Coronavírus: Pandemia económica já contagia Portugal – Agricultura, Alimentação e Vinhos

Há um novo cisne negro a ameaçar o crescimento mundial.

À hora de fecho da edição, no dia em que o número de novos casos começava a abrandar na China, havia perto de 84 mil infetados no mundo (2867 mortos).

Pela primeira vez em mais de uma década, o tráfego aéreo global pode quebrar. Serão -5%, quando se previa uma subida de 4% para este ano, varrendo perto de 30 mil milhões de euros dos resultados das companhias de aviação, antecipa a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), e fazendo regressar os fantasmas da crise financeira de 2008 ao turismo, à indústria e a toda a economia mundial.

Por cá ainda não há infetados mas a economia já foi contagiada, ainda que a pauta oficial apele à calma. O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, encarregou o IAPMEI de fazer a recolha da situação dos vários setores e segunda-feira há reunião de avaliação com representantes setoriais.

Atenção no retalho, cerveja e agricultura

Também na alimentação há necessidades sinalizadas: a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) está a recomendar aos 15 mil produtores associados que comecem a planificar fatores de produção, como adubos, para enfrentar quebras de fornecimento. “A China é um dos centros industriais de produção”, diz Domingos Santos, se as paragens aumentarem “corremos o risco de faltarem princípios ativos ou fitofarmacêuticos”, refere o presidente da FNOP, assegurando não haver ainda quebras ou oscilações de preço por aumento da procura, num momento em que arranca a produção de frutas e hortícolas ao ar livre. “Há atenção e apreensão, mas ainda sem preocupação relativamente ao impacto nas exportações”, diz também Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). “Mas as exportações agrícolas nacionais – as que mais cresceram na última década e representam 20% do total da venda de bens transacionáveis para fora, 10,5 mil milhões – sentem estes movimentos globais.” O impacto vai depender de vários fatores, “a começar pela duração do surto e pela gravidade das medidas para o combater”.

“A maioria das empresas está a operar normalmente”, garante Pedro Queiroz, diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares. “Embora seja um mercado de grande atratividade, a China representa pouco mais de 1% dos nossos clientes e fornecedores. Já Espanha, por exemplo, nosso principal destino, merece maior preocupação.” Também os retalhistas têm escapado ao impacto. “A APED (Associação Portuguesa de Empresas e Distribuição) não registou alterações ao normal funcionamento dos espaços comerciais. Consumo e abastecimento decorrem com normalidade.”

Se em janeiro nada havia a declarar, um mês depois a Super Bock “criou uma comissão interna com acompanhamento médico para monitorizar a situação do Covid-19”, contacto médico específico para onde os colaboradores canalizam questões e informações. Foi o que ditou o alastrar do contágio “a zonas fora da China, nomeadamente Itália, Japão, Singapura, Coreia do Sul e Irão”, explica o grupo, que desencoraja viagens e especificou um conjunto de recomendações aos trabalhadores, incluindo contactos de grupos de risco com o gabinete médico de forma a facilitar a “monitorização do estado clínico e despiste de qualquer possível incubação”. A empresa liderada por Rui Lopes Ferreira reforçou a aposta na China em 2019, com a joint-venture com o importador local; as exportações representam um quarto das vendas, num volume de negócios de 458 milhões em que a China pesa 30% nas vendas para fora.

EUA são alternativa para os vinhos

No vinho, o principal efeito do Covid-19 são as exportações bloqueadas para a China e o adiamento da principal feira de promoção, a Prowein Shangai para a segunda semana de junho. São duas semanas apenas mas faz o evento colidir com o programa de promoção dos vinhos nacionais e provavelmente obrigará a ViniPortugal a cancelar ações em Shenzhen e Hangzhou. Dos mais de 820 milhões de euros de vinho que o país vendeu no ano passado, Pequim absorveu perto de 20 milhões. Mas embora o mercado chinês esteja há dois anos a fechar-se aos vinhos europeus, Portugal “ganha quota”, pelo que a intenção é manter o nível de investimento. Mas há que procurar mercados alternativos, reforçando, provavelmente, as ações nos EUA. “A administração Trump confirmou a intenção de manter a sobretaxa de 25% sobre os vinhos de Paris, Berlim, Madrid e Londres (parceiros da Airbus), o que pode abrir oportunidades”, diz Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal. Também a APCOR aponta impactos “na gestão diária das empresas”, como o cancelamento de viagens e a ameaça de não realização de feiras, como as questões que mais preocupam as empresas da cortiça. A China é a 9.ª entre os maiores clientes das rolhas portuguesas, tendo adquirido, em 2019, cerca de 21 milhões: 2% do total das exportações nacionais.


Publicado

em

, ,

por

Etiquetas: