[Fonte: TSF]
O milho está barato mas produzi-lo é cada vez mais caro
Cerca de 600 agricultores de Portugal e Espanha debatem os desafios do setor. Do impacto das alterações climáticas à competitividade da produção de milho nos países do sul da Europa.
É o primeiro encontro ibérico e junta 600 agricultores esta quarta e quinta-feira, em Lisboa, para debater os desafios que se colocam a uma das mais importantes culturas da Península Ibérica.
Os desafios do setor para as próximas décadas, o impacto das alterações climáticas e a competitividade da produção de milho nos países do sul da Europa são alguns dos temas em discussão neste primeiro encontro ibérico, promovido pela Associação dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal (Anpromis) e a Associação Geral dos Produtores de Milho de Espanha (Agpme).
Responsável pela produção de mais de mil toneladas de milho grão, António Augusto Lopes é um dos maiores produtores da região de Entre Douro e Minho, onde o milho é cultura dominante. Os campos, entre Vila do Conde e a Maia, estão por esta altura em repouso à espera da próxima sementeira, lá para março ou abril. A colheita ocorre entre meados de setembro até meados de dezembro, “dependendo da variedade e do ciclo do milho utilizado”.
Permanecer nesta atividade tem sido uma batalha: “Temos tentado aumentar a área e racionalizar a adubação, mais de acordo com as necessidades da terra. Também é importante arranjar variedades que consigam responder em termos de produção e tentar mecanizar para minimizar os custos”, revela António Augusto.
Os preços pagos ao produtor “tiveram uma descida e mantêm-se estáveis desde há quatro anos sem recuperação”, lamenta, acrescentando que gostava de ver “valorizado o nosso produto nacional, que deveria ser pago a um preço mais elevado em relação ao que é importado porque tem uma qualidade intrínseca superior”.
A modernização com recurso a novas tecnologias que ajudem a reduzir custos e a aumentar a produtividade é um dos assuntos que estarão em discussão no I Congresso Ibérico do Milho, mas também as alterações climáticas. António Augusto Lopes confirma que “os verões são cada vez mais secos, gasta-se mais água e isso tem custos”, uma realidade que “tentamos contornar, semeando mais cedo com ciclos mais precoces para tentar fugir ao consumo de água mas é sempre complicado”.
Este produtor escusa-se, porém, a revelar a quantidade de água gasta por hectare por temer que “alguns setores da sociedade se virem contra nós, por desperdiçar tanta água para produzir milho”. Não ignora a necessidade de encontrar novas técnicas para minimizar os impactos ambientais mas para isso, sublinhou, são necessários apoios, “não podemos fazer tudo sozinhos”.
Apesar das dificuldades, António Augusto garante que assumiu “compromisso de honra perante mim próprio que vou acabar na agricultura de forma saudável e de cabeça erguida”. Filho de agricultor, a vida no campo ficou-lhe no sangue desde o tempo “em que desfolhava o milho e carregava espigas às costas para o espigueiro”. Um tempo em que as crianças brincavam entre os três metros de altura dos campos de milho, “a arrancar o cabelo da espiga para fazer umas brincadeiras”.
Ainda hoje o milho é uma das principais culturas do Entre Douro e Minho, sobretudo o milho forragem como base da alimentação animal na produção de leite e carne.