Manuel Silva já teve que deitar alfaces ao lixo. Vendas na beira da estrada crescem.
“As plantas não tiram férias, nem fazem lay-off e não podemos cuidar delas em teletrabalho”, diz Manuel Silva. O presidente da Horpozim – Associação dos Horticultores da Póvoa de Varzim já teve que deitar alface ao lixo. Restaurantes, feiras e mercados fecharam, a exportação é difícil e, quem tem pequenas explorações, tem cada vez mais dificuldade em escoar os produtos. Na Póvoa, uma das principais regiões hortícolas do país, a pandemia do novo coronavírus deixou muitos “em sérias dificuldades”.
“Os pequenos produtores são os que estão a sofrer mais. Na prática, não veio nada de ajudas. É tudo para pagar depois, a prestações. É só incentivos ao endividamento! Se não conseguimos pagar quando a dívida é pequena, quando for grande nunca vamos conseguir”, explica.
Na primeira semana da crise, conta, a procura de hortícolas até cresceu, com alguma “corrida” às compras, mas depois vieram os impactos do fecho da restauração e das cantinas das escolas, o fim das feiras semanais ao ar livre, as restrições nos mercados – que, por exemplo, na Póvoa, só está a funcionar três dias por semana e com horário reduzido – e a retração na exportação (que tinha a França e a Espanha à cabeça).
“Sou dos que depende muito desse escoamento e estou a sofrer um bocado”, admite. Entre os 600 associados, diz, muitos continuam a vender para grossista no Mercado Abastecedor do Porto. Poucos chegam às grandes superfícies, “muito por falta de dimensão”. São, na sua maioria, agricultores familiares. Entre as mulheres ainda houve quem conseguisse ir para casa para apoio a filhos menores, assegurando, assim, algum rendimento, numa altura em que a terra está longe de ser garante de sustento. E, na beira da estrada, são, agora, cada vez mais a vender.
“Por exemplo, veja o caso das alfaces: nos restaurantes e nas cantinas, coma ou não, há sempre salada no prato. Em casa, as pessoas já não fazem. Já tive que destruir alface que não conseguia vender”, admite. Agora, continua a contar, cultivar é um tiro no escuro. “O tomate está cinco ou seis meses em terra. E se não vendemos? E se a restauração não abre? E se a exportação não é retomada?”, questiona.
A Horpozim já tinha proposto medidas para a pequena produção. A isenção nalgumas tarifas e o acesso ao gasóleo agrícola para transporte num raio de 40 ou 50 quilómetros para custear as deslocações para entregas em casa, por exemplo – eram duas delas. Mas, por agora, Manuel Silva ainda não vê luz ao fundo do túnel e, como ele, garante, estão milhares.
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