Encerramento dos restaurantes e hotéis fechou principal canal de escoamento dos pequenos produtores de queijo e de carne autóctone como cabrito.
O governo está a apelar aos associados de retalho alimentar da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) para se encontrar uma solução para o escoamento de produtos como queijos de ovelha e cabra, bem como de carne de produção de raças autóctones, como cabrito, leitão, vitela ou borrego que, com o encerramento dos restaurantes por causa da pandemia da Covid-19, estão a sentir dificuldades na venda, apurou o Dinheiro Vivo.
“Confirmo o apelo feito à APED e aos associados do retalho alimentar da associação”, diz Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da associação, que reúne cadeias como Auchan, Aldi, Dia, Continente, Pingo Doce, Lidl, Mercadona, Intermarché ou El Corte Inglés.
O Ministério da Agricultura alerta para o impacto da pandemia do novo coronavírus em determinados setores da produção agrícola e agroindustrial que “não estão a conseguir alinhar-se com a nova procura, cujos determinantes estão conjunturalmente a fugir ao perfil habitual de produtos, fenómeno acentuado pelo encerramento alargado do canal Horeca” (hotéis, restaurantes e cafés), pode ler-se na carta enviada nesta semana, que o Dinheiro Vivo teve acesso.
“Falamos particularmente de pequenas indústrias assentes em pequenos produtores de matérias-primas, cujo mercado primordial de escoamento é muitas vezes a restauração e a hotelaria locais, e que se viram privados desses circuitos, sem conhecimentos para poderem no imediato orientar a sua comercialização para os canais do retalho de maior escala”, refere o ministério. “Se bem que estes produtos não sejam essenciais para manter o abastecimento alimentar, são fundamentais para o rendimento dos produtores e famílias envolvidos na sua produção e das respetivas matérias-primas”, destaca.
Por isso, o governo faz um “apelo e um alerta” para a “realidade preocupante de setores como o dos queijos de ovelha e cabra, cuja falta de escoamento está a levar a dificuldades de conservação e armazenagem do leite, levando mesmo a situações de desperdício, que serão de evitar sob pena de uma perda de rendimento. Acresce ainda a produção de raças autóctones (cabrito, leitão e afins) que foi realizada tendo em conta o consumo pascal que agora se avizinha”.
Produtores contactam a APED
O impacto do novo coronavírus está a ter efeitos nos pequenos produtores, a braços com uma produção para a qual não conseguem encontrar escoamento, depois do encerramento do canal Horeca, a via de maior peso. Muitos têm procurado apoio junto da APED. “Ainda hoje fomos contactados pela autarquia de Mirandela para ajudar a escoar para as lojas os produtos da região”, adianta Gonçalo Lobo Xavier, dando como exemplo um dos muitos contactos que têm surgido nas últimas semanas junto da associação.
“Não podemos salvar todos, mas estamos a fazer todos os esforços”, diz. “Estamos a tentar acomodar dentro do sortido este tipo de produtos, dentro das contingências e da razoabilidade do negócio e das necessidades dos consumidores”.
Depois de “duas semanas de consumo absolutamente inusitado”, a corrida aos supermercados abrandou, tendo a procura dos consumidores assentado em produtos de primeira necessidade e não necessariamente neste tipo de produtos de consumo social, lembra. “São produtos que exigem promoção em loja, são muito de consumo de impulso – e o consumo caiu a pique; as pessoas vão ao supermercado para comprar produtos de primeira necessidade”.
O responsável lembra que o setor do retalho alimentar tem vindo a pôr em marcha um conjunto de medidas para apoiar o setor agroalimentar, através, por exemplo, do desenho de um programa de antecipação de pagamento junto dos produtores e da facilitação nas linhas de crédito, por forma a apoiar necessidades de tesouraria; reforçando as compras de produtos frescos, em particular frutas, legumes e carne; ou integrando novos produtores, como forma de escoamento de produtos, incluindo pescas, dado o decréscimo sentido com o encerramento do canal horeca.