Cimeira no Porto quer pôr Portugal no centro do debate da gastronomia

[Fonte: Público]

Chama-se Melting Gastronomy Summit e já tem data marcada: Novembro de 2019 na Alfândega do Porto. Organização promete presença de figuras como o chef brasileiro Alex Atala e Carlo Petrini, fundador da Slow Food.

Portugal está a viver “um momento único, provavelmente irrepetível” e deve aproveitá-lo para se colocar no centro dos debates mundiais em torno da gastronomia e da alimentação, defende António de Souza-Cardoso, presidente da Agavi (Associação para a Promoção da Gastronomia, Vinho, Produtos Regionais e Biodiversidade, fundada em 2010 e baseada no Porto). É para isso que foi pensada a Melting Gastronomy Summit, marcada para daqui a um ano, dias 14, 15 e 16 de Novembro de 2019, no Edifício da Alfândega do Porto.

A iniciativa da Agavi, que quer “fazer valer o capital simbólico dos portugueses como iniciadores da primeira grande globalização”, inspira-se no Sensacionismo, movimento criado por Fernando Pessoa, para propor três dias de debates com oradores nacionais e internacionais, tendo como curadores Miguel Esteves Cardoso, Ricardo Dias Felner, Nuno Queiroz Ribeiro e José Diogo Albuquerque.

Para já, e ainda em fase de convites (e de procura de financiamento, quer público quer privado), a organização anuncia a participação do chef brasileiro Alex Atala (fundador do Instituto Ata pela defesa da biodiversidade), Ana Elisa de Castro, do NOS Escola (alimentação saudável), vinda também do Brasil, o italiano Carlo Petrini, presidente do Slow Food Internacional, o norte-americano Chad Robertson, da Baker Tartine, figura de referência no que diz respeito ao pão, a holandesa Marije Vogelzang, do Eating Design, Rafael Ansón, da Academia Internacional de Gastronomia e Sylvia Earle, bióloga marinha norte-americana e activista pela defesa dos oceanos.

O objectivo é contar também com “os mais relevantes chefs de cozinha, produtores e agentes económicos” nacionais, estando, para já, confirmados os nomes dos chefs Vasco Coelho Santos (Euskalduna, Porto) e Miguel Rocha Vieira (que deixou recentemente a Fortaleza do Guincho, em Cascais).

Dado que o Sensacionismo afirma a primordialidade da sensação, é pelas sensações que a Melting Gastronomy Summit pretende começar, para terminar no que a organização espera que seja um conjunto de iniciativas concretas, projectos ligados à alimentação que aqui encontrem possibilidades de financiamento e de concretização – à semelhança do que acontece na área da tecnologia com a Web Summit, que se tem realizado em Lisboa.

As Sensações, primeiro módulo da cimeira, estão nas mãos de Miguel Esteves Cardoso, “uma pessoa dos sentidos”, nas palavras de António de Souza-Cardoso. “Deixamos muito ao curador a forma como ele vai construir o seu painel. Com o Miguel, o objectivo é despertar sensações, mostrar os grandes tesouros de Portugal.”.

O tema que coube ao jornalista Ricardo Dias Felner foi o das sugestões, que irá centrar-se na ideia de partilha. “O Ricardo já garantiu a presença do Chad Robertson, que é um grande homem do pão”, explica o presidente da Agavi. “E o pão vai entrar pela conversa dentro, as pessoas vão ser convidadas a prová-lo e a perceber qual o significado deste pão e deste vinho que o Ricardo escolheu como tema.”

Segue-se o painel da Consciência, que tem como curador Nuno Queiroz Ribeiro, promotor de uma “alimentação consciente e saudável”. Aí, refere António de Souza-Cardoso, “vamos pensar no que o futuro do alimento significa para o ambiente, no que é um alimento justo, na nossa saúde”. Ganhar consciência, sublinha, “é apercebermo-nos melhor da realidade para depois estarmos aptos a construir”.

E a Construção é precisamente o último módulo, cuja concepção foi confiada a José Diogo Albuquerque, antigo secretário de Estado da Agricultura e fundador do Agroportal. “Aqui passamos a uma realidade menos filosófica, mais assente no terreno.” E a expectativa é juntar investidores e empreendedores para sessões de pitching que possam resultar em pelo menos “150 novos negócios, ligados sobretudo ao smart farm e ao agrotech, mas também ao turismo”.

A grande aposta da Agavi nesta iniciativa – que se pretende que aconteça de dois em dois anos – passa por garantir a continuidade (“queremos monotorizar todos os projectos que sobrevivam ao pitching”) e por criar redes que façam viver a Melting através de diferentes vias. Para isso, a Agavi está já a trabalhar com a Rede Mundial de Cidades Magalhânicas (a rota traçada por Fernão de Magalhães há 500 anos) e a desenvolver contactos com a Academia Internacional de Gastronomia e o Slow Food International.

Alexandra Prado Coelho

13 de Dezembro


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