ração animal. Finalmente, a pecuária é responsável por 15% dos gases de efeito estufa, com especial destaque para a criação bovina que responde por 2/3 destes valores.

A atual situação e o crescente aumento da preocupação em relação à saúde, bem-estar, condições de vida dos animais e o impacto que a pecuária gera sobre os recursos naturais, faz com que todos nós como consumidores, queiramos ter acesso a melhores e mais detalhadas informações sobre os produtos que consumimos, dando-nos a tecnologia essa possibilidade e capacidade.

Aviários e salas de produção animal com recurso a genética melhorada, rações otimizadas para cada fase de crescimento dos animais, assim como o uso de controladores de alimentação e controladores ambientais são uma realidade nos Países desenvolvidos, sempre com o objetivo de dar resposta à procura global de proteína animal.

Sendo difícil garantir o aumento da produção animal baseada nos 2 pilares – genética e alimentação animal – a informação recolhida, assim como os dados gerados pelos equipamentos instalados nas salas de produção, passaram a ter uma importância acrescida neste desiderato.

Todos estes sistemas produzem uma quantidade considerável de informação por cada ciclo de produção animal. Infelizmente a maioria dessas informações é perdida, devido ao facto de os sistemas estarem frequentemente off-line, pois a sua função primária é a de garantir as melhores condições de produção, de acordo com a genética dos animais e experiência de produção animal dos fabricantes desses sistemas, como por exemplo a ventilação, o controlo de temperatura, distribuição de alimento ou fornecimento de água.

O desenvolvimento continuo ao nível dos equipamentos e das tecnologias existentes contribuíram para que o mercado sofresse uma alteração significativa com o surgimento de sistemas baseados em IoT, computação na nuvem, inteligência artificial, Big Data Analytics, entre outros.

Esta nova realidade em que existe a possibilidade de criar valor com base na informação, leva ao surgimento de novos atores ou parceiros de negócio, como é o caso dos inovadores ao nível de oferta de produtos ou de sistemas, das empresas provedoras ou corretoras dos dados e finalmente os integradores da cadeia de valor ou os colaboradores da rede de distribuição.

Os grupos profissionais de produção animal, devido à sua cada vez maior dimensão, bem como à forma como estão organizados, perceberam que o valor dos dados aumenta quando os dados (des) estruturados são processados, enriquecidos e analisados ​​para criar insights acionáveis, com impacto direto em toda a cadeia de valor e na rentabilidade geral do negócio.

Assim a partilha da informação entre os vários stakeholders, como sejam, criadores, veterinários, matadouros, processadores de carne e produtores de ração animal, potencia a redução de desperdícios e otimiza todos os processos produtivos.

Uma produção, nutrição e gestão de resíduos mais inteligentes, bem como o aumento do bem-estar animal e uma melhor informação dos consumidores, têm assim o potencial de aumentar a disponibilidade de proteína animal e diminuir o impacto da produção animal nos recursos naturais disponíveis.

Em conclusão e convicto de que a digitalização tem um enorme impacto em ganhos de produtividade, a realidade é que, no longo prazo, a procura por proteína animal só pode ser satisfeita com mudanças significativas do lado dos consumidores, passando por exemplo, por uma redução na procura de carne de vaca, uma maior apetência por produtos sucedâneos e finalmente uma maior partilha de informação.

Existe a necessidade de alimentar uma população sempre crescente e cada vez mais preocupada com os recursos naturais e com o mundo que pretende seja deixado às gerações futuras. Estes são os desafios que enfrentamos atualmente e para os quais várias entidades procuram dar resposta.

 

Miguel Damas de Matos

Business Development Director at FarmCloud


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