Em Tavira há um “banco” com mil árvores de fruto que vai abrir as portas ao público

A Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Algarve quer abrir ao público uma coleção de 1.000 variedades de fruteiras tradicionais algarvias, algumas em risco de desaparecer, reabilitando o espaço, em Tavira, para permitir visitas turísticas ou escolares.

No Centro de Experimentação Agrária (CEA) de Tavira está reunida uma das maiores coleções de árvores de fruto no país, que funciona como um ‘banco’ genético de dezenas de variedades de espécies: só de alfarrobeira há 44 espécies, havendo também centenas de variedades de citrinos e de castas de vinho.

Mas a continuação deste trabalho de estudo e caracterização entre os 29 hectares de vinhas, alfarrobeiras, figueiras, amendoeiras, oliveiras, romãzeiras, nespereiras ou macieiras enfrenta dificuldades, como a falta de pessoal para renovar o corpo técnico, disse à Lusa o diretor regional de Agricultura e Pescas, Pedro Monteiro.

“Temos de olhar para futuro e o nosso propósito na direção regional é, por um lado, fazer a reabilitação deste centro, abrir este centro à sociedade, às escolas, a outros organismos da administração, às universidades, para mostrar o trabalho valioso que aqui é feito”, defendeu, cifrando a verba necessária para a reabilitação em mais de 200.000 euros.

As principais dificuldades do centro para o futuro são “fundamentalmente de ordem material” e estão relacionadas com os “pouco ágeis” mecanismos de contratação da administração pública”, para colmatar a saída de técnicos que estão próximo da reforma, reconheceu Pedro Monteiro.

As variedades existentes no centro foram recolhidas em toda a região após um trabalho de identificação e localização realizado pelos técnicos da DRAP/Algarve e constituem – com a coleção de citrinos localizada no Patacão (Faro) – um banco de germoplasma que compila cada uma das variedades, algumas das quais sem aptidão comercial e em perigo de desaparecer.

Segundo João Costa, engenheiro agrónomo da DRAP do Algarve, só na área da vinha, há “84 castas dedicadas e aptas à produção de vinho tinto, 98 castas aptas à produção de vinho branco”, mas também 56 de uva de mesa para consumo em fresco tinta e 42 de uva branca, assim como 44 variedades de alfarroba.

Estas espécies foram recuperadas em “toda a região, desde o barlavento ao sotavento, do litoral à serra”, em parceria com agricultores da região, acrescentou.

Este acervo genético permite “estudar a aptidão das castas à região” e ajudar “qualquer agricultor que queira fazer vinha no Algarve” a perceber “como se comportam” face a “fatores adversos” como pragas, doenças e clima.

Por outro lado, permite “preservar castas que estavam em perigo de extinção”, recuperando esse material genético para as gerações futuras, exemplificou o técnico.

Pedro Monteiro deu o exemplo da casta “negra mole”, que “quase desapareceu” e é “autóctone do Algarve”, mas “praticamente foi abandonada porque dava um vinho com cor muito esbatida”, pouco apreciada então pelos produtores.

“Se não tivesse sido preservada em locais como este, hoje em dia era uma casta que estaria extinta. Felizmente foi preservada e estamos a observar que essa tonalidade esbatida está a ter um enorme sucesso nos rosés que estão agora a ser feitos pelos vitivinicultores do Algarve e que são uma imagem de marca da nossa produção”, justificou.

João Costa também destacou a coleção “única no país” de alfarrobeiras e com a qual já foi possível obter “10 toneladas de alfarroba por hectare”, quando a média é de 3 a 3,5 toneladas, graças a, por exemplo, ajustes e incrementos de níveis de rega.

“E estamos a verificar neste momento uma situação anormal, com alfarrobas em fase de maturação nesta altura, quando a época normal de colheita da alfarroba é em agosto ou setembro”, frisou, considerando que a anomalia pode estar relacionada com o aumento das temperaturas médias anuais, mas é necessário realizar mais estudos para identificar a origem desta alteração.


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