Os agricultores estão a contestar a proibição decretada pelo Governo, que impede todos os trabalhos rurais até às 24 horas de terça-feira, para reduzir o risco de incêndio. Os produtores alertam que já há produtos depreciáveis que estão em risco.
Melão, tomate e uva. São três dos produtos agrícolas que podem apodrecer se não forem colhidos a tempo. O alerta parte de José Eduardo Gonçalves, agricultor da zona de Elvas e dirigente associativo.
“Já começou a campanha da uva que é colhida à máquina, nomeadamente nos concelhos do Redondo e Vidigueira”, exemplifica, revelando que alguns agricultores já receberam ordem parar a atividade por parte das autoridades.
Situações semelhantes já aconteceram esta segunda-feira com a colheita mecânica do tomate no Ribatejo e com o melão na zona de Elvas. “São produtos que, se não se colhem hoje, amanhã estragam-se. São produtos depreciáveis que têm de ser colhidos a tempo”, insiste o dirigente, alertando que também os tratamentos fitossanitários que deviam estar a ser feitos nos pomares, olivais e amendoais estão suspensos.
“São atividades que precisam de água e que não podem parar”, insiste José Eduardo Gonçalves, enquanto recorre à previsão do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, que aponta para dias de calor, pelo menos, até final da semana – com temperaturas a rondar os 40 graus Celsius – para admitir ter receio que o Governo prolongue as restrições por mais dias.
“Isto é uma coisa impensável”, lamenta o agricultor. “É de pessoas que eu respeito, porque são ministros deste país, mas que não têm noção do que é agricultura”, sublinha. O dirigente assume que “a agricultura tem alguns equipamentos que podem causar incêndios e que devem estar proibidos, mas há outras atividades na agricultura que não podem parar”, ressalva.
As únicas exceções que habilitam o uso de máquinas nos campos agrícolas são o apoio ao combate a eventuais incêndios e fornecimento de comida aos animais. Porém, já não está previsto o uso de autotanques para transporte de água que garante o abeberamento do gado, alertando os produtores que esta será a prioridade face ao intenso calor.
“Nesta altura é mais importante os animais beberem água do que comerem”, conclui José Eduardo Gonçalves.