[Fonte: Embrapa] Uma parceria público-privada entre a Embrapa e a empresa Bioma oferece pela primeira vez ao mercado brasileiro um inoculante totalmente desenvolvido a partir de tecnologia nacional. O produto denominado BiomaPhos alia sustentabilidade e produtividade porque é biológico – produzido a partir de duas bactérias identificadas pela Embrapa, sendo uma no solo e a outra no milho – e capaz de aumentar a absorção de fósforo pelas plantas, o que pode mudar o quadro de alta dependência brasileira do mercado internacional de fertilizantes.
À Embrapa coube a parte de pesquisa, com a detecção das bactérias que apresentam aptidão para solubilizar ou tornar disponível o elemento fosfato. Esse mineral é indispensável para o crescimento e a produção vegetal, já que interfere nos processos de fotossíntese, respiração, armazenamento e transferência de energia. Concluída essa etapa, a empresa Bioma estabeleceu os índices de produção em larga escala e a formulação do produto, que permitiram melhor sobrevivência do inoculante na prateleira e nas condições de campo.
“As cepas das bactérias Bacillus subtilis (CNPMS B2084) e Bacillus megaterium (CNPMS B119) conseguem fazer com que maior quantidade de fósforo seja absorvida pelas raízes, recebendo em troca compostos fundamentais para o crescimento bacteriano, como fontes de carbono, em especial açúcares e ácidos orgânicos”, explica Christiane Paiva, pesquisadora da área de Microbiologia do Solo da Embrapa Milho e Sorgo, responsável pela pesquisa que culminou com o lançamento do produto comercial.
A pesquisa teve início em 2002 com os pesquisadores Ivanildo Marriel e Vera Alves. Posteriormente, a identificação e o isolamento dos microrganismos resultaram na publicação de um artigo na revista científica “Soil Biology and Biochemistry”, uma das de maior impacto internacional na área de microbiologia do solo. Publicado em 2009, o paper continua sendo um dos recordistas em citações.
Já o desenvolvimento do inoculante se deu a partir de 2011, com a entrada da pesquisadora Eliane Gomes na equipe que desenvolveu a pesquisa. A parceria com a empresa Bioma foi firmada em 2016, chegando ao lançamento do produto comercial em 2019.
Aumentos médios de produtividade chegam a 10%
Resultados de experimentos na cultura do milho conduzidos em regiões brasileiras mostram aumentos médios de produção de grãos de cerca de 10%, o que pode corresponder a um ganho médio de até dez sacas por hectare. “Esses experimentos avaliaram a inoculação combinada com a adubação reduzida de superfosfato triplo, o que pode diminuir o gasto para o produtor com fertilizantes sintéticos”, destaca a pesquisadora Christiane Paiva. Outro diferencial do uso do inoculante é uma redução significativa no índice de emissão de CO2 na atmosfera. “Com isso, os resultados demonstram que é possível empregar uma tecnologia limpa e de baixo custo na cultura do milho, contribuindo para a sustentabilidade na agricultura, sem perdas para o meio ambiente”, reforça.
Christiane Paiva ressalta detalhes técnicos do inoculante, que é inédito no mercado brasileiro, e foi desenvolvido a partir de microrganismos tropicais.
Diferenciais
Os inoculantes produzidos com esses microrganismos apresentam menor custo, não causam danos ambientais e ainda podem ser usados para suplementar os fertilizantes. “Além disso, a adição de inoculantes no solo pode acelerar a ciclagem de nutrientes, aumentar a liberação do fósforo presente na matéria orgânica e enriquecer o solo biologicamente. Além disso, esses inoculantes apresentam outros mecanismos de promoção de crescimento para as plantas”, complementa Paiva. Estudos conduzidos pela Embrapa revelam que há um estoque bilionário de fósforo nos solos, que se encontra inerte e que não pode ser aproveitado pelas plantas.
O chefe de P&D da Embrapa Milho e Sorgo, Sidney Parentoni, destaca que o inoculante é uma inovação à disposição do produtor no mercado brasileiro.
“Em alguns solos de plantio direto, cerca de 88% do fósforo encontra-se em forma orgânica, indisponível para ser absorvido pelas raízes, e precisa ser mineralizado para esse fim. As bactérias solubilizadoras de fosfatos conseguem disponibilizar o elemento para a planta, atuando de forma agronômica nesse grande estoque presente na natureza”, interpreta a pesquisadora. “No caso do milho, por ser uma planta de ciclo curto e altamente exigente em nutrientes, o uso complementar do inoculante à adubação vem ganhando espaço. É realidade conseguirmos maiores ganhos de produção e de produtividade com o uso do produto”, reforça.
Outra vantagem é a estabilidade do inoculante por causa da sua capacidade de formação de esporos das bactérias selecionadas, permitindo sua adaptação a condições extremas, como temperaturas, pH ou exposição a pesticidas.
Diversos países já abraçaram a tecnologia
No Brasil, o uso de inoculantes para suprir a demanda de fósforo pelas plantas ainda é incipiente. “No entanto, países como Argentina, Canadá, África do Sul, Índia, Austrália, Filipinas e Estados Unidos têm investido na linha de bioprodutos visando reduzir o uso indiscriminado de adubos fosfatados, além de propiciar aumento na oferta de produtos que aumentem a tolerância das plantas a esses estresses de forma eficiente”, reforça a pesquisadora.
Já para a aquisição de outro elemento fundamental – o nitrogênio – inoculantes à base de rizóbio e Azospirillum têm dominado o mercado de biológicos tanto para culturas de grãos quanto para leguminosas, com significativa redução do uso de adubos nitrogenados, principalmente no bem-sucedido caso da cultura da soja, segundo Paiva.
Produtores aprovam o produto
O engenheiro agrônomo Luís Eduardo Curioletti, diretor da estação experimental da empresa Agrum – Agrotecnologias Integradas, sediada no sul do País, relata um incremento de 28% na produtividade do milho com o uso do BiomaPhos. Ele utilizou uma dose de 100 ml do inoculante aplicada em 600 mil sementes, somada a 50% da recomendação de fósforo solúvel na cultura, em comparação com a área testemunha. A empresa avaliou a eficiência do inoculante em área experimental que possui sete anos de histórico de cultivo de soja, milho e feijão. Ela é uma das instituições responsáveis pela validação do produto.
“O uso do BiomaPhos modificou significativamente a produtividade do milho a partir da dose mencionada, se considerarmos a área testemunha. Observamos aumento do diâmetro do colmo e da altura de plantas, maior índice foliar e consequentemente maior massa de parte aérea, além do aumento da concentração de fósforo nos tecidos vegetais. O produto também retardou o aparecimento dos sintomas de estresse por déficit hídrico e diminuiu os sintomas visuais de déficit por fósforo”, descreve o agrônomo. “Na minha opinião, o grande potencial do BiomaPhos está na melhoria do aproveitamento do fósforo e, consequentemente, no aumento dos níveis potenciais de produtividade”, conclui.
O produtor rural André Ricardo Denardin, do município paranaense de Braganey, obteve um acréscimo de oito sacas por hectare na cultura da soja com o uso do BiomaPhos. Ele utilizou o produto na última safra em dez hectares de soja, de um total de uma área cultivada de 360 hectares. “Essa área apresenta nível de média para alta fertilidade, na qual foi realizada a aplicação de calcário na fase de pré-plantio e carbonato de cálcio junto com o adubo na linha de plantio”, explica o produtor. Segundo ele, o kit de inoculação em sulco de plantio foi instalado na semeadora. “Além do aumento de produtividade, a análise de solo comprovou maior quantidade dos índices de fósforo disponível para a planta e maior desenvolvimento radicular”, aponta.
Foto: Juliano Ribeiro
O chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Antônio Álvaro, enfatiza que além de eficiente para o desenvolvimento das plantas, o novo produto é biológico.