agricultura de precisão milho

A importância da utilização de tecnologia de precisão na agricultura: o caso da cultura do milho.

O paradigma da agricultura está a mudar radicalmente. É com este mote que o décimo oitavo episódio do programaFaça Chuva Faça Sol” da RTP começa. João Coimbra, um dos mais prestigiados agricultores portugueses mostra, durante a entrevista, a evolução registada na quinta da Cholda, em Golegã, com o apoio de um poderoso instrumento: a tecnologia, e todo o seu percurso com a cultura do milho.

O milho é a cultura arvense com mais peso em Portugal. Nos últimos 30 anos, a produtividade desta cultura aumentou 100% – do campo para o gabinete. O segredo? O recurso a tecnologia de precisão, que permite otimizar a produção e reduzir o desperdício, desde as sementes, à água passando ainda pelos fitofármacos.

Esta evolução permite aos agricultores saber, por exemplo, a percentagem de humidade do campo, o que consequentemente facilita a comunicação entre o produtor e os homens da ceifeira que, no campo, acionam os inputs dados no escritório. A tecnologia de precisão é o braço direito do produtor. Os vários sensores espalhados pelo campo recolhem dados desde a condutividade eléctrica do solo até à humidade. Estes são exportados para o computador em tempo real e analisados em formato de gráficos.

Esta ferramenta tecnológica permite aos agricultores ter uma visão macro que é agora fundamentada com dados fidedignos extraídos da tecnologia. Cada vez mais a informação é real e precisa, o que ajuda na tomada de decisões – em média os produtores têm que tomar cerca de 200 a 300 decisões diárias ao longo de uma campanha, em cada parcela. Estas decisões são cada vez mais acertadas graças à tecnologia.

As decisões que dão origem a bons resultados, que já foram anteriormente avaliados, são um apoio para os agricultores bem como as más decisões, que são evitadas no futuro – muitas das vezes na agricultura uma decisão mal tomada não tem retorno. Na agricultura o tempo/os timings são preciosos.

Para além dos sensores, as fotografias via satélite são outra ferramenta tecnológica utilizada na cultura do milho para a tomada de decisão em cada micro parcela. O arquivo das imagens dos satélites e dos drones mostram a sanidade da cultura ao longo do tempo, desde o início até ao final do ciclo. As tecnologias de precisão permitem ao produtor trabalhar a uma escala de 50m2, tomando decisões em função da variabilidade de cada parcela. Existem locais com arquivos de informação de 10 anos e outras que vão até aos 17 anos.

João Coimbra, um dos pioneiros na adoção de técnicas de precisão em Portugal, defende que é possível conciliar a agricultura intensiva à sustentabilidade ambiental. Através destas tecnologias inteligentes, a otimização e a redução do desperdício é possível – ponto de produção e consumo maior.

Este aperfeiçoamento na gestão, ano após ano, faz com que a cultura do milho de João Coimbra seja reconhecida por muitos como a melhor do mundo. Nos Estados Unidos da América, o maior produtor de milho colhe 11 toneladas por hectare comparadas às 17 toneladas de milho/hectare do produtor João Coimbra. Este defende que na cultura do milho, respeitar o tempo, a escolha das variedades e a adaptação ao solo é meio caminho andado para explorar o potencial da cultura.

Uma das metas futuras é que a qualidade do milho permita, cada vez mais, construir o cereal de acordo com as características que o industrial necessita seja para fabrico de ração, alimentação humana ou fabricação de cerveja. Estas metas querem ser alcançadas com a garantia de baixos resíduos de agroquimicos. A comercialização é sempre pensada para que os clientes tenham a noção de que a exploração é sempre feita de forma segura e com a máxima qualidade em todos os aspectos.

O grande desafio, segundo o Presidente Ass. De Produtores de Milho e Sorgo de Portugal, João Neves, é conseguir otimizar os custos de produção e aumentar a produtividade. A estratégia da ANPROMIS, aprovada no ano passado, pretende que Portugal até 2022 alcance um grau de aprovisionamento de 50% no milho sendo que o setor representa a nível nacional cerca de 280 milhões de euros.

Todas as organizações ligadas ao setor primário têm a obrigação de dinamizar a manutenção da atividade no interior e sensibilizar a sociedade relativamente à importância deste tipo de produções. Manter viva a atividade agrícola é imprescindível. Um dos espaços que, desde há três anos, foi criado com este intuito de atualizar os agricultores sobre as tendências, é o INOVMILHO, que congrega investigação, produtores e empresas do setor lado a lado.

O dia de campo, que este ano contou com 250 cerealicultores, mostra os ensaios das empresas e entidades institucionais, onde se insere a ANIPLA. Neste evento, foi apresentada a Agenda da Inovação e o Plano de Ação para execução até 2025. Estas iniciativas juntamente com as estratégias delineadas pretendem trabalhar junto dos produtores, ajudando-os a serem mais competitivos.

Tudo isto em sinergia com uma evolução positiva para a agricultura: a tecnologia.


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