José Pedro Salema

A água de Alqueva chega para todos!? – José Pedro Salema

Alguns julgam que o maior reservatório de água da Europa pode estender o seu benefício infinitamente, outros falam em restrições severas e imediatas para aqueles que atualmente são servidos. Afinal a água de Alqueva chega para quantos?

A barragem de Alqueva é um sonho com séculos dos Alentejanos que foi concretizado apenas na década passada. As obras para a sua construção começaram em 1996, as comportas foram encerradas em 2002 e o nível máximo da albufeira que criou foi atingido pela primeira vez em 2010.

A quantidade máxima de água represada pela imponente parede de betão com quase 100 metros de altura é de 4 150 000 000 000 litros de água. Este valor, à escala humana e nas unidades que estamos habituados a utilizar, parece tão grande que somos tentados a percebê-lo como infinito.

Mas em consumo de água é normalmente utilizado o metro cúbico (m3) como unidade principal, o que faz aquele número perder 3 zeros. E em barragens, como lidamos com grandes volumes, habitualmente usamos o hectómetro cúbico (hm3) equivalente a um milhão de metros cúbicos e assim desaparecem mais 6 zeros…

Ainda assim, este volume (4150 hm3) é da mesma ordem de grandeza de todo o consumo anual de água em Portugal incluindo todo o regadio, o abastecimento humano e a indústria.

Olhando para as disponibilidades do Guadiana vemos um rio muito artificializado e explorado do lado espanhol, mas que faz chegar à barragem de Alqueva, por ano e em média, de cerca de 2000 hm3 e logo a sua albufeira pode armazenar cerca de 2 anos de escoamento médio.

O volume útil da albufeira de Alqueva de 3150 hm3 corresponde a uma amplitude de variação no nível das águas de 22 metros, entre a cotas 152m (nível de pleno armazenamento) e 130m (nível mínimo de exploração). Abaixo deste nível fica ainda um volume equivalente à albufeira do Castelo do Bode (cerca de 1000hm3) mas as estações elevatórias, se não sofrem qualquer adaptação, não o conseguem utilizar.

Destes recursos hídricos a EDIA tem a concessão do Estado Português para extrair anualmente 620 hm3 sendo 590hm3 para abastecimento agrícola e 30 hm3 para abastecimento público e industrial.

Apesar de representar apenas 5% da concessão à EDIA, o volume de 30 hm3 destinados ao abastecimento público e industrial pode ter um efeito revolucionário na região. Cerca de 20 hm3 são suficientes para o abastecimento de 333 mil habitantes com um consumo médio anual per capita de 60 m3 (aproximadamente a média nacional) e 10 hm3 podem suprir, entre outras, as necessidades da zona industrial de Sines.

O volume destinado à agricultura de 590 hm3 é suficiente para abastecer 170 mil hectares com uma dotação de rega de 3000 m3 por hectare. Uma dotação que apenas se tem verificado nos anos mais quentes como 2017, tendo sido em anos mais amenos, como por exemplo em 2018, cerca de 2300 m3/ha.

Estas dotações reais verificadas são resultado das opções culturais dos agricultores da região, com grande predomínio do Olival que tem baixas necessidades hídricas, a par da enorme eficiência das técnicas, tecnologias e práticas de rega onde a modernidade e sustentabilidade imperam.

É neste paradigma de culturas, dotações e eficiências que a EDIA avançou para a segunda fase de infraestruturação do projeto Alqueva, reforçando a capacidade de bombagem e estendendo a sua rede para chegar a cerca de 50 mil hectares em torno da área já servida. Com esta expansão é possível beneficiar muitas novas áreas, chegando a novos municípios e promovendo eficazmente o desenvolvimento regional através do regadio. Este investimento que ronda os 240 M€ foi incluído no Programa Nacional de Regadios e conta com financiamento garantido através de empréstimos do Banco Europeu de Investimento e do Banco Desenvolvimento do Conselho da Europa.

Mas alguns proprietários que já estão beneficiados têm, naturalmente, outra perspetiva pois acreditam que a expansão pode lhes ser confiada para estenderem as suas redes privadas de distribuição de água às áreas vizinhas. Muitos deles já concretizaram esta expansão explorando as chamadas “áreas precárias” – conceito previsto na regulamentação dos perímetros de rega públicos para flexibilizar a área efetivamente regada em função da dinâmica empresarial e das disponibilidades hídricas.

Por forma a garantir os recursos hídricos necessários para a expansão, já decidida e em fase de concretização, é necessário travar o crescimento das áreas precárias que já somam cerca de 18 mil hectares. Esta decisão foi tomada no início de 2019 para todos os novos pedidos de rega precária de culturas permanentes.

Na campanha de rega de 2019 estão a ser regados cerca de 95 mil hectares em todas as áreas exploradas diretamente pela EDIA e foram ainda garantidos reforços significativos aos sistemas confinantes de Odivelas, do Roxo, de Campilhas/Alto Sado, do Vale do Gaio e da Vigia.

A água de Alqueva não é ilimitada, mas com os cenários de consumo e eficiência que hoje conhecemos será suficiente para garantir o abastecimento de todos os clientes atuais – integralmente em áreas exploradas pela EDIA e reforçando os sistemas confinantes ligados – bem como toda a expansão projetada que já começou a ser concretizada e conta com financiamento assegurado.

José Pedro Salema
Presidente do Conselho de Administração da EDIA


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