As causas da desertificação em Portugal estão por um lado relacionadas com fatores climáticos e por outro lado com as atividades humanas, nomeadamente a sobre exploração da água e dos solos na agricultura, o abate descontrolado de árvores, o uso excessivo de produtos agroquímicos e políticas e ordenamento do território deficientes.
Também a ocorrência frequente nos meses de verão de incêndios de grande dimensão, em Portugal tem contribuído para a degradação do solo.
Em termos climáticos tem-se verificado em Portugal continental decréscimo dos valores anuais, cerca de -20 mm/década, tendo os últimos 20 anos sido particularmente pouco chuvosos em Portugal Continental (Figura 1).
De referir que 6 dos 10 anos mais secos ocorreram depois de 2000, incluindo o ano de 2005, o mais seco desde 1931, e o ano de 2007 o 2º mais seco. A redução nos valores de precipitação verificou-se em todas as estações do ano, com exceção do outono. Esta redução foi significativa na primavera. Por outro lado, é importante realçar que o contributo dos dias de precipitação intensa para o total de precipitação tem vindo a aumentar, sobretudo no outono e na região Sul. A intensidade e frequência de eventos de precipitação extrema tem vindo a aumentar.
Situações de seca em Portugal Continental
O IPMA monitoriza em Portugal Continental as situações de seca que ocorrem no território, sendo esta monitorização efetuada com base nos índices PDSI (Palmer Drought Severity Index) e SPI (Standard Precipitation Index): http://www.ipma.pt/pt/oclima/observatorio.secas/
Séries mensais do índice de seca PDSI revelam que os episódios de seca foram mais frequentes e mais severos desde a década de 1980. Igualmente a análise da evolução por décadas (entre 1961 e 2000) da distribuição do índice PDSI em Portugal Continental permite concluir que nas duas últimas décadas do século XX, se verificou uma intensificação da frequência de secas, em particular nos meses de Fevereiro a Abril.
A maior frequência de situações de seca meteorológica que se verifica em Portugal Continental nas últimas décadas é indicativo de um aumento do risco e da vulnerabilidade a este fenómeno, o que poderá obviamente trazer um aumento dos impactos, nomeadamente, ao nível dos sectores agrícola e hidrológico e necessariamente social.
Na figura 2 apresenta-se a percentagem do território de Portugal Continental nas classes de seca severa e extrema do índice PDSI. A análise desde 1941 até 2019 revela episódios de seca entre 1944 e 1945 e entre 1948 e 1949 e mais recentemente entre 2004 e 2005, entre 2011 e 2012 e nos últimos anos 2017 a 2019.
Verifica-se que nos anos mais recentes tem havido uma maior frequência destes episódios e alguns deles têm-se prolongado por mais de um período húmido (Outono e Inverno) e seco (Primavera e Verão) e também têm abrangido uma maior percentagem do território.
Nos anos mais secos desde 1941, verifica-se que no final do período seco de 1945, 56% do território esteve em situação de seca severa e 24% em seca extrema. A partir de 1980 já se registaram nove situações em que mais de 10% do território estava em situação de seca extrema e quatro em que mais de 75% de Portugal continental estava em seca moderada ou severa.
A seca de 2004/2006 foi a mais intensa (meses consecutivos em seca severa e extrema) em termos de extensão territorial dos últimos 80 anos. No entanto nas secas de 2011/2012 e 2017/2018 também se verificou que quase todo o território esteve nas classes de seca severa e extrema do índice PDSI.
A seca de 2017/2018 foi igualmente uma situação que abrangeu todo o território e com impactos significativos em diversos setores. Neste período destaca-se:
• Ano hidrológico 2016/17 o 9º mais seco desde 1931 e o semestre seco (período de abril a setembro 2017) extremamente quente e extremamente seco;
• Conjugação de valores de precipitação muito inferiores ao normal e valores de temperatura muito acima do normal, em particular da temperatura máxima, o que teve como consequência a ocorrência de valores altos de evapotranspiração e valores significativos de défice de humidade do solo;
• O período, de abril a novembro, foi o mais seco desde 1931 (precipitação cerca de 30% do normal) e no final de outubro e novembro, a situação de seca em comparação com situações anteriores era a que apresentava maior percentagem de território nas classes de seca severa e extrema (97 % do território);
• Esta seca foi distinta das anteriores pois as classes de maior severidade iniciaram-se mais tarde (final de junho), verificando-se um agravamento significativo no outono, enquanto nas situações anteriores se verificou um forte desagravamento das classes de seca severa e extrema entre setembro e outubro;
• No final de novembro 2017 era a única situação de seca que tinha quase todo o território (97 %) nas classes de maior severidade (Figura 3);
• Esta seca manteve-se até ao final de fevereiro de 2018, terminando em março 2018.
Cenários Futuros
A redução nos valores de precipitação verificou-se em todas as estações do ano, com exceção do outono. Por outro lado, é importante realçar que o contributo dos dias de precipitação intensa para o total de precipitação tem vindo a aumentar, sobretudo no outono e na região Sul. A intensidade e frequência de eventos de precipitação extrema têm vindo a aumentar.
Relativamente à precipitação os cenários apontam para diminuição da precipitação em Portugal continental (Figura 4), cerca de 5 % (RCP4.5) a 15% (RCP 8.5), com fortes contrastes espaciais de diminuição percentual no caso do RCP 8.5: Norte, 5 a 15 %; Centro, 10 a 20 %; e Sul, 15 a 30 % (Fonte: Portal do Clima http://portaldoclima.pt/pt/).
Imagens associadas