As tendências globais da sociedade e da economia colocam novos desafios à produção e consumo agroalimentar. O crescimento demográfico e a urbanização acelerada, a globalização das cadeias de valor e as novas realidades económicas e sociais das economias emergentes, surgem como fenómenos marcantes do século XXI e, num quadro de alterações climáticas, têm forte impacte nas decisões do setor agroalimentar. Perspetiva-se que o sistema de produção alimentar caminhe para a insustentabilidade, colocando em causa a satisfação das necessidades de uma população mundial que se prevê vir a atingir os 9,8 mil milhões em 2050. Considerar nas decisões de produção e consumo a inevitabilidade de recursos escassos e comprometidos, ao mesmo tempo que se reduz o impacto sobre o meio ambiente, são desafios que apenas encontram resposta quando abordados através de uma profunda compreensão da interação entre a ecologia e a socio-economia; uma vertente que é integrada nas denominadas Ciências da Sustentabilidade.
Alimentar o planeta de forma eficiente, adequada, equitativa e sustentável
Fatores como a crescente competição por energia, solo arável e água com qualidade e não-poluídos, as limitações ao uso de alguns fertilizantes naturais, a perda de biodiversidade ou a exploração excessiva da pesca, afetam a capacidade de produzir e fornecer alimentos. A atividade agrícola, pelo expressivo consumo e dependência quanto a recursos naturais e energéticos, pode representar um peso significativo para a (in)sustentabilidade do planeta. A atividade agrícola utiliza cerca de 70% dos recursos hídricos disponíveis para consumo humano, é responsável por cerca de 30% das emissão de gases causadores do efeito estufa, é uma importante fonte de nitratos, cerca de 25% da área fértil apresenta alguma forma de degradação do solo e mais de 30% dos alimentos produzidos são perdidos ou desperdiçados, não chegando a ser consumidos.
Na vertente do consumo de alimentos, os desafios não são menores. A volatilidade do preço dos alimentos, as transformações culturais que conduzem a novos hábitos alimentares ou as desigualdades sociais no acesso a alimentos saudáveis e culturalmente aceites são tendências que se desenham num quadro de territórios rurais afetados pela desertificação, são alvo da inconstância das estratégias de desenvolvimento agrícola e do mundo rural e de um deficit de ação interministerial. Estes desafios adicionais são igualmente ambientais, territoriais e de saúde pública que dependem de um eficiente e justo desempenho do sistema alimentar, significando esta combinação multifatorial, em última análise, um desafio socioeconómico caracterizado por enorme complexidade e incerteza.
As oportunidades oferecidas por um novo conhecimento
Estas ameaças são, contudo, acompanhadas por oportunidades. Existe uma crescente preocupação social com a saúde humana e dos ecossistemas, num quadro de cidadania consciente da sua pegada ecológica e com padrões de consumo cultural e territorialmente definidos. Existe hoje livre acesso a mais informação e conhecimento, responsabilidade social e notáveis avanços tecnológicos, destacando-se a transição de modelos lineares de produção para novos paradigmas de bio-economia circular e eco-inovação onde o setor agroflorestal pode desempenhar um papel fundamental. Também a digitalização rural, a conectividade, a agregação e gestão de dados vêm alterando o paradigma tecnológico, apresentando-se como oportunidades para desencadear novas soluções para o setor agroalimentar alicerçadas numa agricultura de precisão e novas formas de pensar e atuar.
Os sistemas alimentares e a agricultura são, assim, instrumentos fundamentais para o desenvolvimento sustentável e a compreensão e atuação sobre o sistema agroalimentar global, regional e local, é imprescindível para garantir a produção de alimentos e o seu uso de forma eficiente, sustentável e equitativa.
A Universidade de Lisboa confere o grau de Doutor em Ciências da Sustentabilidade: REcursos, Alimentação e SOciedade (REASOn)
Estes desafios e oportunidades convocam ação! Para serem catalisadores de mudança, os profissionais de hoje devem ser dotados de conhecimento científico sólido e, principalmente, ter capacidade de o incorporar para compreender as interações entre sistemas globais, naturais, sociais e humanos, e como essas interações afetam os desafios da sustentabilidade. Para produzir soluções, a participação deve ser coletiva e envolver toda a sociedade, incluindo os cidadãos, os decisores de organizações governamentais e não-governamentais, os políticos e legisladores, a comunicação social, a produção e a indústria, e as instituições de investigação e ensino.
O Doutoramento da Universidade de Lisboa que confere o grau em Ciências da Sustentabilidade: REcursos, Alimentação e SOciedade (REASOn) significa que este desafio foi também incorporado pela academia. Ao mobilizar um corpo docente que inclui 47 professores de 17 das Faculdades e Institutos da Universidade de Lisboa, garante a necessária interdisciplinaridade e integração de conhecimentos, tão diversos quanto imprescindíveis para oferecer abordagens sistémicas e soluções.
Apresenta um modelo de educação transformativa para criar impacte com método pedagógico atento às novas formas de aquisição de competências e construção de conhecimento, combinando multidisciplinaridade com processos de aprendizagem imersivos e trabalho aplicado a “situações-problema”. Pretendendo explorar a translação de duplo sentido entre prática e ciência, é orientado para profissionais de sucesso que procuram transformar conhecimento em resultados e inovação. Permite investigar em ambiente universitário, em ambiente empresarial/indústria, ou – numa tipologia inovadora em relação à oferta tradicional – em contexto profissional de trabalho. Este modelo oferece a possibilidade de aplicar uma abordagem científica que seja relevante para o exercício da atividade profissional quotidiana, e que pode ser desenvolvida com ou na própria organização empregadora.
A orientação para “Recursos, Alimentação e Sociedade” sublinha o relevo da dimensão de produção e consumo de alimentos – conceito mais amplo que inclui também a componente agrícola – e justifica a abordagem no contexto das Ciências da Sustentabilidade.
As candidaturas para a 2.ª edição do Doutoramento em Ciências da Sustentabilidade estão abertas até 28 de junho (https://csustentabilidade.ulisboa.pt/)