A empresa, sediada em Figueiró dos Vinhos, um dos concelhos afetados pelo grande incêndio de junho de 2017, vai avançar já este ano com projetos de “forest sponsoring” (patrocínio de floresta), disse à agência Lusa o presidente da Florestgal, José Miguel Medeiros, antigo secretário de Estado da Proteção Civil e ex-deputado do PS.
Neste ano, a Florestgal perspetiva já financiar a criação e manutenção de florestas de conservação a partir de empresas que irão usar terrenos sob sua gestão para a instalação de parques fotovoltaicos.
“Uma empresa que tenha interesse em energia solar paga ‘X’ por utilizar 500 hectares, mas em paralelo será patrocinadora de outros 500 hectares. O que a reflorestação der é para a nossa empresa”, exemplificou José Miguel Medeiros.
No entanto, a empresa pública pretende também avançar com o patrocínio de florestas de conservação como medida para balançar a pegada ecológica das empresas.
“Hoje, assistimos a uma situação em que a pegada carbónica é exageradíssima e é preciso reduzi-la. Há um conjunto de empresas que vão continuar a emitir carbono, mas já não é possível fazer isso sem tomar algumas medidas para contrapor [as emissões]. Nós podemos ser a alternativa”, vincou.
Segundo o responsável, a ideia passa por as empresas assegurarem o financiamento por períodos de 30 ou 40 anos de um povoamento de floresta de conservação e a sua manutenção, com o plano de gestão definido pela própria Florestgal.
“É uma forma que têm de ganhar reputação. Ficam bem na fotografia ambiental”, notou José Miguel Medeiros.
Para além deste projeto, a empresa florestal tem em mãos outras iniciativas que ainda não estão finalizadas, nomeadamente em Penacova, numa parceria com a autarquia, e em baldios da Pampilhosa da Serra.
Para 2020, a Florestgal prevê ter receitas de cerca de quatro milhões de euros, sendo uma das principais fontes a venda de madeira.
Questionado pela agência Lusa sobre se um orçamento de quatro milhões de euros não limita a ação de uma empresa que se pretende que tenha uma ação em grande parte do território acima do Tejo, José Miguel Medeiros vincou que a empresa conta com um capital social de 24 milhões de euros (“herdado” da anterior empresa Lazer e Floresta) e que não tem qualquer dívida.
“Temos capacidade de endividamento e temos que ir ao mercado de capitais se for preciso”, referiu.
No entanto, o responsável admite desafios nessa área.
“Estamos num setor em que apenas o mercado do eucalipto está minimamente desenvolvido. Se eu for ter com um proprietário, ele está habituado aos preços do arrendamento do eucalipto, que tem o primeiro corte ao fim de dez ou 12 anos, enquanto o pinheiro só dá rendimento ao fim de 30 anos. Eu não posso pagar o mesmo por hectare por ano pelo pinheiro. A mesma coisa com o sobreiro ou o carvalho”, nota José Miguel Medeiros.
Questionado pela Lusa sobre como é que uma empresa que não tem qualquer transferência do Estado consegue competir com os preços praticados pelas celuloses, o responsável vinca que a Florestgal não é concorrente das celuloses ou de outras empresas do setor florestal.
Para José Miguel Medeiros, é “difícil o equilíbrio entre lei do mercado e o pensamento a longo prazo para a floresta”, porém, considera que se não se tentar não se saberá se é possível fazê-lo.
José Miguel Medeiros salientou que a Florestgal “vai tentar responder ao mercado, como qualquer empresa que queira ser eficiente”, se não, vinca, seria “um instituto público” e não uma empresa pública de direito privado.
A Florestgal foi criada a partir de uma empresa já existente, a Lazer e Floresta, ‘herdando” os seus ativos, que neste momento são 12.831 hectares distribuídos por 86 propriedades em 26 concelhos de 13 distritos de Portugal Continental, para além de mais de mil hectares em arrendamento a longo prazo.