Com a agricultura no centro das atenções na discussão das alterações climáticas, os agricultores ingleses estabeleceram um objetivo: chegar à neutralidade carbónica na sua atividade em 2040.
De acordo com a BBC News, este é o compromisso da National Farmer’s Union, que representa cerca de 55.000 agricultores do Reino Unido. Uma meta só possível de atingir com algumas alterações na forma de produzir que já estão em curso. Conheça as 5 medidas chave para esta mudança, com british accent:
- Usar pequenos robots
Robots com pequenas baterias podem reduzir drasticamente a utilização de tratores a diesel, uma das maiores fontes de emissão de carbono nas explorações agrícolas. Começam a aparecer inúmeros protótipos vocacionados para atividades como a sementeira ou a pulverização de agroquímicos e fertilizantes, para além da monitorização dos campos. Câmaras, lasers, gps e smartphones estão na base destes aparelhos exímios na recolha de informação com precisão, que permitem praticar uma agricultura mais sustentável. “Usar robots permite reduzir em 90% a energia utilizada nas explorações. Tem tudo a ver com precisão”, revela à BBC Sarra Mander, da Small Robot Company.
- Drones e sensores
A utilização de drones e sensores nas máquinas agrícolas está a permitir a banalização da agricultura de precisão. E quanto mais precisão existir nas técnicas agrícolas, mais o ambiente agradece, com a aplicação de fatores de produção apenas onde são necessários e evitando mobilizações desnecessárias. “Este tipo de inovação é fantástica para nós. Não é uma resposta total, mas pode ajudar muito”, frisa Becky Willson, da organização Farm Carbon Cutting Toolkit.
- Plantar mais árvores
Muitos ambientalistas acreditam que mudar as técnicas agrícolas sem mudar as práticas intensivas não é realista. Nick Rau, da organização Friends of the Earth, revela que as novas tecnologias ajudam, mas é preciso apostar na plantação de árvores nas explorações”. Esta organização apela mesmo a uma duplicação do número de árvores nas explorações de forma a reter carbono, ajudar na prevenção de inundações, prevenir a erosão dos solos e promover a biodiversidade. E claro, há a possibilidade de ter uma cultura extra, no caso de árvores de fruto, por exemplo, ou outras espécies com interesse económico.
Stephen Briggs, agricultor inglês, concorda: “Tem tudo a ver com aprender com a natureza”. Na sua exploração tem agora 13 diferentes variedades de macieiras, que cobrem 8% da sua seara de trigo com cerca de 50 hectares. Desde que apostou nestas alterações, há 10 anos, este agricultor garante que aumentou a sua rentabilidade.
Para os produtores de gado, a proteção contra os ventos que as árvores proporcionam permite ainda reduzir o período de estabulação durante os meses de inverno, com poupanças energéticas consideráveis.
- Menos estabulação, mais pasto
Os animais criados em pastoreio contribuem mais para o corte de emissões. A explicação é simples: os animais estabulados são alimentados essencialmente com soja importada da América Latina. “A soja é maioritariamente plantada em áreas onde existia floresta tropical, pelo que o Reino Unido está a importar desflorestação”, revela o artigo. E, de acordo com o Global Forest Atlas, a produção de soja para alimentação animal é uma das principais causas da desflorestação.
Richard Finlay, agricultor e representante da National Farmer’s Union, revela que os agricultores britânicos entendem qual é a sua parte na luta contra as alterações climáticas, mas sabem que a responsabilidade não é só sua: “Toda a cadeia de abastecimento tem de estar comprometida com a compra de soja produzida de forma sustentável e isso já está a acontecer”, reitera.
- Cortar nas emissões de metano
Vacas e ovelhas, já se sabe, são grandes ‘produtoras’ de metano à conta dos seus sistemas digestivos. E o metano aquece 21 vezes mais a atmosfera que o dióxido de carbono, o que é uma preocupação para os produtores pecuários num contexto de alterações climáticas. A National Farmer’s Union aponta que o Reino Unido é um dos países mais eficientes e sustentáveis nesta matéria, uma vez que uma grande parte dos produtores usa o metano dos estrumes e lamas para produzir eletricidade. Mas, de acordo com este artigo da BBC, o problema do metano pode ter outras abordagens que não passam por erradicar a atividade pecuária: “Há muito para refletir sobre aditivos alimentares na alimentação animal que podem reduzir a produção de metano pelos animais”, indica Becky Wilson. Algumas organizações (como a Farm Carbon Cutting Toolkit onde Becky trabalha) estão a apontar outros caminhos como a genética e reprodução animal para solucionar esta questão. Na Escócia se já está a fazer seleção de animais com base na sua capacidade (baixa) de produzir metano no sistema digestivo. Outra estratégia, que está a ser utilizada na produção leiteira, tem sido prolongar a vida útil produtiva dos animais de forma a reduzir a proporção de animais improdutivos. Ou seja, vacas que produzem leite durante mais tempo reduzem a necessidade de ter bezerros de leite, que consumem energia e emitem metano pelo menos durante dois anos, e sem produção.
Já nos borregos, animais com um tempo médio de vida entre seis a oito meses, a estratégia passa por tempos de engorda mais rápidos de forma a que possam ser abatidos mais jovens. Na Escócia a investigação aponta para reduções na engorda que vão dos seis aos 30 dias.