João Paulo Fernandes

Três anos desperdiçados que pagaremos mais tarde ou mais cedo se… – João Paulo Fernandes

Como se vai pagar a protecção e reforma da floresta? Muito simples: remunerando não apenas a produção, mas também os serviços que a floresta nos disponibiliza de acordo com os seus beneficiários.

 

Os incêndios de Pedrógão e Caramulo foram há três anos. Nesse ano perdemos mais de 100 vidas e cerca de 563 000 ha de floresta e matos. Perderam-se também inúmeras habitações, infraestruturas e, principalmente, o sentimento de segurança e confiança nos locais onde se cresceu e se  vivia e relativamente aos quais se tinham ligações afectivas fortes e determinantes do sentido de identidade de todos os afectados.

Passados esses três anos o que mudou? Para além de mais uns larguíssimos milhões em meios de combate, obrigaram-se centenas de milhares de proprietários a fazer, sob pena de pesadas multas e coimas, uma limpeza de matos e vegetação na envolvente das zonas construídas. Limpeza conduzida sem qualquer apoio ou informação técnica e que determinou ( e determina), não só a destruição cega de toda a vegetação, independentemente do seu valor económico ou biológico, como a necessidade dos proprietários afectados terem custos que a maioria não pode suportar já que a floresta não lhes dá quaisquer rendimentos. Curiosamente as administrações centrais e locais têm-se furtado a essa limpeza (por exemplo ao longo das Estradas Nacionais, sem por isso terem sofrido qualquer multa ou coima).

Mas indo ao que interessa: o que é que se poderia e devia ter feito ou, pelo menos, começado a fazer?

Tem de se começar por encarar de frente os problemas com que nos confrontamos:

  • A floresta portuguesa é esmagadoramente privada, dividida em minifúndios ou mesmo microfúndios (conheço casos de famílias que possuem 1000 m2 e que, na próxima geração, se subdividirão em parcelas de 200 m2 e que, pelo menos há duas gerações nem sabem a localização dessa parcela).
  • O interior do país está cada vez mais desertificado em termos humanos, havendo cada vez menos pessoas que possam gerir adequadamente as suas parcelas (mesmo se elas fossem economicamente rentáveis)
  • Com excepção do eucalipto (se for bem conduzido com as práticas silvícolas adequadas) e muito pontualmente de algumas outras espécies, nenhuma espécie arbórea é economicamente rentável (o pinheiro deixou de o ser quando a resina deixou de ter valor).
  • A progressiva destruição de cada vez maiores áreas florestais e de matos tem conduzido a um aumento exponencial das áreas cujos solos foram erodidos e arrastados para as zonas baixas assoreando as linhas de água e, conjuntamente com a menor infiltração e velocidade do escoamento, a cheias cada vez mais frequentes e destruidoras. Basta recordarmos o que aconteceu no Baixo Mondego há apenas meia dúzia de meses.

Poder-se-ia referir muitos mais, mas não é esse o objectivo desta reflexão, mas pensar no que fazer.

Quando se discute o problema da gestão das áreas florestais as questões centrais são quem vai gerir, dada a total dispersão dos proprietários e, mais determinantemente, como é que se vai pagar essa gestão se muito poucas espécies são minimamente rentáveis?

 


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