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Itália quer legalizar 650 migrantes ilegais para trabalharem nos campos e na assistência aos idosos

A ideia é contestada pela extrema-direita e pelo movimento Cinco Estrelas, mas um investigador explica que não vale a pena pensar que os desempregados italianos se vão dispor a ir apanhar laranjas

Itália vai atribuir licenças de trabalho a centenas de milhares de migrantes ilegais que se encontram no país e que têm sido, conforme o governo explica, essenciais para dar assistência aos idosos e para garantir o fornecimento de géneros alimentares.

Com a interrupção do habitual fluxo sazonal de cidadãos do leste da Europa para trabalhar nas colheitas, a solução será recorrer a migrantes que já se encontram no país – africanos, indianos e paquistaneses, entre outros. Além dos trabalhadores agrícolas, haverá cerca de 100 mil migrantes que dão normalmente assistência a pessoas em suas casas mas que, atualmente, por terem perdido os empregos durante o confinamento estrito imposto no país, se encontram ilegais. Ao todo, estão em causa 650 mil pessoas.

O plano agora apresentado é contestado por políticos de extrema-direita (Matteo Salvini diz que a prioridade neste momento não é legalizar imigrantes clandestinos). A associação dos agricultores italianos também diz preferir o esquema, adotado pelo Reino Unido e por outros países europeus, de organizar transporte aéreo para ir buscar os trabalhadores sazonais ao leste da Europa.

Depender dos italianos? Não vale a pena

Quem apresentou a proposta foi Teresa Bellanova, a ministra da Agricultura, e a sua história pessoal talvez ajude a explicar porquê. Aos 14 anos, Bellanova deixou a escola para ir trabalhar no campo, tornando-se sindicalista ainda na adolescência. Se a sua iniciativa for recusada, ameaça demitir-se.

A ideia é a de atribuir licenças de trabalho válidas por seis meses e renováveis. O ministro para o sul de Itália, Peppe Provenzano, citado pelo “The Times” explicou: “A comida nas nossas mesas vem desses campos. Agora temos de conceder esses direitos que têm sido negados a quem trabalha neles”.

O movimento Cinco Estrelas, que integra a coligação governamental, diz que se deve dar antes aos desempregados italianos a oportunidade de ir trabalhar nas colheitas, mas um investigador também citado pelo “The Times”, o especialista em migrações Matteo Villa, sugeriu que não vale a pena: “Os italianos preferem continuar desempregados a ir apanhar laranjas”.


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