Película classifica a produção de animais como a actividade humana com maior impacto negativo no planeta. Produtores de leite criticaram convite a membro do PAN para debater filme, afirmando que dados avançados pelo documentário estão errados. Escola decidiu retirar convite a representante do partido, fechando a discussão a alunos e professores.
Após as críticas da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), a exibição do documentário Cowspiracy: The Sustainability Secret na Escola Secundária de Barcelos foi exclusiva a alunos e professores, não contando com a presença de Jorge Esteves, membro do PAN, que tinha sido inicialmente convidado para debater as conclusões do estudo.
“A escola considerou que, nesta fase, não faria sentido trazer outro elemento a debate que não os professores e alunos”, começa por dizer ao PÚBLICO o director do agrupamento de escolas de Barcelos, Jorge Saleiro. Rejeitando que as críticas da APROLEP foram o único motivo para este recuo da escola, o responsável lamenta a polémica gerada pelo tema. “Foi suscitada alguma celeuma que, na nossa opinião, era injustificada. Achámos que, nesta altura, o mais adequado seria reservar a discussão apenas para a escola, até porque se trata de uma actividade escolar.”
Questionado pelo PÚBLICO, o gabinete de comunicação do PAN confirmou que o cancelamento do convite partiu da escola, que terá informado o partido de que o debate seria cancelado e que o motivo se prendia com “uma queixa por parte de uma entidade ligada à produção agro-pecuária”.
Este documentário seria transmitido a quatro turmas do 11.º ano, no âmbito do Plano Nacional de Cinema da escola. Esta instituição de ensino, em nota publicada na página oficial, referia que a emergência climática é um assunto “que não permite adiar discussões” e relembrou a recente tomada de posição da Universidade de Coimbra em não servir carne de bovino nas suas cantinas. O documentário exibido pela escola estreou em 2014 e aborda o impacto poluente da criação animal e consequente agravamento das condições climáticas. É referido no documentário que 51% de todos os gases de efeito estufa são originados pela produção animal.
“Tentativa de partidarização”
Em sequência do anúncio desta exibição, a Aprolep emitiu um comunicado, na terça-feira, acusando o documentário de apresentar uma imagem distorcida da produção animal e apontando o dedo àquilo que consideram ser uma “tentativa de partidarização” no âmbito de actividades lectivas.
“O documentário apresenta dados de emissões de gases com efeito estufa (GEE) errados e contestados por diversas entidades independentes e isentas. O ponto central da “teoria da conspiração” do Cowspiracy é o suposto “facto” de que um estudo de 2009 descobriu que 51% de todos os gases de efeito estufa são originados pela produção animal. Os próprios autores reduziram em declarações posteriores esse valor para 18%, enquanto o consenso científico aponta valores na ordem dos 14,5% a nível mundial. Em Portugal, dados de 2017 indicam que os bovinos produzem apenas 4,5% dos gases de efeito de estufa”, pode ler-se no comunicado.
A associação opôs-se ainda à participação do representante do PAN, justificando que Jorge Esteves não é especialista em “agricultura, produção animal ou alterações climáticas”. A própria Aprolep disponibiliza-se a enviar à escola representantes “com experiência e informação” para explicar aos alunos a criação de bovinos aos alunos. Ao desafio deixado pelos produtores, Jorge Saleiro responde da seguinte maneira: “Se quiserem sugerir uma obra que tenha uma visão diferente, faremos a sua exibição com a mesma independência e nas mesmas condições”, finalizou. Com Lusa