“O Algarve tem um conjunto de ETAR que já produzem efluentes tratados com muita qualidade e temos nova legislação para a reutilização destas águas residuais tratadas”, lembra investigadora.
O Algarve tem a “obrigação” de reutilizar águas residuais tratadas na agricultura, atividade com elevado consumo de água, o que a par de uma maior eficiência na rega pode ajudar “já” a combater a seca na região, disse uma investigadora.
Numa altura em que o Algarve se confronta com uma situação de seca, Manuela Moreira da Silva, do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve, defende uma aposta em soluções integradas, como a dessalinização, mas considerou que a região tem a “obrigação de implementar a reutilização de águas residuais tratadas” na agricultura.
Segundo disse à Lusa a professora universitária, esta medida “pode ser já aplicada” porque muitas das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) do Algarve já fazem o tratamento de águas provenientes de esgotos “com muita qualidade”, permitindo a sua utilização nas regas agrícolas e uma poupança da água disponível para consumo humano.
“O Algarve tem um conjunto de ETAR que já produzem efluentes tratados com muita qualidade e temos nova legislação para a reutilização destas águas residuais tratadas”, sinalizou, assegurando que o mestrado que dirige “tem estudos feitos sobre o uso de efluentes tratados na rega de laranjal”, cujos resultados são “altamente promissores”.
A docente frisou que estes efluentes urbanos tratados se avolumam no verão, quando a população triplica, devido à época alta do turismo, podendo ser utilizados “numa lógica de proximidade”, proporcionando a “rega das culturas com uma água que tem mais azoto do que a água subterrânea ou do que a água tratada para consumo humano”.
“Poupamos água, energia e fertilizantes de azoto”, afirmou, lembrando que “grande parte dos consumos de água no Algarve não precisam de água tratada para consumo humano” e podem ser feitos com “uma água com uma qualidade inferior”.
Há, contudo, uma “grande dificuldade”, que passa por “criar os sistemas de distribuição, as redes secundárias, desta água que não é potável, sem que se cruze com a água potável, porque senão fica contaminada”, alertou a investigadora.
“Grande parte dos nossos consumos — cerca de 70% – estão associados à agricultura”, disse Manuela Moreira da Silva, lembrando que há também na região cada vez mais culturas de regadio, como a de abacate, que necessitam de mais rega do que as culturas tradicionais, como a laranja.
A investigadora mostrou-se favorável a que o Algarve tenha agricultura de regadio, mas defendeu que esta “deve ser gerida de forma eficiente”, devendo ser assegurado que não haja, como acontece em grande parte das situações, “desperdícios nos sistemas de rega que rondam muitas vezes os 40%, ou mesmo mais”.
“Laranja e abacate são ambos precisos e na minha perspetiva devemos equacionar muito bem o que o Algarve deve produzir e produzi-lo de forma eficiente. Hoje em dia já há sistemas de rega extremamente eficientes e devia haver um forte controlo e apoios para os produtores agrícolas melhorarem a eficiência dos seus sistemas de rega”, defendeu.
A docente considera que as barragens são “uma solução de há 20 anos” com “impactos na biodiversidade”, defendendo soluções “integradas” para o Algarve poder combater as alterações climáticas, como a dessalinização, hipótese já admitida pelo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, mas frisou que a região pode “investir já na melhoria da eficiência da rega”.
O importante, segundo a investigadora, é “definir estratégias e começar a definir etapas para cumprir”, porque há na atualidade “tecnologia disponível para utilizar”, no entanto, é preciso primeiro “perceber que percentagem exatas de águas são necessárias em cada caso”.