Um estudo encomendado pela Comissão Europeia à Arcadia Internacional, e sintetizado por Francesco Montanari no Colóquio do Milho do passado dia 19 de fevereiro, revela 6 megatendências no setor agroalimentar. Fique a conhecer os factos globais que vão afetar o futuro da cadeia alimentar e os comentários de Pedro Queiroz, secretário-geral da FIPA e José Diogo Albuquerque, diretor do Agroportal.
1. Demografia e rendimento
Em 2050 haverá mais pessoas, com mais rendimento e ainda mais urbanizadas. China, Sudoeste Asiático e África subsariana são as regiões que vão dinamizar esta tendência.
2. Padrão de consumo emergente
Com um maior rendimento disponível a tendência será um aumento do consumo de alimentos per capita. Mais uma vez, a China, o Sudoeste Asiático e a África subsariana são as regiões que lideram este consumo.
3. Mudanças tecnológicas
A tecnologia pode aumentar o rendimento disponível em 30%, em 2050, mas não só. Vai permitir aumentar a eficiência ecológica e potenciar novos modelos de negócio.
A agricultura é responsável por uma parte das emissões de carbono mas é também vitima destas emissões. A Europa está mais avançada nas medidas de mitigação às alterações climáticas, mas ainda há um longo percurso a fazer, em especial nas regiões da Ásia, América Latina e África subsariana.
5. Desperdício Alimentar
O desperdício alimentar resulta essencialmente de más práticas dos consumidores, mas também da perda de alimentos na cadeia de abastecimento, em especial no processamento e armazenamento.
6. Competição por recursos naturais
Não é novidade, mas fica o lembrete: os recursos naturais vão ser ainda mais escassos em 2050. O estudo aponta que 70% do uso da água captada está associado às atividades agrícolas e o setor terá de estar preparado para muita competição pela água.
Há razões para alarme? Comentadores respondem
Francesco Montanari partilhou ainda números interessantes para os produtores na resposta à pergunta ‘Quanto mais devemos produzir para alimentar o mundo de maneira sustentável?’. E a resposta é (tendo como base de comparação o ano de 2012): temos de produzir mais 39% de cereais até 2050 (+24% de trigo e + 33% de milho) e mais 30% de carne (+ 40% de aves, +34% de bovinos e +10% de porcos).
“A procura vai aumentar muito em zonas do mundo que atualmente não têm capacidade para produzir mais alimentos, mas que têm potencial para o fazer no futuro”, comentou José Diogo Albuquerque, diretor do Agroportal, que acredita que se o mundo conseguiu triplicar a produção nos últimos 50 anos, será capaz, com a ajuda da tecnologia, de responder a estes novos desafios.
Mas haverá um risco real de rutura na produção de alimentos? “Não podemos assegurar que há risco zero de rutura alimentar, mas não devemos traçar cenários alarmistas”, diz Pedro Queiroz, secretário-geral da FIPA, que avança mesmo que estas condicionantes podem ser uma fonte de oportunidades. Desde logo, “uma oportunidade de fazer descolar o debate do ‘do prado ao prato’ para o do ‘do prato ao prado’, no sentido de perceber o que as pessoas querem, perceber as tendências de consumo. Vamos precisar de produzir mais, com garantia de segurança e preço adequado. E uma das estratégias pode passar por levar know-how e tecnologia para as zonas onde ainda se pode produzir mais”.
Pedro Queiroz trouxe ainda para a discussão alternativas mais futuristas, como a produção artificial de carne em laboratório “que começa a ficar cada vez mais barata”, bem como a introdução dos insetos na alimentação como fonte de proteína: “Esta realidade já existe, vai crescer, são dois mundos que vão coexistir. E temos de estar preparados para um consumidor muito dinâmico e para novas gerações mais exigentes do ponto de vista da sustentabilidade”, conclui.